A polêmica entre gênero e sexo
No dia 25/09, segunda-feira, li na coluna do Ancelmo Goes, a seguinte nota com o título “Casal Trans”:
“A Justiça do Rio julga caso de Lei Maria da Penha envolvendo um casal trans. M., que nasceu homem, tinha um relacionamento com B., que nasceu mulher. Os dois deram parte de agressão mútua. Só que B. foi à delegacia dizendo que era mulher e tinha sido agredida pelo ex-namorado, omitindo a transexualidade.”
Abreviei o nome das pessoas citadas na nota para preservar a privacidade delas, não há interesse em evidenciá-las. O propósito desse texto consiste em propiciar uma reflexão sobre essa questão voltada para a diversidade de gêneros que cresce no seio da sociedade.
Vários alunos que prestarão vestibular neste ano acham que esse tema surge com grande probabilidade de ser abordado nas redações, uma vez que têm sido frequentes os debates nos meios de comunicação.
Primeiramente é preciso estabelecer as diferenças entre gênero e sexo. Este está vinculado a uma determinação biológica, anatômica que apresenta característica genética distinta, com designação de macho e fêmea dentro do reino animal. E, por meio da relação entre eles, é que ocorre o processo de reprodução da espécie. É válido ressaltar que anatomicamente os machos diferem das fêmeas, principalmente entre mamíferos, répteis e aves. O gênero, a princípio, entre os animais, ficou vinculado ao sexo: masculino e feminino. Isso é o óbvio.
Enquanto que o sexo tem uma determinação biológica; o gênero consiste em uma identificação adquirida, por isso está sujeito a essa relativização em função de papéis e relacionamentos entre homens e mulheres no convívio social. E, por essa razão, está exposto a esse choque cultural crescente que vem provocando intolerâncias.
Outro ponto, aparentemente óbvio que merece ser citado, está ligado ao uso das palavras, principalmente os substantivos, que servem para dar nome aos seres. Os vocábulos têm gêneros e não sexo. Na Língua Portuguesa, essa variação está polarizada em masculino e feminino. Não há uma terceira designação de gênero como em outras línguas. No latim, por exemplo, além dos dois citados, há o neutro. Palavra esta que vem de “neuter”, que significa nem um, nem outro. E desta língua, veio o prefixo “trans” que significa “movimento para além de”. Porém a conotação do emprego desse prefixo está associada também à ideia de mutação, ou seja, a ocorrência de uma mudança. E essa mudança de sexo e/ou de gênero alimenta a citada polêmica, porque remete a valores éticos e morais vigentes no meio social, tornando esse assunto bastante delicado, uma vez que envolve laços afetivos, psicológicos e choca-se contra os princípios de várias religiões.
No caso mencionado na coluna do jornalista Ancelmo Goes, não se tem o veredicto da justiça. Não explicita se será levado em consideração o gênero ou o sexo das pessoas envolvidas. O certo é que a violência é inadmissível em qualquer circunstância, não importa o gênero, nem o sexo, nem a cor, nem a idade. O respeito à integridade das pessoas é um direito inviolável.
Na minha humilde concepção, todo relacionamento é “hetero”, no sentido etimológico desse termo, uma vez que cada ser é único. Ninguém é igual a ninguém. Mesmo ao lado de outro do mesmo sexo e do mesmo gênero, há diferenças. Amar é também encontrar no outro a parte que nos faz inteiro. “Homo” só Narciso que ama o espelho.
E quanto ao sexo dos anjos, esqueça; isso é coisa da carne. Na outra vida, a eternidade é que é o maior prazer.