A Conferência do Clima e o teatro de Dubai

03/12/2023 08:00
Por Aldo Rebelo

A 28ª Conferência de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU), que acontece entre 30 de novembro e 12 de dezembro em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, registrará mais uma vez a desigualdade entre as nações quando se trata de atribuir responsabilidades e obrigações na agenda mundial do meio ambiente.

Uma das ironias do encontro é que o país anfitrião é um dos líderes mundiais na produção de petróleo e detentor de grandes reservas de combustíveis fósseis, vilão número um nas emissões de gases de efeito estufa. A outra, é que fica em Dubai a sede da Agência Internacional de Energia Renovável (IRINA), a presumível encarregada de encontrar a alternativa à fonte de energia produzida pelo país onde tem sua sede.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que mede o aquecimento global, assegura que a meta de elevação tolerável da temperatura é de 1,5ºC até 2050 em relação às temperaturas registradas na era pré-industrial.

O mais provável é que se reproduza em Dubai o mesmo teatro de ambiguidades que se viu no ano passado em Sharm el-Sheik, na Conferência do Egito, com os países ricos e desenvolvidos exibindo em público preocupação com o clima para efeito de publicidade, e nos bastidores cuidando da própria segurança energética com a ampliação do calendário para a produção e o consumo dos combustíveis fósseis.

A Amazônia brasileira ocupará mais uma vez o salão nobre da Conferência pela importância a ela atribuída no debate sobre o futuro do clima no planeta. Os protagonistas ricos do encontro e suas milionárias organizações não governamentais querem a Amazônia despovoada de brasileiros, destinada a reserva de recursos naturais – terras raras, minerais estratégicos, biodiversidade, água doce e florestas. Desocupada de brasileiros, a floresta e as terras da Amazônia podem ser convertidas em um valioso ativo no mercado de carbono para compensar as emissões de gases de efeito estufa do mundo desenvolvido. No caso da ocupação da Amazônia abrem uma exceção para a presença das populações indígenas, já que seu modo de vida dedicado à coleta e à caça não concorreria com o estilo de vida cheio de emissões de CO2 dos americanos no Norte e dos europeus.

O artigo 6º das resoluções da Conferência de Paris criou o mercado mundial de carbono até hoje aguardando regulamentação. O que temos hoje nesta matéria é a disputa entre grupos especuladores em busca da aquisição de áreas na Amazônia para a compensação das emissões de grandes empresas internacionais.

A delegação brasileira vai a Dubai para negociar em condições desvantajosas a renúncia ao desenvolvimento da Amazônia em troca de 30 moedas e da perpetuação da pobreza de 30 milhões de brasileiros que habitam a província mais rica do Brasil e do planeta. Foi-se o tempo em que as tribunas internacionais e a diplomacia dos países fortes se deparavam com um Brasil altruísta, pleno de orgulho nacional como na primeira Conferência do Meio Ambiente, em Estocolmo, na Suécia, em 1972, quando o embaixador-estadista João Augusto de Araújo Castro acusou as potências de buscarem o congelamento do poder mundial a pretexto da defesa do meio ambiente e defendeu o direito do Brasil e das demais nações ao pleno desenvolvimento.

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