‘Animal’, de Cyril Dion, abre festival de filmes com temática ambiental
É uma cena impactante – chocante? A câmera de Cyril Dion acompanha Bella e Vipulan. Eles tentam entrevistar um deputado do Parlamento Europeu, interrogando-o sobre uma ajuda que acaba de ser votada – e aprovada – para a pesca intensiva na Espanha. Por mais importante que seja, do ponto de vista econômico, esse tipo de pesca representa um risco para o meio ambiente. O deputado, apesar da câmera, os ignora. Entra no elevador – um colega pergunta: “Quem são essas crianças?” O deputado olha a dupla com cara de quem está se lixando. Fecha a porta do elevador na cara dos dois.
A cena é do filme Animal, de Cyril Dion, que abre em São Paulo nesta quarta, 27, às 19h30, para convidados, no Reserva Cultural, o Ecofalante, festival de filmes com temática socioambiental. O cartaz de Animal é dos mais belos que existem. Uma redoma protege uma fatia da natureza – uma árvore e um par de elefantes. Olhando para eles, do lado de fora, e de costas, Bella e Vipulan. O letreiro: “Cada geração tem o seu combate. Esse é o nosso”.
Numa entrevista por telefone, de Roma, onde passa férias com a família, Cyril Dion conta: “Escolhi esses jovens de 16 anos e os levei nessa jornada pelo mundo porque acredito, sinceramente, na força dessa garotada que representa a esperança no futuro. Fala-se muito, hoje, na necessidade de preservar o meio ambiente. As gerações mais velhas, em sua ganância pelo lucro, nos trouxeram até aqui. A esperança está na nova geração que representa o futuro, em Bella e Vipulan”.
E prossegue: “Levei-os nessa viagem porque, através deles, quero mostrar o estado do mundo. A poluição dos oceanos, a quase extinção de animais, o desmatamento, a emissão de carbono. A verdadeira viagem que o filme propõe é interior. Precisamos mudar para preservar. Essa luta tem sido dos jovens, é preciso que se diga”. E Dion reflete: “Fomos consultar especialistas em diferentes partes do globo. Todos têm respostas e teorias sobre o que é preciso fazer, mas a questão é política. O que tem faltado, veja o caso do Brasil, é vontade política para enfrentar os problemas. Não existe controle ambiental sem democracia, assim como não há consciência sem empenho individual. Basta dar um Google que você já fica informado, mas também é preciso querer”.
A poluição dos oceanos já era um tema abordado na ficção de Aquaman, com Jason Momoa. A visão da praia poluída na Índia, os vestígios de plástico encontrados em peixes e outros animais marinhos, até em humanos. A satisfação daquela mulher que aprende a atirar para poder abater animais em caçadas na África – o leão atingido. O longa de Cyril Dion marcará um grande começo para o Ecofalante de 2022, que prossegue até 17 de agosto em mais de 30 cinemas e espaços culturais de São Paulo e online para todo o Brasil. Todas as sessões são gratuitas. Animal, especificamente, terá nova exibição no CCSP, em 4 de agosto, às 15h. De 12 a 16 de agosto estará no online, integrando o eixo biodiversidade do Panorama Internacional Contemporâneo.
PERRIN
Só para lembrar, o diretor Dion já participou de outro Ecofalante, em 2015, com Amanhã. Esta edição do evento homenageia o ator e diretor Jacques Perrin, morto em 21 de abril, aos 81 anos. “É realmente uma honra mostrar Animal num evento que homenageia Jacques. Uma fatia importante de sua extensa obra é dedicada a questões ambientais. Migração Alada, Oceanos e Os Povos da Floresta foram inspiradores para mim.” O 11º Ecofalante apresenta 105 filmes de 35 países.
A programação inclui homenagem a Sarah Maldoror, pioneira do cinema africano que morreu de covid, em 2020, e a comemoração dos 40 anos de Koyaanisqatsi, de Godfrey Reggio, com aquela partitura de Philip Glass. A par de obras premiadas em diversos festivais internacionais, a programação contempla duas preciosidades. A série Uprising, de Steve McQueen, feita para a BBC, sobre os protestos de negros na Inglaterra, em 1981, na sequência do que ficou conhecido como Fogo de New Cross, incêndio que matou 13 jovens que participavam de uma festa no sudeste de Londres, e o novo documentário de Vincent Carelli, Adeus, Capitão.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.