A gripe da vacina

25/07/2016 12:00

Meus pais me ensinaram que devemos respeitar os mais velhos. Levo esse ensinamento tão a sério que hoje tenho um ciclo de amigos com a idade acima de 70 anos. Por isso me sinto um privilegiado por ter a oportunidade de aprender profundas lições de vida. São experiências que não estão nos livros. Essa riqueza que a traça não corrói nos leva a encarar o tempo como uma fonte de aprendizagem.


A transmissão do conhecimento se torna fácil quando há uma predisposição entre as partes envolvidas. Nesse caso, o interesse do ser aprendiz geralmente sensibiliza quem tem a ensinar. Por isso, não perco a oportunidade de colher algo que possa contribuir para um crescimento interior. E assim, cultivo as amizades que me permitem ouvir histórias que me levam a refletir sobre o viver. Agradeço a todos esses amigos e amigas que me fazem entender que a vida é feita de laços. E, por meio destes, vencemos da solidão.

Nas últimas semanas, conversei com vários amigos, mas quase todos me falaram que andaram gripados, mesmo depois de terem tomado a vacina contra a gripe. Na terça-feira passada, liguei para um deles. Quem atendeu foi a filha. Falou que o pai não podia atender, pois estava sem voz. No domingo, falei com outro que também estava afônico. No sábado, estive com uma amiga e um amigo que também estavam no estado pós-gripe. E todos tomaram a tal vacina. Fiquei sem entender: – se a vacina é para evitar a gripe, por que eles estavam gripados? Alguma coisa está errada!

Mas não pense que, ao encontrar com essa minha galera, conversamos apenas sobre remédio, farmácia e doenças. Eles têm um senso de humor fantástico.

No início deste mês, recebi um convite para ir a uma festa de aniversário de um amigo que completou 80 anos no último dia 5. Fiz um malabarismo para estar presente. Cheguei ao salão de festa por volta das 20h20min, a banda já estava pronta para iniciar o baile. O aniversariante era um dos vocalistas. Escolhi uma mesa próxima a ela. Um pouco depois, chegou outro amigo que sentou ao meu lado. O sinal do whatsAppdo celular dele tocava insistentemente. Leu as mensagens do grupo da família e começou a rir. Depois me mostrou o que escreveram: “Algo inédito aconteceu em nossa família. Todos devem saber: o vovô acabou de sair de casa, às 20:15. Disse que ia a uma festa.”/ “O vovô vai pra balada na terça-feira?”/ “O que deu nele ?”/ “Ele disse que horas vai voltar?”…

Quando o aniversariante se atrevia a cantar “New York, New York” à Frank Sinatra, o amigo ligou o áudio do aplicativo e gravou o som da festa e mandou para o grupo. Os comentários foram mais engraçados ainda: “Bebeu!”/ “O que ele tá fazendo lá?!”/ “a vó sabe que ele tá na balada?!”…

Sou testemunha, ele não bebeu nada, saímos às 22:30, na sobriedade. Ele pegou um táxi para casa e eu segui a pé com a minha esposa. Não houve exagero algum.

No domingo (10/07), tive algumas horas de prosa com outro amigo que brevemente irá completar um século de vida. Falou-me com orgulho da sua trinetinha. Enquanto eu ouvia, pensava: – quando alguém da minha geração terá a oportunidade de ter nos braços uma trineta? 

No sábado (16/07), na esquina da 16 de Março com a Alencar Lima, parei para conversar com uma amiga professora, que já completou 80 anos. Senti orgulho por fazer parte ciclo de amizade dela. Vários ex-alunos pararam para cumprimentá-la com reverências. 

– As minhas amizades são a minha riqueza. Tive um feliz dia do Amigo! P.s: Uma das alunas mais assídua que tenho no CEJA completou 86 anos.

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