A falta de ocitocina

06/10/2019 08:00

Tenho aprendido muito nas letras e na vida. Nessa caminhada, tenho visto, à beira das estradas, os estragos da solidão. As sequelas, às vezes, são irreversíveis.  Basta citar o fato de que, no mês passado, a sociedade foi alertada sobre a problemática do suicídio. Os números estatísticos revelam uma situação preocupante, por isso que a mobilização da campanha “Setembro Amarelo” focou-se principalmente no trabalho educacional, uma vez que nove em cada dez mortes por suicídio podem ser evitadas, segundo Organização Mundial da Saúde (OMS). 

No Brasil, uma média de 32 pessoas se suicidam diariamente. Se olharmos para a questão mundial, os números são mais alarmantes: aproximadamente, a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio. Isso leva a concluir que 1 milhão de pessoas se matam anualmente. Não estão incluídos aqui as tentativas de suicídios que também são frequentes e trazem sequelas físicas e/ou psicológicas sérias.

Nesse contexto, em que a violência cresce até mesmo em atos autodestrutivos, vejo a importância de pensar em gestos simples, eficazes, que contribuem para a consolidação de hábitos que refletem na saúde e no bem-estar de cada um de nós.

 Um simples abraço de 20 segundos, conforme estudos da Universidade da Carolina do Norte, pode fazer com que o cérebro receba mensagens de prazer e satisfação. E a partir disso, ele começa a liberar endorfina, ocitocina, dopamina e serotonina. Hormônios estes que provocam uma sensação de bem-estar capaz de regular os batimentos cardíacos.

A ocitocina é popularmente chamada de “hormônio do amor”, também conhecida como “hormônio do parto”, porque se manifesta na relação mãe e filho, estimula a liberação de leite materno. Uma pesquisa divulgada, em 2018, nos Estados Unidos, pelo Journal of the National Association of Neonatal Nurses, constatou que o contato pele a pele entre pais e bebês prematuros aumenta os níveis de ocitocina. Isso contribui para o desenvolvimento neurológico da criança, ou seja, os simples toques de afetividade entre a mãe e o bebê ajudam no tratamento. O êxito do método canguru, que consiste no contato contínuo pele a pele entre a mãe e a criança, serve para comprovar a importância da ocitocina na relação humana. Esse hormônio que atua na parte do afeto, também se manifesta nas atitudes altruístas, gerando bons sentimentos de confiança, respeito, segurança, além de contribuir para a estabilidade emocional.

Gosto de ler sobre essas constatações científicas, porque respaldam o desenvolvimento de um raciocínio lógico que, através do qual, é possível afirmar que o ser humano foi criado para amar e ser amado, para viver em harmonia com o seu semelhante. 

A saúde do corpo também depende das atitudes que praticamos. Quando se atesta a sanidade de alguém, os aspectos emocionais, psicológicos devem ser levados em consideração. Há muitos casos em que o corpo é são, mas a mente encontra-se em péssimo estado e o coração entulhado de ódio. A ira é prejudicial à saúde.

 A violência exposta nas ruas revela as chagas da sociedade. O grau da enfermidade é muito alto. Estamos vivendo um momento em que a insegurança vem contribuindo fortemente para o surgimento de síndrome do pânico, nas mais diversas faixas etárias.

Confesso que não sou muito afinado com o discurso de autoajuda. Mas é preciso constatar que as patologias sociais estão extremamente ligadas ao estado emocional de cada membro da sociedade. É preciso desarmar as mentes e os corações. As armas de fogo apenas materializam o que cada um carrega dentro de si. A natureza humana é da paz.

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