A suposta carta de Lincoln
A internet é um grande avanço tecnológico mas, ao mesmo tempo, uma ferramenta para se criar imbróglios e divulgar inverdades. Mesmo antes dela já se divulgou textos falsos como os celebres poemas “No caminho com Maiacowski” e “Destinos”, este atribuído a Victor Hugo, quando ambos eram de brasileiros. Agora circula uma suposta carta que Lincoln, teria enviado ao professor de seu filho em 1830.
Roger Norton, professor de história e profundo conhecedor da biografia do ex-presidente dos EUA. possui mais de 280 livros de Abraham Lincoln, incluindo suas “Obras Completas” e afirma que a tal carta não é mencionada em nenhum deles e que não poderia tê-la escrito se na época ainda não tinha filhos, o que ocorreu somente em 1842. Eis o texto:
“Caro professor, sei que ele terá de aprender que nem todos os homens são justos, que nem todos são verdadeiros, mas por favor diga-lhe que, para cada vilão há um herói e que para cada egoísta, há um líder dedicado. Ensine-lhe, por favor, que para cada inimigo haverá também um amigo, e ensine-lhe que mais vale uma moeda ganha que uma moeda encontrada. Ensine-o a perder, mas também a saber gozar da vitória. Afaste-o da inveja e dê-lhe a conhecer a alegria profunda do sorriso silencioso. Faça-o maravilhar-se com os livros, mas deixe-o também perder-se com os pássaros no céu, as flores no campo, os montes e os vales. Nas brincadeiras com os amigos, explique-lhe que a derrota honrosa vale mais que a vitória vergonhosa. Ensine-o a acreditar em si, mesmo se sozinho contra todos. Ensine-o a ser gentil com os gentis e duro com os duros, e ensine-o a nunca entrar no comboio simplesmente porque os outros também entraram. Ensine-o a ouvir todos, mas, na hora da verdade, a decidir sozinho. Ensine-o a rir quando estiver triste e explique-lhe que por vezes os homens também choram. Ensine-o a ignorar as multidões que reclamam sangue e a lutar só contra todos, se ele achar que tem razão. Trate-o bem, mas não o mime, pois só o teste do fogo faz o verdadeiro aço. Deixe-o ter a coragem de ser impaciente e a paciência de ser corajoso. Transmita-lhe uma fé sublime no Criador e fé também em si, pois só assim poderá ter fé nos homens. Eu sei que estou pedindo muito, mas veja o que pode fazer, caro professor”.
Ao que tudo indica, nunca saberemos o verdadeiro autor desse texto ou, talvez, com o correr do tempo venhamos a descobrir ser de mais um brasileiro. Temos porém que admitir e agradecer a oportunidade de aprender muito com essa falsa carta, mas de texto profundamente verdadeiro e significativo.
jrobertogullino@gmail.com