Algas cobrem Rio Tietê e impedem navegação, turismo e pesca no interior de SP
As águas do Rio Tietê estão cobertas de algas em uma extensão superior a 50 quilômetros, a partir de Barra Bonita, no interior de São Paulo. O caldo verde tomou conta da eclusa na barragem de Barra Bonita, obrigando os barcos turísticos a refazerem seus percursos.
A nata produz mau odor e prejudica a pesca, a navegação e o turismo que têm o rio como referência. Também pode ser prejudicial à saúde, por isso a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) orienta a população a não nadar ou praticar esportes náuticos nessas áreas.
A Sabesp, que opera o saneamento na maior parte dos municípios do Alto e Médio Tietê, informou ter conectado, no último ano, mais de 211 mil imóveis ao sistema de esgoto. Já a AES Brasil, geradora de energia que opera a hidrelétrica de Barra Bonita, diz que o processo de proliferação de algas está relacionado a “fatores ambientais externos” (leia mais abaixo).
De acordo com Hélio Palmezan, presidente da ONG Mãe Natureza, essas algas são cianobactérias que proliferam principalmente devido à poluição da água por esgotos. “Elas se reproduzem de maneira exagerada e exalam mau cheiro. Embora não prejudique a mobilidade dos barcos, como as plantas aquáticas, os gases são tóxicos e põem em risco, não só a vida aquática, como a saúde dos tripulantes e passageiros”, disse.
Há risco, segundo ele, de mortandade de peixes. “A cianobactéria é patológica, produz toxinas e sua concentração atrapalha a penetração da luz solar no corpo de água.”
Estância turística, Barra Bonita fica a cerca de 300 km de São Paulo e, antes de chegar à cidade, o Rio Tietê passa pela Região Metropolitana de São Paulo, inclusive a capital, e por cidades como Cabreúva, Itu, Salto, Porto Feliz, Conchas e Anhembi. No percurso, o Tietê recebe afluentes como os rios Jundiaí, Sorocaba e Piracicaba, recebendo também efluentes (esgoto tratado) das estações de tratamento de esgotos de dezenas de cidades.
Barra Bonita é conhecida pela navegação no Rio Tietê. As cinco empresas de navegação operam oito embarcações e atendem mais de 200 mil turistas por ano. O turismo, que já havia sido afetado pela pandemia de covid-19, enfrentou em 2023 o problema das plantas aquáticas que cobriram quase todo o leito do rio.
“Resolvemos o problema das plantas, mas agora temos as cianobactérias. O prejuízo acumulado, incluindo a pesca e a navegação turística e comercial, chega aos R$ 300 milhões”, disse Palmezan.
O secretário de Meio Ambiente de Barra Bonita, Tiago Nascimento, disse que a formação de algas se deve à poluição que provém da capital de outras cidades da bacia. “Quando há uma carga muito grande, os organismos que se alimentam da poluição proliferam desenfreadamente.”
O turismo, segundo ele, tem sido muito prejudicado. “Atrapalha bastante também os pescadores que utilizam o rio como meio de vida.” A prefeitura está monitorando o rio para alertar os órgãos estaduais em caso de um possível início de mortandade de peixes.
Os barcos de turismo estão mudando o percurso para evitar as áreas do rio mais infestadas de algas. A passagem pela eclusa na barragem da Hidrelétrica de Barra Bonita, um dos pontos altos do passeio, está sendo evitada. O compartimento está tomado pela água verde.
“Estamos mudando o passeio de domingo para jusante (rio abaixo, em direção contrária à eclusa), pois as condições estão muito críticas. Barra Bonita é o único lugar do rio com navegação fluvial e os danos são visíveis”, disse Carlos Nascimento, dono do barco Homero Krähenbühl.
O empresário Rodolfo Barradel, da Marina da Barra, disse que a proliferação das cianobactérias é favorecida pela falta de chuvas e o baixo nível do Tietê. “É a poluição concentrada. Fica difícil para o turismo, porque está um mau cheiro terrível, parece chiqueiro de porco. Passar a eclusa está ficando impossível. Prejudica também a manutenção dos barcos”, disse.
As algas atingiram Itapuí, a 44 quilômetros de Barra Bonita, rio abaixo. O prefeito Antônio de Souza, o Toninho (PL), disse que as condições do rio estão afetando o turismo. “O Rio Tietê é encostado na cidade e nossa prainha é uma referência, mas, com essa condição da água, não dá para usufruir. Temos muitos investimentos no turismo, ranchos de pesca e lazer, mas fica difícil até de pôr a lancha no rio”, lamentou.
A operadora da barragem, empresas de navegação e prefeituras da região, com o apoio de pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), criaram o Grupo de Trabalho Macrófitas para buscar uma solução para o Rio Tietê junto aos órgãos estaduais. O Ministério Público de São Paulo (MPSP) também foi acionado e informou que a promotoria de Justiça de Barra Bonita tem uma “notícia de fato” instaurada para apurar a proliferação de cianobactérias no Rio Tietê. O procedimento está em andamento, aguardando respostas de ofícios, nos quais foram solicitadas informações à Cetesb.
A companhia informou que as florações de cianobactérias no reservatório de Barra Bonita são causadas por coleta e tratamento de esgotos inadequados em municípios ao longo do rio, e à carga difusa decorrente de práticas agrícolas inadequadas que resultam no escoamento de nutrientes para o corpo d’água. Para mitigar esses problemas, a companhia está exigindo melhorias nos sistemas de coleta e tratamento de esgotos das concessionárias e municípios nas bacias do Alto e Médio Tietê.
Também incentiva proprietários de áreas agrícolas a adotarem boas práticas de manejo, incluindo a proteção de matas ciliares. A Cetesb recomenda que a população evite nadar ou praticar esportes náuticos em áreas com nata verde ou manchas de coloração suspeita, além de limitar o acesso de animais domésticos ou criações a essas águas.
á a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que opera o saneamento na maior parte dos municípios do Alto e Médio Tietê, informou ter conectado, no último ano, por meio do programa Integra Tietê, 211 mil imóveis ao sistema de esgoto, o que representa mais de 640 mil pessoas com esgoto tratado na Região Metropolitana de São Paulo.
Também foram publicados editais para ampliação da capacidade de tratamento nas estações do ABC, Barueri, Parque Novo Mundo, São Miguel e Suzano – um aumento de 66% na capacidade. Outras três estações em Guarulhos – Várzea do Palácio, São João e Bonsucesso – terão sua produção expandida em 120%. Segundo a companhia, o Integra Tietê atua em 1.136 quilômetros ao longo do rio e seus afluentes.
Até 2029 serão investidos R$ 23,5 bilhões na ampliação de 2,2 milhões de domicílios com coleta e tratamento de esgoto, na região do Alto Tietê. Também fazem parte ações de desassoreamento, com a retirada de 17,5 milhões de m3 de sedimentos, implementação de parques e reflorestamento de margens, além da melhoria no sistema de monitoramento da qualidade da água, com o aumento no número de pontos de análise.
A AES Brasil, geradora de energia que opera a hidrelétrica de Barra Bonita, disse que monitora periodicamente a qualidade da água no reservatório das usinas no estado de São Paulo. “O processo de proliferação de algas não está relacionado à operação das usinas hidrelétricas. Fatores ambientais externos, como a variação de temperatura, disponibilidade de nutrientes e reduções de vazões naturais afluentes contribuem para o maior afloramento de algas, que estão naturalmente inseridas nesse ecossistema.”
A companhia informou que participa regularmente de fóruns com representantes dos órgãos do Estado de São Paulo, pescadores e usuários da navegação profissional e organizações da sociedade civil em Barra Bonita para avaliar soluções em conjunto sobre o tema.