Alemã defende bem-estar animal, mas monta, em Paris, égua de centro que pratica maus-tratos

05/ago 12:54
Por Estadão

Dona de 14 medalhas olímpicas (8 ouros) na prova de adestramento do hipismo, a alemã Isabell Werth defendeu nos Jogos de Paris-2024 melhores condições para o bem-estar dos cavalos usados em competições.

Antes do início das disputas na França, foi divulgado um vídeo no qual a britânica Charlotte Dujardin, multimedalhista olímpica (três ouros), maltratando um cavalo durante um treinamento. Dujardin anunciou sua desistência dos Jogos de Paris e foi suspensa pela Federação Equestre Internacional (FEI).

Com a polêmica, Werth e outros cavaleiros foram claros sobre a necessidade de uma mudança cultural significativa no hipismo para acabar com a violência contra os cavalos. O britânico Carl Hester chegou a dizer que a sobrevivência olímpica do esporte estava em jogo.

“Se algo aconteceu de forma errada, temos que impedir imediatamente”, afirmou Werth, de 55 anos, após conquistar a medalha de prata no adestramento individual. “É uma responsabilidade de todos nós. Se amamos o esporte e queremos mantê-lo, é isso que temos que fazer.”

Além do vídeo de Dujardin, outros episódios de maus-tratos pipocaram durante a Olimpíada. O cavaleiro brasileiro Carlos Parro levou uma advertência da FEI por ter causado “desconforto desnecessário” à égua Safira, com a qual disputou a prova de adestramento completo.

Parro foi flagrado flexionando o pescoço de Safira em um movimento proibido chamado “rollkur”, que compromete a respiração do animal, durante treino antes da Olimpíada. Segundo a organização de direitos dos animais PETA, que denunciou o brasileiro, a prática também danifica a coluna dos cavalos e leva a problemas de saúde a longo prazo.

Ainda no adestramento, o cavaleiro italiano Emiliano Portale foi eliminado após ter sido encontrado sangue na boca do seu cavalo, Future, na checagem depois da prova. A FEI, no entanto, comunicou que isso “não implica que houve qualquer intenção de ferir ou prejudicar o cavalo”.

Na prova de saltos por equipes, o Brasil foi desclassificado após o cavalo Nimrod de Muze, de Pedro Vennis, apresentar sangramento depois das eliminatórias. Imagens mostram que Vennis passa a mão na barriga do animal após terminar a prova. Na sequência, a inspeção veterinária apontou um sangramento provocado pela espora do atleta. O regulamento da Olimpíada determina que qualquer tipo de ferimento causado no animal durante o percurso é motivo de eliminação.

A ÉGUA DE WERTH

Werth competiu em Paris com uma égua chamada Wendy. A alemã adquiriu o animal em janeiro dos estábulos do dinarmaquês Andreas Helgstrand, medalhista de bronze em adestramento por equipe nos Jogos de Pequim-2008.

Helgstrand está suspenso até 31 de dezembro após um documentário ter sido exibido no ano passado em um canal dinamarquês detalhando abusos contra cavalos em seu centro de treinamento. Um repórter disfarçado de tratador conseguiu filmagens do local e mostrou que os cavalos tinham cortes profundos e marcas de chicote.

Segundo o documentário, os tratadores escondiam os cortes, provocados pelas esporas das botas dos cavaleiros, com graxa de sapato e cobriam marcas de chicote com cobertores para escondê-los de clientes em potencial. A suspensão da Federação Equestre da Dinamarca, da qual Helgstrand não recorreu, também o proíbe de treinar alunos. A FEI também o suspendeu.

Em Paris, um repórter dinamarquês pediu que Werth comentasse a suspensão de Helgstrand. Ela se mostrou irritada. “Não discuto isso aqui. Chega de Charlotte, de Andreas, de Parro”, disse Werth. “Consegui uma égua fantástica e outros cavalos excelentes do centro de Helgstrand. Não há mais nada a discutir.”

Em janeiro, Werth agradeceu a Helgstrand “por facilitar essa parceria” com Wendy. “Estou muito orgulhosa e grata por receber esta égua excepcional”, disse ela ao site do centro de Helgstrand. O documentário da TV dinamarquesa não aponta que Wendy tenha sofrido abuso nas instalações de Andreas Helgstrand.

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