A imortalidade de Ulisses

22/02/2017 12:00

“Ulisses”, o histórico romance de James Joyce, com os seus 18 capítulos, é uma das obras literárias mais conhecidas da humanidade. No Brasil, a tradução do imortal Antonio Houaiss, colocando em língua portuguesa os 18 cantos da “Odisseia”, de Homero, tornou mais acessível esse importante trabalho. Mas, cá entre nós, o nosso povo tem mesmo orgulho é de outro Ulisses – o Guimarães – que se vivo fosse estaria agora comemorando os seus primeiros 100 anos de vida.

A democracia brasileira deve muito a Ulisses Guimarães. Não é à toa que ele foi chamado de “Senhor Diretas” ou “Senhor Palavras”, pois foram muitos os seus discursos que se tornaram históricos.  Quando morreu Tancredo Neves, por pouco ele não se tornou presidente da República.  Agora, estamos  comemorando os seus 100 anos (dia 6 de outubro).  Quis o destino, no entanto, que ele tivesse morrido antes, no dia 12 de outubro de 1992, no trágico desaparecimento do helicóptero em Angra dos Reis. Só o corpo de Ulisses não foi descoberto até hoje.

Tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente. Primeiro no convívio do PMDB/Rio, em especial quando Ulisses veio à Guanabara para prestigiar o lançamento da candidatura a Prefeito de César Maia. Foi um festão, na sede da Avenida Almirante Barroso. Prenúncio daquela grande vitória política.

Depois, em Brasília, quando fui procurado por Ulisses por motivo particular. Estava entregue aos afazeres do Conselho Federal de Educação quando toca o telefone e dizem que o Dr. Ulisses Guimarães queria falar comigo. Levei um susto e atendi. Era mesmo ele, perguntando se eu podia almoçar com ele no dia seguinte. Ficou de me apanhar na sede da Manchete e, pontualmente, às 13 horas, entrou com o seu carrão na gráfica da revista. Fui ao seu encontro, para espanto da redação, e nos dirigimos ao seu apartamento. Lá, encontramos D. Mora, muito simpática, e Ulisses deu instruções: “Sirva logo o almoço. O Niskier tem pressa!

O almoço foi só de nós três. O tema: vaga na Academia Brasileira de Letras. Ulisses foi direto ao assunto. Com a minha experiência na matéria, expliquei como as coisas se passavam e as naturais dificuldades, embora fosse inteiramente favorável à ideia. Dr. Ulisses tinha livros e era figura notável. Poderia perfeitamente integrar com brilho a Casa de Machado de Assis.

Combinamos algumas estratégias e ele me devolveu à sede do Conselho Federal de Educação. Não houve tempo para agir. O “Senhor Diretas”, ao lado do seu querido amigo Severo Gomes e das respectivas esposas, sofreu o desastre fatal em Angra dos Reis, perdendo a vida, para tristeza de nós todos.

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