Apetite por risco põe Ibovespa em novo recorde, perto dos 136 mil pontos

19/ago 17:53
Por Luís Eduardo Leal / Estadão

Depois do leve ajuste de -0,15% na última sexta-feira, quando interrompeu série de oito sessões em alta que o levou a máxima história intradia, o Ibovespa retomou a ascensão nesta abertura de semana, alcançando também no fechamento novo patamar recorde, quase aos 136 mil pontos – superando marca que vinha do encerramento da penúltima sessão de 2023, em 27 de dezembro, então aos 134.193,72 pontos.

Nesta segunda-feira, o índice da B3 oscilou entre mínima de 133.953,32 e máxima de 136.179,21 pontos, novo recorde intradia. Ao fim, mostrava alta de 1,36%, aos 135.777,98 pontos, com giro financeiro a R$ 25,5 bilhões na sessão.

Em agosto, o Ibovespa acumula ganho de 6,37% no mês, que o coloca no positivo no ano (+1,19%). Na B3, destaque nesta segunda-feira para o forte desempenho do setor metálico em sessão de alta para o minério na China, e também para as ações de bancos, com Bradesco (ON +5,62%, PN +4,48%), Vale (ON +1,60%), Usiminas (PNA +6,91%), CSN (ON +6,19%) e Gerdau (PN +2,50%).

Na ponta vencedora do índice nesta segunda-feira, ganhos de dois dígitos para empresas do ciclo doméstico, como Petz (+23,87%) e Lwsa (+12,74%), além de Marfrig (+13,19%), CVC (+12,04%) e Magazine Luiza (+10,65%). No lado oposto, vieram Weg (-2,74%), Prio (-2,66%), Sabesp (-1,22%) e 3R Petroleum (-1,10%).

“O aparente alinhamento entre as falas do presidente Lula e do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, parece ser o ‘driver’ da alta de hoje”, diz Inácio Alves, analista da Melver.

O efeito foi visível também no câmbio – com o dólar em baixa de 1,02%, a R$ 5,4120 – e na curva do DI, que retrocedeu na sessão, refletindo ainda o apetite por risco no exterior. Em Nova York, destaque nesta segunda-feira para o Nasdaq, em alta de 1,39% no fechamento.

Os contratos futuros do petróleo recuaram mais de 2,5%, nesta segunda-feira, após acelerarem queda no fim do pregão, em meio a expectativas por um acordo de cessar-fogo em Gaza. Investidores também monitoraram sinais de fraqueza na demanda da China, Assim, o avanço do Ibovespa não foi maior na sessão porque Petrobras fechou em baixa (ON -0,77%, na mínima do dia no encerramento; PN -0,16%), destoando do movimento observado nas demais blue chips nesta segunda-feira.

No quadro doméstico, Alves, da Melver, destaca “falas duras” de Galípolo com relação a inflação e Selic, bem como a queda das expectativas para o IPCA, de acordo com o Boletim Focus, de 4,20% para 4,05%. “Expectativas são o que explica o que se viu hoje”, aponta também Gabriel Meira, sócio da Valor Investimentos, com revisões, para cima, na expectativa para a Selic no fim do ano, mesmo considerando a possibilidade de que o Federal Reserve venha a cortar juros nos Estados Unidos.

“Várias casas estão revisando o cenário para Selic no final do ano, com estimativas que chegam a 11,75% para a taxa básica de juros – ou seja, 1,25 ponto porcentual acima do nível em que está hoje”, acrescenta Meira, referindo-se também à perspectiva de “soft landing” nos Estados Unidos, sem ajuste abrupto nos juros de referência americanos. “A queda dos juros nos Estados Unidos tende a ser tranquila, é o que se espera de momento, o que ajuda aqui com a Selic” – e que se reflete também na recente apreciação do real frente ao dólar, aponta o analista.

“Os dados mais recentes sobre a economia americana têm contribuído para afastar os temores quanto a uma possível recessão por lá”, diz Marcos Moreira, CFA e sócio da WMS Capital, destacando o arrefecimento da inflação e a convergência gradual para o centro da meta. “Perspectiva mais favorável sobre a economia americana melhora, também, o cenário doméstico, considerando que os juros de lá devem ser cortados já em setembro, aliviando prêmio de risco por aqui.”

Moreira acrescenta que, no âmbito doméstico, “a economia brasileira segue aquecida, com expectativa maior para o PIB de 2024, acima do que o mercado projetava há poucos meses, com desemprego ainda bastante contido”. Segundo ele, “o cenário macroeconômico positivo se reflete nas expectativas de lucro das empresas, marginalmente maiores, o que se transmite para os preços de ativos”, como ações.

“A Bolsa brasileira segue bastante descontada, na comparação com os pares emergentes e também em relação a seu padrão histórico. A razão Preço/Lucro permanece abaixo de 8 vezes, considerando média histórica a 11 vezes”, observa. “Há desconto ainda muito relevante sobre a mesa.”

Entre as ações em destaque na sessão, o avanço em torno de 5% para Bradesco foi favorecido pela recomendação de compra feita pelo Goldman Sachs, com “resultados do segundo trimestre acima do esperado”, o que reforça a perspectiva de recuperação para os papéis, aponta Hemelin Mendonça, sócia da AVG Capital.

Ela ressalta também o desempenho de ações correlacionadas ao ciclo doméstico, como as da varejista Magazine Luiza, papéis sensíveis à perspectiva de crescimento mais firme para o PIB. “Além disso, as projeções do câmbio e juros, mais estáveis, beneficiam a varejista, bem como as operações digitais da empresa, que estão impulsionando as vendas.”

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