A democracia e a imprensa no centro do filme ‘O Debate’
Caio Blat é o primeiro a admitir: “Vou parar de importunar meus diretores. Vivia dando sugestões nos sets”. Consciente, ou inconscientemente, ele se preparava para o grande salto – tornar-se diretor.
Sua estreia no longa ocorre com O Debate. O filme entra em cartaz nesta quinta, 25. “Trabalhamos em regime de urgência. A ideia era estrear o filme ainda em agosto, coincidindo com o início da propaganda eleitoral, para tentar interferir no processo.” O Debate baseia-se na peça de Guel Arraes e Jorge Furtado, que assinam o roteiro. “O filme já estava sendo rodado e o roteiro mudava para que a gente pudesse incorporar falas e situações da vida real.”
PROCESSO ELEITORAL
Por vida real entenda-se o processo eleitoral. O filme se passa à sombra do último debate entre presidenciáveis.
O próprio Caio faz o mediador. Aparece num estúdio de TV, anunciando os blocos. Cada um deles corresponde a um momento na vida do casal interpretado por Débora Bloch e Paulo Betti. São jornalistas, ele começa o filme como chefe dela. A relação se desgasta. E embora o debate, propriamente dito, nunca apareça, ambos comentam o tempo todo os candidatos.
Pelas dicas, fica claro que são os dois que hoje polarizam a disputa. Na segunda, 22, Jair Bolsonaro iniciou a série de entrevistas do Jornal Nacional com os candidatos mais bem posicionados nas pesquisas. Nesta quinta, 25, quando o filme chegar às salas, será a vez do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O repórter destaca a coincidência. Caio o corrige: “Trabalhamos muito, e rapidamente, para chegar ao que você pensa que é coincidência. Não sabíamos as datas, a ordem das entrevistas nem quem iria participar, mas o conceito sempre foi fazer um filme que ajudasse na discussão de ideias e dos grandes problemas que estão afligindo o Brasil”.
BERGMAN
Uma boa maneira de definir O Debate é dizendo que o filme filtra O Mercado de Notícias, que Jorge Furtado realizou a partir da peça de Ben Jonson, e pelas Cenas de Um Casamento, de Ingmar Bergman. O papel da imprensa na democracia está no centro de tudo, permeando a discussão, mas a história é a do casal.
Caio destaca o que não é coincidência. “Quem conhece a obra de Bergman vai identificar, porque temos uma cena de diálogo do casal que homenageia o filme dele.”
Rodado e editado rapidamente, mas com muita preparação prévia, O Debate se ressentiu de algumas dificuldades. “Filmamos entre as variantes Delta e a Ômicron. Os atores inicialmente escolhidos positivaram na covid e foi preciso buscar outros”, Furtado assinala. “Felizmente, o Betti todo mundo sabe que é um ser político. A Débora entrou e surpreendeu a gente, porque já estava, como cidadã, preparada para toda essa discussão.”
ENSAIOS
Como é um filme com muitos planos-sequência, Caio ensaiou com o fotógrafo Gustavo Hadba ainda sem o elenco, com figurantes que sinalizavam as marcações de onde a câmera deveria estar.
O diretor faz um agradecimento especial a Guel Arraes. “No primeiro dia, filmamos uma cena que não estava dando certo. Ela truncava sempre na mesma hora. O Guel, que nesse dia estava com a gente no set, se deu conta de que a cena parava com o Paulo (Betti) de costas, e a gente podia cortar, dublando o som. Pode parecer pouco, mas foi muito importante. O filme fluiu a partir daí”, explica o diretor.
Guel e Furtado elogiam o ator que virou diretor. “O Caio fez um grande trabalho com os atores. Agora é esperar pela repercussão.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.