A dor das árvores

26/09/2021 08:00
Por Ataualpa Filho

Todos sabem que árvore não nasce em chapa de fast-food para atender a velocidade do desejo dos clientes. A natureza nos obriga a pensar sobre a importância do tempo na sedimentação da vida. Quando se corta uma árvore centenária, outra não é reposta simultaneamente, por isso que o desmatamento vai além das interferências climáticas, do desequilíbrio do ecossistema, pois é também responsável pelo risco de extinção de algumas espécies vegetais. Para citar um exemplo, menciono aqui o Pau-brasil que, desde o início da colonização do país, vem sendo explorado, por isso está na lista das árvores que correm o risco de extinção. Nessa listagem, encontram-se também: Castanheira-do-Brasil, Braúna, Cedro-rosa, Araucária, Mogno, Jequitibá-rosa, Pau-amarelo, Ipê-peroba, Bicuíba, Canela-sassafrás, Imbuia…

Em função do desmatamento e do comércio ilegal de madeira, 2.113 árvores estão na Lista Oficial das Espécies da Flora Ameaçada de Extinção (Portaria 443/2014). Para muitos, isso representa nada, ou seja, não estão preocupados com esse problema, uma vez que não se sentem afetados pela extinção de uma árvore no meio de uma floresta.

A consciência ambiental é fruto da compreensão de mundo em função da vida e não do vil metal. Não estamos aqui para viver pelo acúmulo de capital. A obsessão pela riqueza material é uma consequência do empobrecimento do humano no ser. A ausência da sensibilidade social é uma lesão grave, pois a pessoa vive em torno do umbigo e não reconhece o direito dos outros seres viventes.

É importante ressaltar a questão das queimadas e do comércio ilegal de madeira que também atende ao mercado exterior. Pelo valor comercial, várias árvores são cortadas e não há preocupação com o reflorestamento. Em outras palavras: entram nas florestas, cortam as árvores que desejam e vendem ilegalmente. Nas queimadas, as lesões são maiores, pois transformam em cinzas até os animais.

O que choca é a irracionalidade desse processo que não mede as consequências do desequilíbrio do ecossistema. Todos sabem que a indústria moveleira precisa de madeira para a confecção de móveis, que a construção civil também precisa de madeira, porém existem formas racionais para atender ao mercado sem agredir severamente a natureza.

Sou filho de marceneiro, nasci na maravalha. Eu a usava para acender o fogo no ferro de passar que minha mãe usava para engomar roupa. Também a usava para acender o fogo e assar castanhas de caju. Tenho o cheiro do cedro nas minhas narinas. Vi prego entortando em pequiá. São as vísceras infantis que impulsionam a nossa consciência. Esse respeito pela natureza é de quem conhece as limitações da aridez do sertão. O barulho de uma serra elétrica na mata aterroriza.

Não estou aqui pelo discurso do politicamente correto, mas pela necessidade de expor as consequências provenientes do mal-uso dos recursos naturais. As opções pelo plástico, pelo vidro, alumínio, aglomerados, mdf (MediumDensityFiberboard), reaproveitamento do material de demolição têm diminuído o consumo de madeira.  Contudo, ainda vivemos um período crítico, porque não há uma fiscalização adequada na extração, nem na comercialização das nossas riquezas naturais.

Outro ponto que merece atenção está relacionado àquele cidadão que usa a serra elétrica no meio da mata: exerce um trabalho em condições precárias. Presta um serviço a um mercado ilegal que não o ampara. Em síntese, além da ilegalidade da extração, da comercialização, há também o emprego de uma mão de obra sem arcar com as determinações trabalhistas. A solução desse problema torna-se mais difícil, porque há um respaldo político que inibe as fiscalizações. A minha preocupação está relacionada às consequências desse desequilíbrio na vida da população mais carente, porque é ela que sofre nas filas dos hospitais, quando surgem as epidemias. Precisamos unir a nossa força, a nossa voz em defesa da Mãe natureza.

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