Ana Marcela Cunha vê trio despontar na frente e termina em quarto lugar nas águas abertas

08/ago 08:57
Por Leonardo Catto / Estadão

Ana Marcela Cunha ficou fora do pódio das águas abertas (maratona aquática) da Olimpíada de Paris-2024. Campeã nos Jogos de Tóquio, em 2021, a brasileira era uma das esperanças de medalha para a prova disputada no Rio Sena, mas viu o trio do pódio despontar na frente e ficou na quarta posição nesta quinta-feira (08). A outra representante brasileira, Viviane Jungblut, foi a 11ª colocada. A prova é uma das que mais gerava apreensão por causa da qualidade das águas do Sena.

Apesar de a organização da Olimpíada garantir que o nado aconteceria apenas quando o rio atendesse critérios de qualidade, a cor da água chamou atenção durante a prova. O Sena passou por um processo de limpeza para os Jogos de Paris, ao custo de cerca de 1,4 bilhão de euros (cerca de R$ 8,7 bilhões).

Na véspera da prova, a velocidade das águas foi medida de 3,2 a 4,8 km/h, o que significa um grande esforço para avançar contra a corrente. Isso foi visto durante a prova, obrigando as atletas a preferirem a margem do rio nos momentos em que nadavam no contra-fluxo do rio. Além disso, o sol também irradiava contra as nadadoras.

A primeira volta foi fechada com liderança da australiana Moesha Johnson. Neste momento, Ana Marcela estava a 18 segundos da líder. Viviane passou na décima posição, com 28 segundos de desvantagem para a ponta.

Rapidamente a disputa passou a ser puxada pela holandesa Sharon van Rouwendaal, ouro no Rio-2016 e prata em Tóquio. Ela travou um duelo com a Moesha, que retomou a frente próximo dos 5km da competição. Naquele momento, Ana Marcela era a quarta, a 3s5 da posição que a colocaria no pódio e 9s5 do ouro.

A brasileira precisava de um sprint para encostar no trio de frente, que ainda tinha a italiana Ginevra Taddeucci. Ela abriu a última volta a pouco mais de 30 segundos do bronze.

A última parcial mostrou uma aproximação de Ana Marcela, enquanto a nadadora italiana distanciou-se da dupla de frente. Mas não foi o suficiente, e a brasileira terminou na quarta posição, com tempo de 2h04m15s. Viviane Jungblut fechou em 11ª, em 2h06m15s.

A disputa pelo ouro ficou entre Moesha e van Rouwendaal. A holandesa assumiu a ponta próximo do fim e até foi ameaçada pela australiana, mas conseguiu o bicampeonato. Em Tóquio, ela chegou ao posto de primeira atleta a conquistar duas medalhas na prova. Agora, passa a ser a primeira a chegar três vezes ao pódio. Moesha Johnson ficou com a prata. Ginevra Taddeucci completou o pódio.

A prova de águas abertas masculina será na sexta-feira, a partir das 2h30 (de Brasília). O Brasil tem Guilherme Costa, o Cachorrão, como representante.

CICLO DIFÍCIL, QUASE DESISTÊNCIA E FELICIDADE EM REPRESENTAR O BRASIL

Ana Marcela encarou um ciclo difícil depois do ouro em Tóquio. No final de 2022, ela foi submetida a uma cirurgia no ombro e ficou fora de competições por cerca de cinco meses. Depois, não conseguiu confirmar a vaga em Paris no Mundial de 2023, em Fukuoka. A confirmação veio no Mundial de Doha, em fevereiro deste ano.

Neste período, a nadadora baiana também mudou de rotina. Ela se mudou para a Itália, onde continuou os treinamentos junto ao técnico Fabrizio Antonelli. Os últimos meses foram dedicados à prova de hoje, inclusive abdicando de participar de etapas do Circuito Mundial de maratona aquática.

“O 4º lugar é pior que o 5º. É um abismo entre uma medalha novamente e ser por pouco”, disse Ana Marcela, com a voz embargada depois da competição, à TV Globo. “Um ano atrás, eu falei para minha família e minha psicóloga que eu queria parar de nadar. Quase deixei de ir para a seletiva olímpica. Foi um ano difícil, mas acho que, a cada treino e prova, eu me superei muito”, refletiu.

“Eu sabia que eu tava em 4º, não queria deixar ninguém passar. Mas saio feliz porque em um ano eu me reencontrei no esporte. Tenho que estar feliz. São poucos que estão aqui representando o Brasil. Meu choro é porque não sei se vou ter outra oportunidade”, completou a nadadora de 32 anos.

TREINOS ADIADOS E CASOS DE INFECÇÃO

Na véspera da prova de águas abertas, foi feito um treino de reconhecimento do Sena. Houve delegações, inclusive a brasileira, que preferiram não participar. Atletas dos Estados Unidos acompanharam o percurso fora do rio.

“Queríamos apenas mitigar ao máximo o risco”, disse Ivan Puskovitch, único atleta do país na prova masculina. “Mesmo que o rio esteja navegável e a água com níveis seguros, ainda existe algum grau de risco. E nem é preciso dizer que o risco aqui é um pouco mais significativo do que na maioria dos locais onde acontecem eventos em águas abertas”. Também foi o caso de Katie Grimes, que disputou a prova feminina nesta quinta e foi 15ª.

A World Aquatics, órgão regulador dos esportes aquáticos, havia cancelado um treino na terça-feira devido a preocupações com o nível da bactéria E. coli no curso de água. Ainda assim, o clima era de confiança por parte dos organizadores. “Não tenho medo de que os atletas adoeçam”, falou a ex-campeã mundial e integrante do comitê técnico da World Aquatics, Britta Kamrau, que ressalvou: “É natação em águas abertas. Você nunca tem a água limpa como na piscina”.

Foram cinco cancelamentos de atividades no Rio Sena desde o começo da Olimpíada de Paris devido à poluição. O primeiro treino de reconhecimento da natação para o triatlo foi adiado por dois dias seguidos. Isso levou ao adiamento da própria prova. Chegou a ser cogitado fazer a disputa sem a parte a nado. As provas puderam ser mantidas, mas, posteriormente, os treinos do triatlo misto também sofreram adiamento.

Atletas de Bélgica, Suíça e Portugal tiveram relatos de infecção gástrica após contato com as águas do Sena. Antes do processo de limpeza para os Jogos Olímpicos de Paris, a natação no local era proibida há quase um século. A ministra francesa do Esporte e a prefeita de Paris chegaram comemorar a limpeza com um nado no rio francês.

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