A genialidade de Roberto Campos

20/04/2017 12:30

Defensor intransigente da livre iniciativa, frasista de mérito, Roberto Campos foi combativo e combatido. O seu livro “Lanterna na popa” fez grande sucesso e chegou a vender mais de 100 mil exemplares. Nele colocou a essência do seu pensamento liberal, que muitos consideravam “entreguista”.

Por isso mesmo, quando ele resolveu se candidatar à Academia Brasileira de Letras sofreu forte resistência. Foi derrotado nas duas primeiras tentativas. Tinha o apoio da escritora Rachel de Queiroz, minha madrinha, que me pediu que a ajudasse na tarefa de convencer os imortais. Acabou vencendo o 3º pleito, em 1999, com os 20 votos necessários.

Foi um acadêmico solidário. Quis ajudar a ABL a resolver os seus problemas econômicos, com a sua vasta experiência. Como presidente da Casa de Machado de Assis, aproveitei a brecha do pedido de demissão da diretoria de Evandro Lins e Silva, por motivos pessoais, e coloquei Roberto Campos como Secretário. Foi utilíssimo com suas ideias práticas e avançadas. Infelizmente, ficou pouco tempo entre nós, pois faleceu em 2001, sempre coerente na defesa da livre iniciativa. Foi dele a ideia de criação da estatal do petróleo, mas depois combateu vivamente a Petrobras, que chamava de Petrossauro. Era contra o monopólio da atividade, assim como combateu com veemência a reserva do mercado da informática, adotada em 1984 e que permaneceu até 1992. Escreveu que os defensores das iniciativas praticavam “um nacionalismo raivoso e incompetência treinada”. Mas, foi um diplomata brilhante.

Ao lado do economista Octávio Gouvêa de Bulhões, foi o responsável pelo Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), que organizou o Estado nos primeiros anos da ditadura militar. O Brasil alcançou um crescimento milagroso de 11% a.a., no período de 1967 a 1973, quando criou o fundo de participação de estados e municípios, implantou a correção monetária, o Banco Central, o Banco Nacional de Habitação, o FGTS etc. Sem dúvida, foi uma presença notável na economia do país.

Lembro de uma frase na sua posse, em 1999, na Academia Brasileira de Letras: “Hoje, 122 depois, continuamos despreparados para as secas e ainda se fala na indústria da seca, pois há enorme vazamento de recursos em benefício de intermediários, burocratas e políticos.” Como se vê, a ideia da corrupção vem de muito longe.

Pode-se ainda afirmar que não passou em branco pela presidência do BNDE (ano de 1995) sempre preocupado em não falhar como representante da sua geração.

Um homem assim preparado, não se furtaria a falar da importância da educação para o seu país. Lembro bem que, por iniciativa de Moacir Masson, homem de televisão (na época, TV Rio), fui intermediário de um convite para que debatesse com Carlos Lacerda, no programa “Eu, o júri”, as soluções viáveis para resolver as nossas questões educacionais. Dois homens de cultura extraordinária, imaginem o sucesso desse programa, que tive a honra de coordenar.

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