A festa profana

21/02/2020 15:40

O carnaval nasceu no Egito, tomou conta da Grécia e espalhou-se por Roma e desembarcou no Brasil no século XVII trazido pelos portugueses. Esta simbiose da tradição europeia com o ritmo e cadência musical africanos criou na Terra de Santa Cruz se não o maior, um dos maiores espetáculos populares do mundo. Já o futebol ganhou força no Brasil lá pelos idos de 1895 através dos ingleses e transformou-se numa espécie de símbolo pátrio. Ambas as manifestações populares, dão leve mostra do talento, criatividade e sensibilidade do povo. O Brasil é rico em folclore, isto é, “folk”, que significa povo, união, família e “lore” o conhecimento, a sabedoria popular. Eu também admiro a fuzarca de Momo. A bem da verdade o ano se inicia para todos os efeitos a partir da quarta-feira de cinzas, folguedo que nos acena à liturgia da Quaresma. Por mais estranho possa parecer a “festa da carne” mistura o sonho à realidade onde tudo é fantasia. Dias de brincadeira oportunidade em que o folião será a personagem de sua imaginação: rei, príncipe, cinderela, rainha ou pirata. Faz-se uma catarse e se liberta dos grilhões diários. E chuta para o alto o preconceito e convenções. A emoção se aflora e não importa se a escola é de primeiro grupo ou um simples bloco de sujo. Nesses dias parece se esquecer das contas a pagar. Se pelo menos o verbo amar for conjugado, os espíritos se mantiverem unidos e a intolerância um tema do passado terá valido a pena. Meu coração artista viaja pelo imaginário popular das pesquisas e figurinos, com único objetivo de ver nosso povo feliz, ainda que por tão poucos dias. Era uma alegria presenciar Petronilha, Lourdes ferrenhas baluartes da campeoníssima Escola de Samba Independentes de Petrópolis se debruçarem nos imensos vestidos, bordandoos, costurando-os e descendo a Rua Teresa radiantes e iluminadas. As Agremiações petropolitanas se esforçavam para abrilhantar o Sambódromo da Rua do Imperador. Já não existe. À ocasião muitos viajarão ou permanecerão em seus lares e outros tantos vaguearão pelas ruas em busca de um pouco de alegria e bálsamo a suas agruras do dia a dia. Resta-nos, silenciarmos e nos recolhermos. Assistiremos como de costume, pela TV. Relembraremos os bons tempos em que nossa família ia à Passarela do Samba onde tudo era alegria. A sociedade se reunia sem distinção de classe ou nacionalidade e realizava exibições nas pistas onde o esplendor predominava. Quem não se lembra das Grandes Sociedades a exemplo do Rancho do Amor, Harmonia Brasileira, Clubes Bogari e Cascatinha? À exceção do Petropolitano Futebol Clube na pessoa do Presidente Arnaldo Rippel Barbosa e Diretoria conseguiram fazer ressurgir os tradicionais bailes do Preto e Branco dentre outros. É verdade que atualmente, os arlequins, pierrots e colombinas já não passeiam nos salões, os confetes e serpentinas desbotaram-se, as fantasias já não têm o mesmo colorido, mas o que fazer? Ainda assim nosso sofrido povo merece a alegria, uma catarse a amenizar as dores e os calos das mãos. E qual um passe de mágica o povo disfarça seu lamento porque é carnaval! Que rufem os tambores, agogôs e os tamborins! Já estamos vivendo o clima da folia popular que, no Brasil assume proporções gigantescas somente comparadas “bola e a chuteira” paixões nacional. Que se emendem os retalhos de cetim e sequem-se as lágrimas, porque é preciso cantar “e, no entanto, é preciso cantar, é preciso cantar para alegrar a Cidade”. 

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