Após falar com papa, Lula pedirá a ditador Ortega que liberte bispo católico preso na Nicarágua

22/06/2023 08:29
Por Felipe Frazão, enviado especial / Estadão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira, 22, que vai tentar mediar a relação da Igreja Católica com a ditadura de esquerda de Daniel Ortega, na Nicarágua. Após uma audiência com o papa Francisco no Vaticano, Lula disse que vai conversar com Ortega para que liberte o bispo de Matagalpa, Rolando Álvarez, que está em prisão domiciliar e foi condenado a 26 anos pelo regime sandinista.

“A Igreja está com problema na Nicarágua, porque tem bispo preso. A única coisa que a Igreja quer é que a Nicarágua libere o bispo para vir para a Itália. E eu pretendo falar com Daniel Ortega a respeito, para ele liberar o bispo. Não tem por que o bispo ficar impedido de exercer suas funções na Igreja. Não existe essa possibilidade. Eu vou tentar ajudar se puder ajudar”, disse Lula, em entrevista coletiva na Itália.

Lula manifestou discordância da prisão do religioso e fez uma crítica indireta a Ortega. Ele sugeriu que o ditador errou e deveria pedir desculpas.

“Essas coisas nem sempre são fáceis, porque nem todo mundo é grande de pedir desculpas. A palavra desculpa é simples, mas ela exige muita grandeza, você reconhecer que cometeu uma coisa errada. Não é todo homem que tem coragem de falar ‘eu errei e vou mudar de posição’. É um trabalho de convencimento e tenho muita paciência, eu sou muito tolerante das conversas. Vou tentar ajudar”, disse Lula.

Lula possui uma relação amistosa de longa data com ditador nicaraguense. Ele já defendeu Ortega publicamente, apesar do isolamento do país e das críticas de violações de direitos humanos e falta de alternância no poder.

O Brasil ofereceu acolhida no País a nicaraguenses que perderam a nacionalidade por decisão do governo e manifestou preocupação com violações, no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.

No entanto, o governo evitou assinar uma resolução que citava crimes contra a humanidade do regime. O tema é incômodo e foi usado contra Lula nas eleições brasileiras. O presidente evitada se pronunciar sobre o assunto.

O bispo é o principal nome da Igreja Católica atingido por restrições à liberdade impostas por Ortega, num recrudescimento do regime. Acusado de traição da pátria, o clérigo se recusou a deixar o país junto a um grupo de mais de 200 deportados aos Estados Unidos, entre eles padres e seminaristas.

Ortega também fechou veículos de comunicação, tomou escolas e expulsou da Nicarágua ordens de freiras e o núncio apostólico, representante diplomático da Santa Sé.

Como o Estadão revelou, o assunto era um dos previstos pelos diplomatas para entrar na pauta da conversa reservada entre o papa e o presidente do Brasil, assim como as situações de desrespeito aos direitos humanos em Cuba e na Venezuela.

Logo depois da audiência, o Vaticano disse que o papa e Lula “trocaram impressões sobre a situação sociopolítica” na América Latina.

Questionado se sugeriria ao sandinista que fizesse um pedido de desculpas formal ao Vaticano, ao fim, Lula disse que ainda precisava conversar com Ortega.

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