Após passar em branco em Tóquio, Brasil volta ao topo do pódio no vôlei de praia com Ana Patrícia e Duda

09/ago 19:26
Por Ricardo Magatti / Estadão

País com mais medalhas no vôlei de praia em Olimpíada, agora com 14, o Brasil voltou ao topo da modalidade. Na final do feminino dos Jogos de Paris-2024, Ana Patrícia e Duda derrotaram as “catimbeiras” canadenses Melissa Humana-Paredes e Brandie Wilkerson por 2 sets a 1 – parciais de 26/24, 12/21 e 15/10 – e subiram no lugar mais alto do pódio. Trata-se do terceiro ouro do Time Brasil na capital francesa, todos conquistados por mulheres – a judoca Bia Souza e a ginasta multimedalhista Rebeca Andrade haviam ganhado antes.

Em Tóquio-2020, disputado em 2021, o Brasil não subiu ao pódio no vôlei de praia. Foi a primeira e única vez desde que a modalidade entrou no programa olímpico em Atlanta-1996. Na capital francesa, as brasileiras coroaram a trajetória perfeita, sem derrotas, com o ouro, conquistado graças à dura vitória sobre as canadenses. Foram apenas dois sets perdidos em sete partidas e um desempenho em alto nível na arena montada aos pés da Torre Eiffel mostrado pela dupla que lidera o ranking mundial.

“É uma coisa surreal. A gente viveu, sonhou, lutou e conseguimos, depois de 28 anos. É inexplicável. A gente nunca mais vai esquecer desse momento”, comemorou Duda.

“Estou tentando processar ainda. Acho que a gente nunca se deslumbrou com esse fato de ser a número 1 do ranking e sempre acreditamos muito nesse trabalho. Depois de (Tóquio) recebi tanta mensagem de julgamento, de pessoas que queriam que eu desistisse. Agora, eu queria agradecer a muitas pessoas, a Deus, mas especialmente a mim mesma. Muita gente fala muita coisa. Mas, agora quando forem falar, falem também que a gente deu o sangue para sermos campeãs olímpicas”, desabafou Ana Patrícia.

Ainda que tenha tradição no vôlei de praia, o Brasil só havia sido campeão olímpico no feminino na estreia do esporte, em Atlanta-1996, Jogos em que o País levou o ouro e a prata, com Jackie Silva/Sandra Pires e Mônica/Adriana Samuel, respectivamente.

Juntas desde 2022, Duda e Ana Patrícia adicionam ao currículo o título mais importante da carreira. Já haviam sido campeãs mundiais em 2022 e vice no ano passado. Mas o ouro olímpico tem um sabor especial para Duda Lisboa, sergipana de Aracaju que começou bem pequena no vôlei de praia acompanhando a mãe e ex-jogadora Cida Lisboa, e Ana Patrícia, mineira de Espinosa, que jogou handebol e também vôlei de quadra, mas se encontrou, mesmo, nas areias.

Ana Patrícia e Duda puseram o ouro no pescoço porque foram melhores. Fizeram campanha irretocável, com sete vitórias em sete partidas e apenas dois sets perdidos. Não sentiram a pressão em cima delas por serem as melhores do mundo, passando de fase com sobras e eliminando japonesas, letãs, australianas e canadenses.

Sobraram empenho, concentração e técnica para a dupla brasileira, sobretudo no primeiro set, em que tiveram de tirar larga desvantagem. Começaram mal e viram as canadenses abrirem seis pontos (8 a 2) no início. No entanto, a melhor dupla do mundo pôs a cabeça no lugar e a bola no chão.

A dupla do Brasil foi protagonista de uma reviravolta empolgante nas areias de Paris depois de tomarem melhores decisões. O acirrado e estendido set foi fechado em 26 a 24 com um ponto de muito recurso de Duda, que passou de manchete para o outro lado para surpreender as rivais do Canadá. Houve, também, ace, bloqueio e uma defesa de cabeça da gigante Ana Patrícia.

O foco que sobrou no primeiro set às brasileiras faltou no segundo. O início foi equilibrado, com leve predomínio da dupla do Brasil. Mas, depois disso, viram as canadenses reagir, com incríveis 13 pontos contra somente dois das brasileiras. Elas desgarraram com saque forte e defesa segura, explorando erros de Ana Patrícia e Duda até ganhar com vantagem considerável, fechando em 21 a 12.

No tie-break, Ana Patrícia e Duda recuperaram a energia e a concentração. Voltaram a encaixar seu jogo e lideraram toda a parcial, sem deixar as oponentes encostarem. Até que aconteceu um bate-boca na parte final do set, quando o Brasil ganhava por 11 a 8.

Porém, nem a discussão nem a catimba das canadenses tiraram o foco das brasileiras, que ouviram a torcida gritar mais alto nas arquibancadas e o DJ tentar aliviar a tensão com a pacífica “Imagine”, de John Lennon. Vitória confirmada por 15 a 10 e o terceiro ouro para o Brasil em Paris. Festejaram o título ao som de Ivete Sangalo e Ludmilla e foram agradecer ao apoio dos muitos brasileiros nas arquibancadas.

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