Análise: Bia Haddad pode fazer fã brasileiro voltar a sonhar grande em 2023

15/01/2023 08:30
Por Felipe Rosa Mendes / Estadão

Em 2022, a promessa virou realidade. Na atual temporada, Beatriz Haddad Maia pode ir além e fazer o brasileiro sonhar novamente com grandes títulos, como fez Gustavo Kuerten há mais de 20 anos. Teremos uma nova campeã de Grand Slam em simples? Os brasileiros vão voltar a buscar o tênis na TV, como fizeram no fim da década de 90, à procura dos jogos de Guga?

As respostas cabem ao tempo. Fato é que nunca tivemos uma tenista de simples tão bem preparada para brilhar e, quem sabe, trilhar os mesmos caminhos de Maria Esther Bueno, a única brasileira a levantar troféus de Grand Slam em simples na história do tênis brasileiro.

A alta expectativa sobre Bia não é descabida. Tem relação direta com os degraus que ela vem subindo a cada temporada, desde a época de juvenil, quando era treinada por Larri Passos. Sim, aquele mesmo de Guga. No profissional, Bia soube tomar boas decisões quanto a treinadores e hoje colhe os frutos deste aprendizado. É quase uma regra ouvir a tenista elogiar Rafael Paciaroni, seu técnico atual, em suas entrevistas.

Com sua nova equipe, formada aos poucos em meio à pandemia, Bia superou o grande obstáculo de sua carreira: as lesões. Desde que ela despontou no circuito, os problemas físicos são a única constante. Foram cirurgias no ombro e nas costas, fratura no braço, acidente doméstico e até um tumor benigno na mão esquerda.

Essa rotina de lesões começou a mudar em 2021, em seu retorno ao circuito após cumprir suspensão por doping. Mais madura, começou a entender melhor o seu corpo e estabeleceu como prioridade o bem-estar físico e a regularidade. Naquele ano, emplacou uma série de 21 torneios seguidos, sem qualquer interrupção por lesão, algo raro em sua carreira. Em 2022, viveu enfim seu primeira temporada sem qualquer problema físico.

O crescimento técnico ficou escancarado ainda em 2021, quando exibiu uma sequência de dez finais e nove títulos em poucos meses, ainda que em torneios menores. Ela jogava o que acreditava ser o seu melhor tênis. Até iniciar a temporada 2022. Bia foi vice-campeã de duplas no Aberto da Austrália, um feito histórico para o tênis feminino e um aperitivo do que viria pela frente.

Foram dois títulos e três finais de nível WTA. Curiosamente, os troféus vieram na grama, superfície onde Maria Esther brilhou com regularidade. Teve ainda um título e um vice nas duplas. Como consequência, disparou nos dois rankings. Em simples, fez história com a melhor colocação de uma brasileira na história – não havia essa lista na época de Maria Esther. Chegou ao 15º posto, que ainda sustenta. Nas duplas, atingiu o 12º lugar.

Diante da evolução gradual ao longo dos anos, a boa performance em 2021 faz 2022 parecer um ensaio do que está por vir neste ano. Até mesmo Guga Kuerten previu a ascensão da compatriota. “A Bia é uma menina que a gente sabia que iria vingar. Eu sempre dizia que ela precisaria jogar uns dois, três anos seguidos sem ter nenhum tipo de intervenção…”, afirmou o ex-número 1 do mundo ao Estadão no ano passado.

O próprio Guga é a referência para avaliar o crescimento de Bia. Sua temporada 2022, em termos de conquistas e subida no ranking, só se compara a 2001, segundo melhor ano da carreira do tricampeão de Roland Garros.

Para este ano, Bia deve romper a barreira do Top 10, algo ainda inédito para uma tenista brasileira de simples. Ela conta com recursos técnicos e trabalho sólido também para ir longe nos quatro Grand Slams da temporada, até mesmo na grama de Wimbledon. O Aberto na Austrália, que começa na segunda-feira, será seu primeiro grande teste.

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