A caminho de fechar Guantánamo, Biden transfere prisioneiro para Marrocos
O governo Biden deu um passo em direção ao seu objetivo de fechar o centro de detenção da base americana na Baía de Guantánamo em Cuba, nesta segunda-feira, 19, ao liberar sob custódia de seu país natal um marroquino que estava detido há quase 19 anos.
Abdul Latif Nasir, de 56 anos, foi repatriado para o Marrocos, onde chegou nesta segunda-feira. A polícia local o prendeu e disse que iria investigá-lo sob suspeita de cometer atos terroristas – embora ele nunca tenha sido acusado durante o período que permaneceu em Guantánamo.
Nasir foi liberado em 2016 durante o governo Obama, mas a chegada de Trump ao poder impediu sua saída. Seu advogado, Khalil Idrissi, disse que os anos passados em Guantánamo foram injustificados e fora da lei. “O que ele sofreu continua sendo uma mancha de desgraça na testa do sistema americano”, afirmou.
Com a devolução de Nasir, a população carcerária da Baía de Guantánamo foi reduzida a 39 pessoas. A maioria está detida há quase duas décadas, sem acusação ou julgamento.
Um alto funcionário do governo dos EUA, falando sob condição de anonimato, disse que dos detidos restantes na prisão, 10 já são elegíveis para transferência.
Excessos
Instalada para abrigar suspeitos estrangeiros após os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, a prisão atingiu o pico de cerca de 800 presidiários. Os métodos de interrogatório utilizados no local se tornaram símbolo dos excessos da guerra ao terror.
Enquanto o ex-presidente Donald Trump manteve a prisão aberta durante seus quatro anos na Casa Branca, Biden disse que iria fechá-la, uma promessa que a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, reiterou nesta segunda-feira.
“A administração (Biden) se dedica a seguir um processo deliberado e completo voltado para a redução responsável da população detida nas instalações de Guantánamo, ao mesmo tempo em que protege a segurança dos Estados Unidos e de seus aliados”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, em um comunicado.
Grupos de direitos humanos receberam bem a mudança, mas disseram que mais ainda precisava ser feito.
“O governo Biden precisa negociar e implementar decisões semelhantes com urgência para outros prisioneiros liberados”, disse Hina Shamsi, diretora do projeto de segurança nacional da American Civil Liberties Union. “Pôr fim a duas décadas de detenção militar injusta e abusiva de homens muçulmanos em Guantánamo é uma obrigação de direitos humanos e uma necessidade de segurança nacional”, afirmou.
Redução responsável
O governo Biden lançou em fevereiro um estudo sobre como fechar a prisão. Um alto funcionário disse, nesta segunda-feira, que Biden “está dedicado” a transferir os prisioneiros e, em última instância, fechar as instalações.
Dos 39 detidos restantes, “10 são elegíveis para transferência, 17 são elegíveis para conselhos de revisão periódica, 10 estão envolvidos no processo de comissão militar e dois foram condenados”, disse outro alto funcionário de Biden.
O governo federal é proibido por lei de transferir quaisquer presos para prisões no continente americano. Mesmo com os democratas controlando o Congresso agora, Biden tem maioria tão pequena que seria necessário lutar para garantir mudanças legislativas porque alguns democratas também podem se opor a elas.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse no mês passado que o governo estava ativamente procurando recriar a posição de um enviado do Departamento de Estado para o fechamento da prisão na base naval da Baía. (Com agências internacionais)