A Promessa de Jesus

22/05/2022 08:00
Por Mons. José Maria Pereira

Estamos no último domingo, antes da Ascensão, que encerra a presença humana de Cristo na terra. A Igreja celebra nos próximos dias duas grandes festas: Ascensão e Pentecostes; convida-nos a ter os olhos postos no Céu, a Pátria definitiva a que o Senhor nos chama.

O Evangelho (Jo 14, 23-29) apresenta o final do discurso de despedida. Cristo promete aos seus discípulos enviar o Espírito Santo: “Ele vos ensinará e recordará tudo o que vos tenho dito.”

“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo” (Jo 14, 27). O mundo não é capaz de dar a paz verdadeira: dá uma paz frágil, exterior e instável. Jesus propõe dar uma paz que resiste a todas as circunstâncias. “Não se perturbe nem se intimide o vosso coração”.

A verdadeira paz é fruto da santidade, do amor a Deus, da luta por não deixar apagar esse amor sob o peso das tendências desordenadas e dos pecados. Quando se ama a Deus, a alma converte-se numa árvore boa que se dá a conhecer pelos seus frutos. As ações que realiza revelam a presença do Paráclito e, na medida em que causam uma alegria espiritual, chamam-se frutos do Espírito Santo. Um desses frutos é precisamente a paz de Deus que ultrapassa todo o conhecimento, a mesma que Jesus Cristo desejou aos Apóstolos e aos cristãos de todos os tempos. “Quando Deus te visitar, hás de sentir a verdade daquelas saudações: “Dou-vos a paz…, deixo-vos a paz…, a paz seja convosco…” E isto, no meio da tribulação” (Caminho, 258).

A paz numa família ou numa comunidade não consiste na mera ausência de brigas e disputas, o que às vezes poderia ser apenas um sinal de indiferença mútua. A paz consiste na harmonia que leva ao entendimento mútuo e a um clima de colaboração; a paz verdadeira leva à preocupação pelos outros, pelos seus projetos, pelos seus interesses, pelas suas penas. No meio de um mundo que parece afastar-se cada vez mais dessa paz, o Senhor pede-nos a nós, cristãos, que deixemos um rasto de serenidade e alegria por onde quer que passemos.

Cristo é a nossa paz (Ef 2,14). Disse-o Ele há vinte séculos: Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. E repete-o a cada um de nós, para que o apregoemos com a nossa vida por todo o mundo, por esse mundo, talvez pequeno em que decorre diariamente a nossa existência.

O Senhor prometera aos seus discípulos que, passado um pouco de tempo, estaria com eles para sempre. “Ainda um pouco de tempo e o mundo já não me verá. Vós, porém, tornareis a ver-me…” (Jo 14,19-20). O Senhor cumpriu a sua promessa nos dias em que permaneceu junto dos seus, após a Ressurreição, mas essa presença não terminará quando subir com o seu Corpo glorioso ao Pai, pois pela sua Paixão e Morte nos preparou um lugar na casa do Pai, “onde há muitas moradas. Voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, estejais vós também” (Jo 14,2-3).

Os Apóstolos, que se tinham entristecido com a predição das negações de Pedro, são confortados com a esperança do Céu. A volta a que Jesus se refere inclui a sua segunda vinda no fim do mundo e o encontro com cada alma quando se separar do corpo. A nossa morte será precisamente o encontro com Cristo, a quem procuramos servir nesta vida e que nos levará à plenitude da glória. Será o encontro com Aquele com quem falamos na nossa oração, com quem dialogamos tantas vezes ao longo do dia.

Da Oração, do trato habitual com Jesus Cristo, nasce o desejo de nos encontrarmos com Ele. A fé purifica muitas das asperezas da morte. O amor ao Senhor muda completamente o sentido desse momento final que chegará para todos.

O pensamento do Céu nos ajudará a superar os momentos difíceis. É muito agradável a Deus que fomentemos a virtude da esperança, que está unida à fé e ao amor, e que em muitas ocasiões nos será necessária. Ensinou São Josemaria Escrivá: “À hora da tentação, pensa no Amor que te espera no Céu. Fomenta a virtude da esperança, que não é falta de generosidade” (Caminho, nº 139). Devemos fomentá-la nos momentos em que a dor e a tribulação se tornarem mais fortes, quando nos custar ser fiéis ou perseverar no trabalho ou no apostolado. O prêmio é muito grande! Está no dobrar da esquina, dentro de não muito tempo.

A meditação sobre o Céu deve também estimular-nos a ser mais generosos na nossa luta diária, “porque a esperança do prêmio conforta a alma para que empreenda boas obras” (São Cirilo de Jerusalém). O pensamento desse encontro definitivo de amor a que fomos chamados nos ajudará a estar mais vigilantes nas nossas tarefas grandes e nas pequenas, realizando-as de um modo acabado, como se fossem as últimas antes de irmos para o Pai.

O pensamento do Céu, agora que estamos próximos da festa da Ascensão, deve levar-nos a uma luta decidida e alegre por tirar os obstáculos que se interpõem entre nós e Cristo, deve estimular-nos a procurar sobretudo os bens que perduram e a não desejar a todo custo as consolações que acabam.

Jesus promete aos discípulos o envio de um Defensor (Jo 14,16-17), de um intercessor, que irá animar a comunidade cristã e conduzi-la ao longo da sua História. Trata-se do Paráclito que é o nosso Consolador, enquanto caminhamos neste mundo no meio de dificuldades e sob a tentação da tristeza. “Por maiores que sejam as nossas limitações, nós, homens, podemos olhar com confiança para os Céus e sentir-nos cheios de alegria: Deus ama-nos e liberta-nos dos nossos pecados. A presença e a ação do Espírito Santo na Igreja são o penhor e a antecipação da felicidade eterna, dessa alegria e dessa paz que Deus nos prepara” (Cristo que passa, nº 128). Invoquemos sempre o Espírito Santo! Ele é a força que nos anima e sustenta na caminhada cotidiana e nos revela a verdade do Pai.

Recorramos à Virgem, nossa Mãe, para não perdermos nunca a alegria e a serenidade. “Santa Maria é – assim a invoca a Igreja – a Rainha da Paz. Por isso, quando se conturba a alma – ou ambiente familiar ou profissional, ou a convivência na sociedade ou entre os povos –, não cesses de aclamá-la com esse título: Rainha da Paz, rogai por nós! Experimentaste fazê-lo, ao menos, quando perdes a tranquilidade?… – Ficarás surpreso com a sua eficácia imediata” (Sulco, 874).

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