Academias se movimentam para vencer a crise e fidelizar clientes

07/02/2019 16:40

O incêndio de uma academia no Centro Histórico, ocorrido recentemente, jogou um farol sobre o mercado fitness e seu funcionamento em Petrópolis. A despeito da perda total da Quality Fitness, o segmento tem se mantido estável e, tal como a economia real, sofre oscilações que puxam para cima ou para baixo os lucros dos empresários do ramo. 

Segundo a Associação Brasileira de Academias, o Brasil é o segundo maior mercado do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. São 33 mil academias espalhadas em todos os estados da federação, com oito milhões de mensalistas, gerando uma receita anual de até US$ 2,5 bilhões de dólares. À frente até da China, os brasileiros podem se orgulhar em contar com um mercado robusto em cadeia, pois envolve diferentes profissionais do ramo.

Trazendo para a realidade de Petrópolis, município com 300 mil habitantes (de acordo com o IBGE), não há números exatos sobre a movimentação econômica nas academias locais. Porém, de acordo com o Conselho Regional de Educação Física, 84 delas funcionam normalmente. Ao todo, 923 profissionais da área são registrados, sendo que a maioria não atua nesse segmento, o que não quer dizer ser a que menos emprega na região. 

O incêndio na Quality Fitness traz à baila temas relevantes e que chamam a atenção: longe dos olhares do público, existe uma intensa movimentação no setor de academias na parte de administração. E o ano de 2018, pode-se dizer, foi marcante para aqueles que lidam com esses espaços reservados para quem quer ganhar saúde, adquirir um corpo bonito e até transformar o espaço num clube social. Em duas delas, houve trocas de direção: a Acqua Sports Centro e a Locatelli. Ambas, reconhecidas por serem bem estruturadas, têm novos donos.

Além da troca de gestão, no ano passado, quatro delas encerraram as suas atividades: One, Body Club, Maxim's e a Top Fitness. Se por um lado houve estes fechamentos, por outro, uma novidade atraiu a atenção dos petropolitanos que vão atrás dos seus objetivos na saúde e na estética. A chegada da Smart Fit, a famosa rede de academias que tem como propósito democratizar o acesso à prática de atividade física de alto padrão, com planos que cabem no bolso das diferentes camadas sociais. 

O vice-presidente do Cref, André Dias de Oliveira Fernandes, explicou que o fechamento das três academias pode estar associado a dois fatores, como a crise econômica no país e o modelo de gestão. Segundo ele, a população vai atrás de preços e a oferta do serviço prestado, além, é claro, da praticidade do local onde funciona a academia. “Observamos que, apesar da crise, ainda existem mais academias abrindo portas do que fechando. Existe o reflexo do processo. Com a crise, muitas academias não souberam lidar com os novos tempos, não melhoraram sua gestão e, quando tem um problema financeiro ou algo parecido, acaba sendo obrigada a fechar as portas. O que as academias precisam aprender é se reinventar, mudar seu negócio para não apenas atrair um novo público como também retê-lo”, comentou André Fernandes.

Uma das que fecharam as suas portas foi a Top Fitness, no Centro. A proprietária, Dalva Helena da Cruz, explicou que o negócio já não vinha bem no ano passado por conta da crise financeira que atinge o país. “As coisas já não iam bem, mas a chegada da franquia famosa não nos deu condições de prosseguir. Fechamos as portas em dezembro, infelizmente”, resumiu Dalva, que há nove anos mantinha o espaço que chegou a ter dezenas de mensalistas.

No caso da academia One, o fechamento ocorreu por opção dos empresários, que decidiram investir em outro ramo. “Nossa academia era estruturada. Tínhamos um nome bom no mercado. Apenas flechamos porque um sócio foi morar no exterior, o outro sócio mudou para o ramo de hamburgueria e eu abri uma empresa com o Kevin Kuranyi (ex-jogador de futebol). Preferimos, então, fechar por cima do que abandonar o negócio e ter reclamações e não prestar um bom serviço”, justificou Rodrigo Tito Pimenta.  

Nem tudo é notícia ruim. Enquanto umas fecham, uma está para abrir as portas no final deste mês: por iniciativa do atleta de MMA e jiu-jitsu, Celso Rolim, o Celsinho “Pitbull”, vai lançar uma sede petropolitana da Brazillian Top Team, que trabalha na preparação e descoberta de talentos na defesa pessoal. Celsinho disse à Tribuna que o espaço contará com diversas lutas e até Cross Lutas, uma novidade que começa a ganhar corpo em academias pelo país afora. Isto significa mais empregos, em tempos em que a crise econômica põe atualmente mais de 12 milhões de desempregados pelo país afora.

Academias têm estratégias diferentes para se manterem em pé

Tal como qualquer negócio, a academia tem lá as suas peculiaridades e não escapa das nuances econômicas que a marcam o imaginário popular. Há 43 anos no mercado, a academia Ramos é uma das mais antigas do município, sendo considerada uma das que possui preços acessíveis a classe média/baixa. Com opções como musculação, fitness, natação e lutas, se mantém firme, alheia à crise ou concorrência. E olha que durante o período teve crises econômicas que arrastaram negócios para o ralo. 

“Atualmente, vemos um aumento no número de pessoas que nos procuram para as mais variadas atividades. Estamos em fevereiro e ainda é uma época em que existe uma maior procura. Mas mesmo no inverno, quando há um declínio na procura, tentamos manter um número que é o bastante para manter a academia funcionando”, explicou Ramos, que dedicou pouco mais de 50 dos seus 76 anos de idade à educação física. Para ele, a combinação preço/ofertas de serviços tem sido o motivo de ser bem-sucedido durante tanto tempo.

No entanto, o fator concorrência tem obrigado à mudança na mentalidade para gerir os negócios. O professor de educação física, Fernando Kapps, é dono da Biocenter, localizada no coração do Centro Histórico. Para enfrentar a disputa por alunos, Fernando busca oferecer um bom atendimento individual como forma de retê-los pelo máximo de tempo possível na academia. Só que, assim como acontece com a Ramos, a sazonalidade é um importante adversário a ser superado por quem investe nesse modelo de negócio.

“O Centro está lotado de academias e por isso procuramos dar um atendimento diferenciado para nos destacarmos no cenário municipal. Procuramos ter preço e o foco total no desenvolvimento do aluno, pois este chega até nós com diferentes objetivos. O que é fato é a questão econômica, que muitas vezes afasta aqueles que querem atingir seus objetivos na academia”, concluiu o empresário.

Academias e profissionais de educação física se unem em prol da Quality

O incêndio da Quality Fitness, ocorrido na madrugada do dia 3 de fevereiro virou notícia no estado do Rio. A perda sofrida pela academia, de acordo com o proprietário do estabelecimento, Jair Júnior, ainda segue sendo contabilizada. Porém, apesar dos prejuízos, alunos da academia iniciaram nesse domingo (10) um movimento de solidariedade para reconstruir o local. Segundo a organizadora, Bárbara Rocha, os voluntários se encontraria na Praça da Liberdade, no Centro, para definir as várias atividades e eventos que têm como objetivo arrecadas dinheiro para adquirir novos equipamentos para a academia.

Quem deve se somar aos esforços solidários da cidade é o  vice-presidentedo Cref, André Fernandes. Ex-proprietário de academia, André lamentou o incidente e colocou a entidade à disposição para aquilo que necessitar.

Mais acesso para pessoas da terceira idade

Recém-empossado vereador após dois anos no comando das políticas públicas para o esporte, Hingo Hammes (PTB) anunciou a elaboração de um projeto com o objetivo de permitir o acesso da terceira idade às academias locais. Segundo o edil, a ideia é criar subsídios para estes negócios em troca do oferecimento do espaço para o público veterano aos equipamentos das academias. Para Hammes, isto democratiza ainda mais o uso da academia.

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