A armadilha de Maia

27/05/2019 12:00

O Brasil é realmente ingovernável? Esta talvez tenha sido a grande dúvida da semana. Bolsonaro deu isto a entender. Estaria ele com razão? Ou seria a impossibilidade de governar nos moldes que Bolsonaro entende como ideais e isto fica patente como obstáculo à governabilidade? Esta última alternativa acredito ser a mais real.

Após o término do regime militar, o presidencialismo foi o de coalizão,  com os partidos da base dividindo cargos e ministérios de acordo com o tamanho da bancada de cada um. Para governar, o presidente tinha que costurar uma base aliada contemplando partidos de ideologias muitas vezes difusas do partido do governo, mas com os mesmos interesses fisiológicos. 

E no início do mandato do atual presidente, este toma lá dá cá, não aconteceu. O choque da velha política a este novo ordenamento, leva-nos a vivenciar o atual quadro de coisas, onde os ataques ao governo são diuturnos e pesados, por ferirem expectativas e vontades.

O que querem estes atacantes, aguerridos em minar o governo? Respondo: um parlamentarismo branco, hegemônico, onde o legislativo seja plenipotenciário e o executivo tenha um papel apenas representativo. Sonho dourado de Rodrigo Maia. Mas afirmo, se isto chegar a acontecer será desastroso para o País. Estaremos trocando 6 por meia dúzia, os seis da era PT, por meia dúzia de uma nova era do centrão, com o aparelhamento e esbulho do Estado apenas trocando de mãos. 

Estrategicamente, Maia só tem feito "morder e assoprar". Incrivelmente, faz isto com maestria. Mas afirmo, se esta estratégia funcionar, isto nos conduzirá a um caminho sem volta. Quando os mal intencionados dizem que Bolsonaro não sabe governar, leia-se: os interesses maculados com as indicações de nomes de militares e de técnicos, fez aflorar uma cretinice condenável do legislativo. 

As reformas passarão sim; não por vontade do legislativo, mas sim, por não haver alternativa. A esquerda pode espernear à vontade (não vai a lugar algum) e os fisiológicos do centrão, votarão contra vontade, mas votarão a favor. Bolsonaro não pode abrandar o discurso; vale lembrar que ofereceu 40 milhões em emendas parlamentares aos que votarem favoravelmente à reforma da previdência. Não seria de bom alvitre aumentar esta oferta, já que é público e notório que se der a eles um dedo, pedirão a mão, se der a mão pedirão um braço e por aí vai.

Para os deslumbrados que pedem intervenção militar, com fechamento do congresso e do supremo digo: segurem a onda, não é o momento e tampouco sei se chegaremos a este momento. Questionar a democracia é válido; penso que a evolução e o aprimoramento são condições inerentes ao poder, mas querer mudar o regime de governo é outra história; autoritarismo e ditadura, não se deve por prudência, dar-lhes espaço presentemente. 

Falar-se em parlamentarismo branco hegemônico é o mesmo que falar-se em autoritarismo.

E admitir que um parlamentarismo branco, se acontecer, seria bom para o Brasil é de um engano imenso e só servirá para contemplar egos (já bastante aviltados) de deputados e senadores. Não se enganem, não há nada de bom nesta vontade de Maia.

Últimas