A circunspecção e o violáceo

05/mar 08:00
Por Fernando Costa

Ao mesmo tempo em que o lilás e o roxo me parecem tristes, eles refletem circunspecção e uma viagem ao interior de nossas almas. Gosto das quaresmeiras e dos jardins repletos em agapantos. As soleiras adornadas em violetas e amores perfeitos, as montanhas e jardins repletos desse purpúreo violáceo que misturados ao verde em diversos matizes enfeitam os olhos e nos convidam a um exame de consciência. Quarenta dias de preparação  para a Páscoa, festa maior que celebra a vitória da vida sobre a morte.

O Sumo Pontífice Papa Francisco nos aconselha a eliminar a ira, a injustiça, maledicência, arrogância, preconceito, discriminação, empáfia e demais sentimentos de maldade e rancor porque eles nos distanciam do Criador. Na homilia proclamada por SS. Ele afirmou que  – “a Palavra de Deus, no início do caminho quaresmal, faz à Igreja e a cada um de nós dois convites: O primeiro é o de São Paulo: Deixai-vos reconciliar com Deus”. 

O pedido do apóstolo “não é simplesmente um bom conselho paterno e nem uma sugestão. É uma verdadeira e própria súplica em nome de Cristo.” Por isso, o Apóstolo não nos diz para fazer alguma coisa, mas para nos deixar reconciliar com Deus, permitir que Ele nos perdoe, com confiança, porque Deus é maior que o nosso coração”.   

Seria em vão  nos abstermos de carne se nossa consciência sinalizasse que estamos em estado de pecado. Jejum por tradição pouco adianta. Cultuemos o Sagrado, mas, um sacrifício de louvor, adoração, reflexão e inflexão. Deus é amor. Criou a humanidade, centelha Divina, formada de trilhões de células e átomos e nem sempre tomamos consciência desse amor. Um privilégio. Da obra  do Pai Celeste somos a principal, portanto, preciosa e rara. Pena que nós em especial as autoridades, com ressalvas, permitimos que essas partículas  nascidas do Criador se vejam jogadas na sarjeta, sob pontes e marquises, em meio à fétida lama, sem perspectiva, sonhos ou esperança. Vivem porque nem a impiedade e a crueldade são capazes de lhes tirar o sopro da vida. A eles foram negadas a dignidade e o direito natural. Esse jejum não adianta. Antes de abdicarmos da carne, sejamos solidários.

Reclamar dos governantes quando não fazemos nossa parte, furando a fila, levando vantagem bem ao estilo “faça o que eu mando” ou “sabe com quem está falando?”, com o fito de inibir, humilhar e aviltar o semelhante não nos engrandece como pessoas dignas. Vivemos a quaresma: penitência e perdão. E neste diapasão voltemos o olhar para a agonizante natureza que ainda assim resiste ao desmatamento, incêndios, corte e venda ilegal de madeira, contaminação da água e envenenamento dos hortifrutigranjeiros… Não importa aos que inunde de agrotóxicos, o importante é que obtenham frutos e hortaliças coloridas para iludir o consumidor e em consequência lhe causar doenças e intoxicação.

Sejam reservados momentos de exame de consciência entre os políticos e mandatários, abolindo os furtos, sonegação e  excessivo lucro. Para quê cuidar da silhueta física se a alma está impregnada de impurezas mais graves do que a gasolina e o álcool que encontramos espalhados aqui e alhures?  Não conhecem a palavra honradez. Salta à memória o ensinamento Bíblico que pontifica ser “mais fácil um camelo passar em uma agulha…” É uma linguagem figurada. (MT 19,24).

Que o Período Quaresmal seja um divisor de águas a nos libertar da omissão e da transgressão e abra um largo espaço de amor entre os povos de todos os continentes.

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