A vida em ciclos 

15/01/2023 08:00
Por Ataualpa A. P. Filho

As civilizações humanas sempre criam critérios referenciais fundamentados nos movimentos que a Terra faz em torno do seu próprio eixo e em torno do Sol. Tais movimentos ocorrem independentes da vontade humana. Em outras palavras, o homem não controla os movimentos dos planetas. 

Cresci ouvindo a seguinte frase pronunciada por meu pai: “ninguém é superior ao tempo”. 

Quando criança, não tinha a menor noção do que ele falava. Nos primeiros anos do Ciclo Básico, é que me deparei com os conceitos de rotação e translação. Não tive uma vivência plena com as estações do ano. Na prática, só identificava o Verão pelo Sol que arde em Teresina. Na época, chamada de “Cidade Verde”, hoje, nem tanto, devido ao desmatamento provocado pelo desenvolvimento urbano. Vale aqui dizer que foi o poeta maranhense Coelho Neto, na segunda metade do século XIX, quem deu esse título à capital do Piauí.

Na minha infância, outono, inverno, primavera ficavam por conta da imaginação. Raramente me deparava com tapetes de folhas caídas em períodos outonais. A neve e o frio com temperaturas abaixo de zero só via nos filmes e nos noticiários da tv. 

O período chuvoso, considerávamos como inverno, pois a temperatura caía um pouco. Por experiência pessoal, digo que toda criança precisa tomar banho de chuva. A sensação de liberdade e comunhão com a natureza chega assim quando estamos com a alma aberta, não adulterada. A terra e o corpo molhados unificam-se produzindo uma sensação de prazer e esperança. A vida precisa da água…

A violação dos Direitos Humanos perpassa pelas agressões ao meio ambiente. Nos quatro cantos do mundo, estão evidentes as consequências do desequilíbrio do ecossistema. O desmatamento, a emissão de gases tóxicos, a urbanização desordenada, a poluição estão nas raízes das tragédias ambientais. Em síntese, as ações humanas depredadoras levam às catástrofes provocadas por fenômenos naturais. A questão da sustentabilidade exige uma mentalidade preservacionista. Todos somos responsáveis pela preservação ambiental. 

Olhar a natureza somente como fonte de matéria-prima para atender ao consumo é um equívoco. Não importa o sistema de governo, qualquer população que a explore somente com interesses comerciais, cedo ou tarde, colherá os “frutos” do desequilíbrio deixado no meio em que vive. 

São contínuas as mudanças sociais. Nenhuma civilização humana é estática, parada no tempo. Os atos humanos são contínuos. Olhe para a cidade em que você mora: houve um antes, há um agora, e haverá um futuro. A interrogação se coloca no amanhã: – o que será?… 

Mas vamos pensar no hoje. Gosto dos seguintes versos da “Canção do dia de Sempre de Mario Quintana: “Tão bom viver dia a dia…/ A vida, assim, jamais cansa…/ Viver tão só de momentos/ como essas nuvens do céu…” 

Esses versos de Quintana têm respaldo bíblico: “Não vos preocupeis com o dia de amanhã. O dia de amanhã terá suas próprias dificuldades. A cada dia basta o seu peso.” (Mt 6,34)

E para reiterar a ideia de que temos que concentrar as nossas forças no momento presente, é válido lembrar o que disse Dalai Lama: “Só existem dois dias no ano em que nada pode ser feito: um se chama ontem e o outro, amanhã. Portanto, hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e, principalmente, viver.” 

A velocidade da vida moderna nos leva a ter a impressão de que o tempo anda acelerado. Mas, na verdade, o dia continua com as suas 24 horas. O minuto ainda tem os seus 60 segundos. 

Digitais ou pendulares, os relógios continuam a marcar o tempo que foge do nosso controle. A agenda dos compromissos profissionais não pode ser transformada em pelourinho.  Escravizar-se para atender às ansiedades do consumo consiste em conduzir a vida por um caminho estressante. Viver pela obsessão de acumular capital para ampliar, a qualquer preço, o poder de compra pode acarretar sérios problemas. 

Acho que algumas pessoas hoje estão em maus lençóis, porque se deixaram corromper pelo vil metal. Venderam a alma, por isso estão sofrendo as consequências da corrosão ética. A todo custo, viveram em função da aquisição de bens para ter o prazer de dizer que houve uma realização pessoal; quando, na verdade, apenas desejavam ser felizes. 

Como a felicidade não está nas vitrines, a ostentação da riqueza é usada como peneira para tampar o sol da tristeza. As desilusões, os fracassos estão nas derrotas das lutas travadas dentro de si. A maior vitória é a que nos faz erguer a cabeça sem peso na consciência. E essa vitória começa quando nos distanciamos do ódio, quando não nos deixamos influenciar por falsos Messias. 

Mãos à obra: vamos continuar nesta caminhada na construção da Paz entre os homens.

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