A quarta idade

19/03/2023 08:00
Por Ataualpa A. P. Filho

Andou circulando pelas redes sociais uma notícia do “Jornal do Commercio”, de uma edição de 4 de agosto de 1960, com a seguinte manchete: “Ônibus entrou em casa humilde e foi apanhar a velhinha de 42 anos”.

No livro “A Moreninha” de Joaquim Manuel de Macedo, publicado em 1844, encontramos a seguinte narrativa: 

“E corremos para a pequena casa. 

Entramos. Era um quadro de dor e luto que tínhamos ido ver. Uma pobre velha e três meninos, malvestidos e magros, cercavam o leito em que jazia moribunda uma anciã de cinquenta anos, pouco mais ou pouco menos.”

A notícia do referido jornal, fundado em 1904, ganhou destaque, porque hoje não se considera velha uma pessoa com 42 anos. Como também não se usa a palavra “anciã” para designar uma pessoa com 50 anos de idade. É válido ressaltar que Joaquim Manuel de Macedo publicou a obra mencionada com apenas 24 anos de idade, ou seja, olhava para 50 anos como algo distante. 

A concepção sobre faixa etária tem mudado ao longo do tempo, principalmente diante dos avanços da Medicina e os esclarecimentos sobre os cuidados que devemos ter com a saúde. E aqui é importante colocar em pauta a questão relacionada ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), fundamentado no grau evolutivo de uma sociedade, tendo em vista a “educação”, a “saúde” e a “renda per capita”.  Para que isso fique de uma forma mais concreta, vamos olhar para os índices das expectativas de vida de países com situações econômicas bem diferentes, partindo de dados oficiais: em Hong-Kong, a esperança de vida em relação aos homens é de 82,9 anos; em relação às mulheres é de 88,0 anos. No Japão, a média é de 81,6 para os homens e 87,7 anos para as mulheres. Na Noruega, 81,6 para os homens e 84,9 para as mulheres. Esses países têm um IDH elevado em relação ao resto do mundo. 

Na outra ponta, temos alguns países com baixo Índice de Desenvolvimento Humano, consequentemente, isso reflete na expectativa de vida. Na Nigéria, a esperança de vida dos homens é de 52,5 anos, das mulheres é de 53,3 anos. Na Somália, a esperança de vida dos homens está em 54,0 anos, das mulheres 58,1 anos. Na Guiné-Bissau, a esperança de vida fica em torno 57,6 anos para os homens e 62,3 para as mulheres.

Com esses dados, é fácil concluir que a longevidade não se restringe a cuidados pessoais. É preciso ter em mente fatores de âmbito social que interferem no estado de saúde da população. A pandemia provocada pela Covid-19 expôs a todos as consequências drásticas da falta dos hábitos de higiene. O simples ato de lavar as mãos antes das refeições já evita o contágio de várias doenças.

Quando se fala de saneamento básico, de vacinação, de postos de saúde, de cesta básica, de remuneração digna da mão de obra, moradia descende, água potável ao acesso de todos, coloca-se em primeiro plano o bem comum. O crescimento demográfico de um país também tem que ser pensado para que as desigualdades sociais não venham a comprometer o bem-estar da população. 

Com base nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2020, aqui em nosso país, a expectativa de vida passou a ser de 76,9 anos.  Por causa dessa esperança de vida da população, que, desde dezembro de 2015, a aposentadoria compulsória do servidor público passou de 70 para 75 anos de idade. Porém é preciso que se coloque em evidência as discrepâncias sociais que há em nosso território, nem todos têm as condições mínimas para conduzir a vida dignamente. A miséria, a fome estão presentes em todas unidades da Nação.

Como parte da população se mantém ativa, produzindo com a idade acima dos 80 anos, passou-se a denomina-la de “quarta idade”. Quando chego ao banco para pegar um número para atendimento ao caixa, aperto em “prioridade”, mas, logo a seguir, vem “80+”. Eu penso: “ainda vou chegar lá…”

Quero aqui expressar a minha alegria de ter tantos amigos nessa quarta idade, o aprendizado é fantástico. Já estamos preparando uma bela festa para um membro do Grupo da Padaria que vai fazer 80 anos em maio. Esse grupo nasceu espontaneamente, depois da missa das 9:00, na Capela do Colégio Santa Isabel, saíamos para uma farra com “pão na chapa e cafezinho” na padaria próxima. Isso virou um hábito agradável que, quando não ocorre, sentimos falta. Há uma alegria domingueira, descontraída. Quando filhos e netos se agregam, aí a farra é maior. Problemas, todos temos, porém, naqueles minutinhos, passamos pelo tempo sem pensar neles. Muitas histórias temos para contar, muitas histórias temos para ouvir, sempre há uma oportunidade para aprender. Hoje (12/03), eu tive uma aula de Economia: a equivalência entre tostão e réis.

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