A força do poder econômico

04/02/2019 10:15

A selvageria do capitalismo tem como causa principal a obsessão pelo lucro. A exploração do meio ambiente e do próprio homem são justificadas pelos fatores econômicos. O aumento de capital é a razão de tudo. As consequências dessa obsessão estão evidentes na poluição do ar, rios e mares, no desmatamento, no desequilíbrio do ecossistema e na corrupção dos homens que se vendem.

O poder político, nesse sistema, fica subjugado ao econômico. E, no Brasil, as chamadas “doações de campanha” são as rédeas das manipulações. Essa submissão é nociva, porque naufraga a autonomia política na lama da corrupção. Cartéis financiam campanhas de políticos para que eles legislem com o propósito de atender a interesses da classe empresarial. E esta é uma outra face da demagogia: apresentam-se como representantes do povo; mas, na verdade, estão ali para defender uma aristocracia. 

 As ditas “doações de campanha” são ambidestras, estão na esquerda, na direita; passando pelo meio, contemplando os que se acham de centro-esquerda, centro-direita, do alto e do baixo clero.  

A tragédia de Brumadinho expôs a lama em que o nosso país está mergulhado. A falência da ética na política torna-se visível pelas atitudes desses que lesam a Pátria, causando calamidades públicas.

A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) foi criada em 1942, no governo de Getúlio Vargas, para explorar minas de ferro, tendo como principal acionista o Governo Federal, portanto, administrada como empresa estatal. Em 1997, foi privatizada, no governo de Fernando Henrique. E, após a privatização, passou a se chamar Vale S.A. Tiraram o “Rio Doce” do nome, e quase tiraram o rio Doce do mapa, com a tragédia de Mariana, que ainda não cicatrizou. A empresa responsável por tal tragédia foi multada, mas ainda não pagou as multas que recebeu e a cidade sofre as consequências do rompimento da barragem do Fundão.

 E, diante da comoção popular, por causa dos danos ambientais ocorridos pelo rompimento da citada barragem, foram criados projetos de lei que endurecem as sanções a infratores e que estabelecem fiscalizações mais rígidas sobre as mineradoras. Tais projetos nem saíram das gavetas. 

Agora estamos, mais uma vez, vendo a lama destruindo famílias e a população chocada e com uma dor profunda.  Tudo isso poderia ser evitado, se houvesse mais respeito à vida. Pela indignação, surge a pergunta: qual a próxima cidade a ser devastada?…

Segundo o ministro do Desenvolvimento, há 24.092 barragens cadastradas no país. Com urgência, 3.386 serão fiscalizadas, pois apresentam estruturas com dano potencial alto ou risco alto. 205 são barragens de rejeitos minerais. Esses números assustam, porque, a Agência Nacional de Mineração (ANM), responsável pela fiscalização, possui apenas 35 fiscais capacitados para atuar nas 790 barragens de minérios, ou seja, não há pessoal suficiente para realizar esse trabalho. 

 Estamos aqui, mais uma vez, rogando a Deus que nos proteja, pois não há como acreditar no que os gestores dizem. A população se sente mais confortada com o trabalho dos bombeiros, nadando na lama em busca dos corpos do que nas palavras dos gestores públicos. 

P.S: Circula, em tom profético, nas redes sociais, o poema de Carlos Drummond, publicado, em 1984, no Jornal Cometa Itabirano, com o título “Lira Itabirana”:  

“O Rio? É doce./ A Vale? Amarga./Ai, antes fosse/ Mais leve a carga./ Entre estatais/ E multinacionais,/ Quantos ais!/ A dívida interna./A dívida externa/A dívida eterna./ Quantas toneladas exportamos/ De ferro?/ Quantas lágrimas disfarçamos/ Sem berro?”

Últimas