03/10/2021 08:00
Por Ataualpa Filho

Do que se respira, do que se bebe, do que se come, a natureza participa. Preservá-la é um gesto de gratidão. Mas é preciso dizer que ela fala por si. A relação de causa e consequência é bem definida quando se trata das ações do homem contra o ambiente natural. O desmatamento, a poluição, as produções de gases tóxicos têm reflexos imediatos sobre os que habitam este planeta.

Já está provado que a Natureza tem um poder de autorrecuperação. Basta o homem não mais agredi-la que, ao longo dos anos, ela se renova. Fato este que constata o ciclo do dinamismo que há no Universo. E aqui uso os versos do poeta paraibano Augusto dos Anjos para expressar o que penso:

“Sabes que é Deus?! Esse infinito e santo/ Ser que preside e rege os outros seres,/Que os encantos e a força dos poderes/ Reúne tudo em si, num só encanto?/ Esse mistério eterno e sacrossanto,/ Essa sublime adoração do crente,/Esse manto de amor doce e clemente/ Que lava as dores e que enxuga o pranto?!/ Ah! Se queres saber a sua grandeza,/ Estende o teu olhar à Natureza,/ Fita a cúp’la do Céu santa e infinita!/ Deus é o templo do Bem. Na altura Imensa,/ O amor é a hóstia que bendiz a Crença,/ama, pois, crê em Deus, e… sê bendita!”

A Natureza é mais uma das criações perfeitas de Deus. É um equívoco achar que tudo veio do acaso. Nós, seres mortais, precisamos entender que não temos como mensurar a infinitude, nem como dimensionar a Inteligência Suprema do Criador. Mas temos a oportunidade de contemplar gratuidade a Criação como fala Carlos Drummond em “A Flor e a Náusea”:

“Uma flor nasceu na rua!/Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego./ Uma flor ainda desbotada/ilude a polícia, rompe o asfalto./Façam completo silêncio, paralisem os negócios,/garanto que uma flor nasceu.”

A flor é uma das obras que revela a efemeridade da vida, mas também expõe a sutileza do Perfeito Ser, que está além das marcas do tempo. Os passos pela humildade levam ao reconhecimento do Senhor da Eternidade. A morte, a todo instante, mantém um espelho de frente para a realidade: o ontem, o hoje e o amanhã são vistos pelas nossas ações.

É preciso reconhecer que a Natureza é uma obra divina. Defendo a ideia de que a luta pela preservação dela perpassa pela criação de um movimento de resistência sem pátria, mas que começa na porta da nossa casa, mantendo-a limpa.

O desmatamento, a crise hídrica pela falta de chuva, o aquecimento global são fatores que revelam a nocividade da ação humana. Quando o capital é colocado como um bem superior à vida, as consequências são drásticas. E os reflexos econômicos são visíveis. Portanto, é preciso urgentemente fortalecera consciência da preservação do ecossistema. O crescimento tecnológico não é incompatível com a preservação do meio ambiente.É possível manter o desenvolvimento tecnológico exigido pela vida moderna por meio de uma política preservacionista que respeita fauna e flora em benefício da qualidade da existência humana.

A Natureza  é um ser vivo, não apenas um cenário nas obras literárias. É preciso enxergar a força que ela exerce, em legítima defesa, nas manifestações artísticas, em atitudes de autopreservação.  Por intermédio da sensibilidade e percepção dos artistas, ela apresenta a sua resistência.

Os fenômenos naturais devem ser vistos como parte de uma linguagem que precisa ser entendida como alerta em favor da vida. Por isso, precisamos refletir não somente pelas previsões meteorológicas, mas também em função do respeito que precisa ser mantido em relação aos outros viventes deste planeta. A prepotência do animal humano é que o limita. A vida é mais simples desarmada, porque assim o amor é mais latente.

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