A quem honra, honra
Circula na Internet texto que, após elencar quadros de medalhas dos últimos Jogos Mundiais Militares, mostra a evolução ocorrida, para concluir que "os atletas militares não fazem sucesso por causa das forças armadas, mas sim as forças armadas é que fazem sucesso por conta dos atletas". Tenta contraditar os que atribuem o sucesso dos atletas – como os medalhistas Rafaela, Zanetti, Robson, Nori e outros – do Programa Atletas de Alto Rendimento (que corretamente credita ao período Lula) ao fato de "serem" militares.
Raciocínio simplista, típico da internet. É fato que o Projeto surgiu no governo Lula. Embora pretenda fortalecer o desporto militar, não era objetivo exclusivo melhorar posições nos Jogos Militares. Forças Armadas não existem pra fazer bonito em competições atléticas! Não que não devam ter engajamento desportivo. Precisam ter. Espera-se que soldados tenham razoável disposição atlética. Mas a ligação militares e desporto é tão antiga quanto nossa primeira medalha olímpica, do tenente Guilherme Paraense em 1920.
O convênio entre Ministérios da Defesa e dos Esportes é desses jogos de ganha-ganha. Atletas de ponta, de origem civil, interagem com os militares, a performance de todos sobe e a disposição da tropa para os exercícios se ativa. Melhoram resultados nos Jogos Militares e nos Jogos Olímpicos. Importa é o saldo final.
Não existe outra organização de porte nacional em condições de amparar tantos atletas ao mesmo tempo, em continuidade e não só para medalhas "garantidas", em vésperas de Jogos. A grana só quer saber de chegar no pódio, de papagaio de pirata. Na ralação da sofrida preparação, não. Exemplo conhecido: Guga jogando de uniforme liso, sem patrocínio, quando o deixaram na chuva por causa de período de maus resultados.
Não temos atletismo nas escolas brasileiras, nem grandes clubes de atletismo, ou competições escolares de porte como os extraordinários eventos da Jamaica – o Champs. Nem uma Liga Diamante. Mal e mal a Confederação faz lá sua Copa Brasil de Atletismo. Podíamos ser potência desportiva. O que os militares fazem era necessário que as escolas públicas fizessem e as universidades secundassem. Como só acontece em escala mínima, que bom que as Forças Armadas fazem! Com bônus: o clima de disciplina ajuda sim. Não há atleta vitorioso que não seja disciplinado. Muito se precisa melhorar e, mais que incorporar atletas prontos ou quase prontos, precisa-se investir na formação de novos atletas. Mas o que se tem é já honroso. Então, sim, os atletas estão fazendo sucesso por causa das Forças Armadas e estas fazem sucesso por causa dos atletas que incorporou.
Mas ser contra os militares parece moda ditada pelos que creem que o PT fazia governo de esquerda e que tornaram moda ser contra o "golpe" e a favor da "presidenta". Os mesmos que empurram o sofisma de que se alguém é (e eu sou) a favor do afastamento de Dilma, é pró-Temer (o que é inverdade) e pró-Bolsonaro – o que é não só inverdade, mas agressão. Imbróglio ilógico, salada de sofismas: dá nisso.
Não cabe entrar nessa. Os militares têm graves débitos do passado, mas merecem crédito na discrição democrática pós 1988, que é sua obrigação. Às Forças Armadas, seu mérito. Diz a Bíblia: "A quem honra, honra". Tomara que o Projeto continue. Com crise herdada da Dilma e verbas escassas, vencida a Olimpíada de 2016, sempre haverá quem pense em meter uma tesoura nisso. Tomara que não.
denilsoncdearaujo.blogspot.com