22/set 08:00
Por Ataualpa A. P. Filho

Na terça-feira passada (15/09), presencie uma cena engraçada que me levou a refletir sobre a “nomofobia”, que sinaliza o medo, a insegurança, a ansiedade que afloram em quem faz uso obsessivo do celular. E, quando se distancia dele, sente-se angustiado. Isso já é considerado um dos males do século XXI, um reflexo da produção de lixos tóxicos pulverizados em redes sociais. Mentiras, mediocridades ganharam “status” no perfil de “celebridades”.

O tempo perdido em improdutividade pelo uso inoperante da internet preocupa, porque já apresenta graves consequências, uma vez que afeta a saúde física e mental de vários usuários. Transtorno do pânico, depressões, ansiedades, sedentarismo, lesões por movimentos repetitivos, em síntese, o uso inadequado da Rede Mundial de Computadores (Word Wide Web) tornou-se um problema sério, pois restringe a sociabilidade de pessoas nomofóbicas. Há quem prefira a ilusão do mundo virtual a encarar a realidade exposta nas ruas.

O termo “nomofobia” tem a sua origem na língua inglesa (no+mobile+phone+phobia). Foi criado pela YouGov, uma instituição de pesquisa sediada no Reino Unido. Contudo, o problema que hoje nos aflige aponta para “Tempos Modernos” de Charlie Chaplin, um clássico da arte cinematográfica, que estabelece um belo questionamento sobre a relação entre o “homem e a máquina”.

Com humor inteligente, Charlie Chaplin, na década de 30, já questionava o condicionamento humano em função das ações repetitivas impostas pela tecnologia. Ele materializou bem, por meio do personagem Carlitos, a forma como o trabalhador era explorado. Visto apenas como uma peça, uma engrenagem da linha de montagem. A exploração da mão de obra, principalmente no período que se convencionou chamar de Segunda Revolução Industrial, evidenciou a nocividade de um sistema voltado para o lucro, sem se preocupar com a salubridade dos locais de trabalho.

E, para que tenhamos uma noção desse problema, vale expor alguns dados da série de “Relatórios Digitais Globais” do portal DataReportal, com a colaboração das instituições We Are Social e da Meltwater, que apresentam os seguintes dados sobre o cenário digital brasileiro em 2024, no que se refere à população e demografia digital: população total: 217 milhões; gênero: 50.9% feminino, 49.1% masculino; urbanização: 87.9% em áreas urbanas; idade média: 33.8 anos.

Por esses dados, é possível afirmar que não são as crianças, nem os adolescentes que mais fazem mau uso da internet, não são as crianças, nem os adolescentes que manipulam os conteúdos que são despejados nas redes sociais, não são as crianças, nem os adolescentes que disseminam informações falsas. Os adultos são os responsáveis por esse caos na web. Crianças e adolescentes são presas fáceis nesse sistema. Os palanques digitais difundem inverdades com o propósito de manipular a opinião pública. É grande o número de influenciadores irresponsáveis que colaboram para a inutilidade digital.

Segundo os dados da pesquisa citada, neste ano, no Brasil, o tempo diário gasto na internet, por computadores e tablets, gira em torno de 3 horas e 54 minutos. Em smartphones, esse tempo aumenta, chega a 5 horas e 19 minutos por dia.

Outro fato que merece a atenção das autoridades do país está relacionado aos cassinos digitais. Aposta on-line também vicia. Segundo pesquisa da consultoria PwC, em 2023, o setor de apostas movimentou R$ 100 bilhões, aproximadamente 1% do PIB nacional. Os sites de aposta precisam ser normatizados. Há pessoas perdendo dinheiro em jogo do tigrinho, em bets. É preciso uma fiscalização mais rígida sobre as falcatruas, sobre os golpes que são aplicados pela internet.

Mas, como estava falando, uma cena engraçada que me trouxe para este assunto. Por estar envolvido em uma pesquisa sobre a história de Petrópolis, encontrei uma foto do início da formação deste Município e mostrei a uma amiga para que me ajudasse a identificar alguns aspectos geográficos. Só que, de repente, eu a vi passando os dedos sobre a foto:

– Por que você tá fazendo isso?

Antes de responder, ela começou a sorrir:

– Tava tentando ampliar!…

Rimos juntos. O hábito de ampliar as imagens no celular a levou a fazer o mesmo sobre a foto. Na sexta-feira, antes de tocar no assunto da pesquisa, ela abriu a bolsa e puxou uma lupa:

– Hoje não vou passar vexame…

Rimos novamente. É bom trabalhar com pessoas que também nos levam a refletir sobre as nossas ações.

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