Aglomeração, cúmulo da imbecilidade

07/10/2020 09:30

      

Fui até o “Aurélio” para saber corretamente o significado da palavra “aglomeração”. Chafurdei meu nariz no maçudo volume e descobri: “Aglomeração: s.F. Ação ou efeito de aglomerar (-se); ajuntamento, agrupamento, amontoamento. Aglomeração urbana. Centro urbano, vila ou cidade; aglomerado urbano”.

Então, aí está o significado da palavra tão popular e em modismo em todos os meios da atual comunicação do vai-e-vem da população do planeta.

Definição corrente e significativa, que a tudo esclarece, é ser a aglomeração algo dentro da normalidade e perfeitamente aceitável. Aglomera-se quem está em ajuntamento, agrupamento, amontoamento, dependendo de cada situação. Como exemplo primeiro o dia-a-dia dos encontros em comemorações familiares, seguindo-se outras concentrações de festejos, reuniões, encontros políticos, comícios, shows de música, espetáculos cênicos ao relento ou em salas fechadas, os bailes na rua, nos salões, convescotes (este vocábulo fui buscar num baú de saudades), nos parques, nos estádios esportivos…

Enfim, ajuntou…aglomerou…

Eis que, de repente, a palavra ganha universal expressão diante do ataque da peste horrenda e assustadora, batizada de covid.19, cruel vírus que vai se metendo em orifícios escancarados sem a menor cerimônia e arrancando aplausos do demo e abastecendo o coche macabro da morte.

Estudos, experiências, aprendizado rápido, celeridade em pesquisas para cercar o infeliz agente da morte e com ele, em duelo, ainda desigual, chegar à salvação da humanidade.

 Desde o final do ano de 2019 o covid-19 vem se infiltrando, em contaminação crescente, que exige cuidados e providências severas, logo comunicadas ao Mundo pelas mídias hoje impressionantemente ágeis, esclarecedoras, prontas ao combate do mal no alerta geral de todos os acontecimentos e conquistas científicas.

E tanto conhecimento e tecnologia, tantas insones noites nos laboratórios da pesquisa científica, milhares de heróis do setor da saúde, colados aos leitos, sujeitos ao mal mais de perto, morrendo muitos deles no exercício de salvar vidas alheias, enquanto as estatísticas tornam-se mais cruéis quanto verdadeiros alertas para o cumprimento das ações determinadas pelos especialistas, e o povo beneficiado pela ciência e destemor e coragem dos cientistas, dançando, cantando, se drogando, em aglomerações assassinas geradas sob imbecil sensatez (assim defino o “cúmulo da imbecilidade”).

Inacreditável, senhoras, senhores, jovens que estão nesse círculo do cúmulo da imbecilidade, promovendo tantas infelizes aglomerações, em caldeirões onde o cozido é venenoso e a digestão é a morte. E não ouvem. E não cessam. E, infectados, transmitem o covid-19, lançando para os tentáculos da morte milhares de iguais e alguns deles juntos e aglomerados também.

E nenhum consolo ou ajuda, já que o exemplo é das cúpulas – notadamente políticas – que zombam da epidemia, que não respeitam as determinações sanitárias, que desfilam despidos das proteções corretas, inadequadamente desrespeitosos das determinações necessárias que visam combater o indesejado agente da morte.

Se o exemplo é de cima – assim pensa o povo de todo o planeta – eu também posso andar despido dessas proteções e juntar-me em amontoados para beber, cantar, puxar meus fuminhos, minhas droguinhas, e não usar máscara alguma!

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