Aliados dizem que Lula chora toda vez que fala da prisão e tentam minimizar fala sobre Moro
O ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta (PT), tentou minimizar os ruídos causados pela fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que os desdobramentos da operação da Polícia Federal (PF) que identificou planos da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) para sequestrar o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) seriam uma armação do próprio parlamentar.
Em conversa com jornalistas no Palácio do Planalto, Pimenta disse que a declaração de Lula a respeito da ação da PF não tinha o intuito de questionar o trabalho da instituição, mas sim “o conjunto de coincidências” envolvendo atores da Lava Jato no caso e o “método” de repercussão utilizado por Moro ao comentar a operação. As criticas também se referem ao “timing” da decisão que revelou o plano de sequestro do senador.
Um dos exemplos citados pelo ministro sobre o método de divulgação do caso foi a publicação de Moro no Twitter na última terça-feira, 21, repercutindo a fala de Lula sobre pensar em “f…” o hoje o senador, no período em que esteve preso na carceragem da PF em Curitiba.
Interlocutores do presidente também atribuem a fala desastrada à instabilidade emocional provocada toda vez que ele se lembra do tempo em que esteve preso. Ministros dizem que ele sempre chora ao comentar os 580 dias que passou na prisão por ordem de Moro. Eles reconhecem o dano causado pelas falas dele nesta quarta-feira, 23, mas contemporizam dizendo que normal diante do que vivenciou com Moro.
“O que gera o questionamento foi esse conjunto de coincidências, fatos, que acabam trazendo revolta e toda uma memória sobre um método que foi utilizado contra ele (Lula) várias vezes, com os mesmos personagens. Muito mais do que como presidente, mas como ser humano, é natural o sentimento de indignação”, disse Pimenta. “Mas em nenhum momento ele questiona o trabalho da Polícia Federal e do Ministério da Justiça. Muito pelo contrário, o presidente tem consciência do trabalho da Polícia Federal”. explicou.
Como mostrou o Estadão, o Planalto decidiu agir para frear a repercussão negativa das falas de Lula. Na última quarta-feira, 22, Pimenta já havia convocado uma coletiva de imprensa às pressas na tentativa de explicar as xingamentos do presidente a Moro em referência ao período na prisão. Hoje, o ministro da Secom foi novamente escalado para divulgar a versão da Presidência sobre os posicionamentos recentes de Lula.
Ao mencionar os “mesmos personagens”, Pimenta se referia à juíza Gabriela Hardt, que determinou nesta quinta-feira, 23, a suspensão do sigilo das investigações sobre o plano de sequestro do senador. A decisão da magistrada foi dada cerca de uma hora após a fala de Lula questionar o despacho feito por ela e chamar de “armação do Moro” o desenrolar do caso.
“Quero ser cauteloso. Vou descobrir o que aconteceu. É visível que é uma armação do Moro. Eu vou pesquisar e saber o ‘porquê’ da sentença. Até porque fiquei sabendo que a juíza (Gabriela Hardt, da 9.ª Vara Federal de Curitiba) não estava nem em atividade quando deu o parecer para ele”, disse Lula durante visita ao Complexo Naval de Itaguaí, no Rio.
Hardt foi substituta de Moro na 13ª Vara Federal de Curitiba durante a operação Lava Jato e já chegou a condenar Lula a 12 anos de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção passiva no caso do Sitio de Atibai. As decisões da juíza acabaram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou o foro do Paraná incompetente para julgar Lula.