A cortina futebol

01/07/2018 07:00

Há um ditado popular que diz que “gato escaldado tem medo de água fria”. Em virtude do que se viveu no período de outras copas, ficamos assim “com a pulga atrás da orelha”, porque nesses momentos em que o povo parece anestesiado com futebol e/ou carnaval, sempre vêm as medidas impopulares: aumento de passagem de ônibus, aumento  de impostos, são aprovadas leis que não beneficiam a população. Em outras palavras, nas épocas em que a atenção do povo está canalizada para as festividades de interesse da massa que se manifesta em catarse, é comum passar um bonde que não respeita os direitos humanos, não obedece aos sinais de democracia, nem da liberdade. Por isso temos que ficar “com um olho no gato e outro no peixe”. Orar e vigiar.

Por coincidência ou por obra do destino, no dia 26 de junho de 2018, terça-feira passada, mais uma vez, a Cinelândia, no Rio de Janeiro, testemunhou cenas de agressões. O jornal que se apresenta como de maior circulação no país, na página 11, colocou a notícia com o título: “Em meio a protestos, Câmara do Rio aprova taxação de inativos”. E, na matéria, escreveu: “A Polícia Militar usou armas de cano longo, spray de pimenta e bombas de gás para conter os servidores. Uma professora ficou ferida por bala de borracha e teve de ser operada. Outra foi ferida nos olhos por estilhaço de rojão.”

Na sessão citada da Câmara, 28 vereadores votaram a favor da lei que prevê a taxação dos aposentados e pensionistas vinculados à Prefeitura do Rio que ganham acima do teto do INSS, R$ 5.645,80. Votaram contra essa lei, 20 vereadores. Só que o referido jornal colocou, na primeira página, como foto central, o ex-jogador Maradona, “em transe”, por causa da vaga conquistada pela Argentina, na Copa da Rússia, para as oitavas de final. A chamada para a notícia dos “protestos e confrontos da PM com servidores” foi colocada no canto inferior esquerdo da mencionada página.

Exatamente no dia 26 de junho de 1968, há 50 anos, na mesma Cinelândia, houve uma grande concentração contra a falta de liberdade. A histórica passeata dos 100 mil reunia estudantes, artistas, intelectuais, representantes da Igreja Católica em um ato de repúdio contra a repressão policial aos protestos estudantis que ficaram marcados também por causa do assassinato do secundarista Edson Luís.

Ainda sob o embalo da euforia da Copa da Rússia, na segunda-feira, 25/06, a comissão da Câmara aprovou o texto-base que muda a lei dos agrotóxicos. Nítido sinal de retrocesso. Quando, no mundo, busca-se uma alimentação mais saudável, com uma produção agrícola que possa diminuir o uso de substâncias tóxicas, deparamos com esse projeto de lei que pretende liberar o emprego de pesticidas com características teratogênicas, capazes de provocar anomalias no útero, malformação no feto, além de ser cancerígenos. Dezoito deputados votaram a favor e nove foram contra.

 Esse assunto merece uma discussão maior no seio da sociedade, porque as consequências são graves. Teremos mais veneno nos alimentos. Por isso que esse projeto foi apelidado de “PL do Veneno”. A oposição a ele é grande: a Fiocruz, o Instituto Nacional do Câncer, a Defensoria Pública da União, o Greenpeace no Brasil, em suma, quem tem a consciência da importância de uma alimentação saudável para a saúde não pode ser a favor de um projeto como esse. O mal de Parkinson, o mal de Alzheimer também podem ser agravados pelo consumo de agrotóxicos. A sociedade precisa se mobilizar por se tratar de uma questão de saúde pública.

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