A Necessidade coletiva
A esperança é abastecida pela fé. O milagre consiste na concretização do desejo que rompe a barreira do impossível. Viver sem esperança é abortar o sonho, é fechar a cortina do horizonte, no qual brilha o Sol da manhã.
Aprendi com Dom Helder Câmara que “O Deserto é Fértil”. Ariano Suassuna me fez constatar que vale a pena ser “realista esperançoso”. Mas foi a minha mãe que calibrou o grau da minha tolerância, quando me dizia: “o que não é pra sempre, sempre se aguenta”. Aprendi a tolerar, a esperar o momento certo para dizer o que penso.
“Desesperar jamais”, mesmo quando tudo possa parecer perdido. A luz do fim do túnel é esta que acende dentro de nós. Esperar que o outro faça aquilo que desejamos é transferir a responsabilidade do que temos que fazer. Não é possível construir um futuro sem calos nas mãos. Realmente é tolice o otimismo fantasioso. Pior é acreditar piamente nas promessas das campanhas políticas; as decepções são frequentes. Mas não é preciso puxar a cordinha com pretensões de descer do bonde deste mundo, achando que “tá tudo errado”. Vamos caminhar de mãos dadas que, além de unir forças, caminharemos desarmados.
Fazendo um balanço deste período eleitoral, encontrei um ponto positivo: por enquanto, a poluição visual tem sido menor. Diminuiu o número de placas e galhardetes. Os adesivos nos vidros dos carros também diminuíram.
Não tenho visto aqueles militantes sonhadores, idealistas que colocavam a vida em risco por uma ideologia revolucionária. Iam às ruas com sede de mudança. Citavam versos de Brecht e Maiakovski como se fossem versículos bíblicos.
Nesta pandemia, as redes sociais têm sido mais usadas para a veiculação de vídeos publicitários. Já não se encontram “coxias” e “mortadelas” circulando pela cidade como em outras épocas. A distribuindo de “santinhos” ainda está meio tímida. As caminhadas dos candidatos pelas ruas da cidade não têm o mesmo fluxo de outrora. A discussão sobre a plataforma dos candidatos a prefeito ainda não envolveu a população. Muitos dos munícipes não conhecem todos os atuais candidatos.
Neste ano, os recursos midiáticos mais explorados têm sido os virtuais. O corpo a corpo, os apertados de mãos, os “tapinhas nas costas” diminuíram. Em algumas comunidades, candidatos têm que pagar pedágio. Os redutos eleitorais estão sendo mais controlados. Em alguns municípios, já se tem instituído um poder paralelo com cabresto político. Para fazer campanha, o político tem que pagar.
Com a proliferação de notícias falsas nas redes sociais, perde-se claramente a necessidade de estabelecer uma discussão mais profunda sobre os graves problemas do País. Os debates enveredaram pela ofensa moral. As acusações, os escândalos de corrupção ganham mais destaques.
Estão envolvidos, nesta eleição, 33 partidos. Nem os próprios candidatos se preocuparam em divulgar as propostas partidárias. As promessas assistencialistas ainda prevalecem. A questão da necessidade coletiva ficou em segundo plano. Os problemas municipais não ganham a atenção merecida. A saúde, a cultura, a educação estão sucateadas. São paradoxais as atitudes de quem se diz nacionalista e prega a privatização de empresas que são de suma importância para a soberania nacional.
A vida, para mim, é a prioridade. Muito me incomoda a quantidade de brasileiros vivendo nas ruas sem perspectiva alguma. A essência política está no bem comum. Não há democracia com o povo na miséria. A necessidade coletiva deveria estar em primeiro plano. Mas, lamentavelmente, o que mais se encontram são candidatados que pensam somente em atender a interesses pessoais.
O exercício da cidadania exige que o voto esteja fundamentado em princípios éticos. Quem vende o seu voto torna-se conivente com a corrupção.