A derrota das vitórias

09/06/2016 11:40

A “Tribuna de Petrópolis” publicou no dia 19 de maio duas matérias sobre temas polêmicos e distintos: jogo do bicho e vitórias e seus cavalos. Solicito permissão, ao distinto leitor, para emitir minhas opiniões. Sobre o primeiro assunto, lamento que um idoso senhor tenha sido detido por anotar apostas do jogo do bicho. Vou completar 80 anos de idade e sei que se faz jogo do bicho, no Brasil, há bem mais tempo. Etelvino, meu saudoso avô paterno, não passava um só dia sem jogar. E, como se costuma dizer que a criança, por ser inocente, tem sorte em jogos de azar, vovô vivia a me pedir palpites. Eu ficava feliz, com os bolsos cheios de bombons, comprados com a comissão que recebia por ter dado o palpite certo. 

O jogo do bicho é o jogo do pobre. Eu sei que só quem banca é quem fica rico, mas oferece, também, uma oportunidade ao pobre para sair do sufoco, ou até para adquirir um bem que com o salário de um trabalho honesto, jamais conseguiria. Já escrevi, nesse espaço, que nossos cassinos foram fechados, por uma Lei estúpida, na época do Governo Dutra, desempregando muita gente, prejudicando o turismo e deixando de arrecadar imposto, dinheiro esse que bem poderia ser empregado na Saúde. 

A Caixa Econômica Federal explora o jogo e joga quem quer. Não é uma atividade obrigatória. Não aceito que tal jogo do bicho seja tratado como atividade fora da lei, assim como não entendo o porquê de que até hoje este tipo de jogo não tenha sido regularizado. Joga-se nos hipódromos, em corrida de cavalos, carteado e até roleta, por exemplo, em mansões e apartamentos de alto luxo na Avenida Vieira Souto, no Leblon, no Rio de Janeiro. Mas, o pobre senhor, possivelmente um aposentado que mal pode viver com o que recebe, foi detido por, possivelmente, não ter tido propina para dar a quem o deteve, livrando-o do flagrante.

Passando do jogo aos cavalos, temos que combater o mau uso dos animais nas Vitórias de Petrópolis. Porém, você que é contra a exploração do cavalo, me responda: como acredita que nosso Imperador, Dom Pedro II, viajava do Rio para Petrópolis? Será que vinha pela Única, ou pela Fácil? Ou viajava em charretes, diligências, e afins, puxadas por animais? Entretanto, cuidava-se dos burros, ou dos cavalos, trocando as parelhas, de tantos em tantos quilômetros, para preservá-los humanitariamente. Será que você cuida bem de um cavalo em sua casa, como um bichinho de estimação, como cuida de seu cachorro? É histórico que, em todo o mundo o cavalo sempre foi e continua a ser usado como meio de transporte, ou até, quando de boa raça, para se apostar nele, em corridas nos mais diversos hipódromos. As charretes puxadas por cavalos, por exemplo, é tradição na cidade de New York. 

A diferença está na raça especial do cavalo que é usado para esse tipo de trabalho por lá e no bom trato que ele recebe. Além dos cuidados necessários, os animais obedecem a um revezamento diário para descansar. Comparar os cavalos norte-americanos com os cavalos petropolitanos é um absurdo sem igual. O que fazer com as charretes, ou Vitórias que, como todos sabem, fazem tradição do turismo de nossa Cidade e empregam quem as conduzem? Motorizá-las, descaracterizando-as? O que se deve exigir é que a fiscalização sobre o perfeito tratamento aos animais, seja feita com todo o rigor, sendo duramente penalizado o proprietário do cavalo, vítima de maus tratos. É importante e até humanitário, termos fiscais eficientes para fiscalizar o bom uso desses animais, tanto quanto temos para fiscalizar e deter um pobre senhor aposentado que, como bico para viver, anotava apostas do jogo do bicho. 


Últimas