Apreensões de cocaína aumentaram cerca de 109% em um ano
Se tornando cada vez mais acessível e popular, o consumo de cocaína vem aumento em todo o território nacional. O Brasil já é considerado o segundo país do mundo no consumo da droga, perdendo apenas para os Estados Unidos. Em Petrópolis, a situação não é diferente e dados do 26º Batalhão da Polícia Militar (BPM), divulgados com exclusividade para a Tribuna, mostram que a realidade na cidade em relação ao consumo deste tipo de entorpecente é bem parecido com o restante do país.
De acordo com o levantamento da Polícia Militar, houve um aumento de cerca de 109% na quantidade de apreensões de cocaína em um ano na cidade. Em 2018, foram apreendidos 102 quilos da droga. No ano passado, este número passou para 214 quilos. Em contrapartida, o volume de apreensões de maconha caiu cerca de 47% no mesmo período. Em 2018, foram 112 quilos do entorpecente apreendidos pela PM. Em 2019, caiu para apenas 59 quilos.
Para o psicólogo Rui Carlos Stockinger, o consumo de maconha no país ainda é grande, mas a cocaína vem ocupando esse espaço, principalmente nas classes mais altas. “O consumo de drogas em Petrópolis é alto, especialmente entre os jovens. Temos estudos que mostram que, com 10 anos de idade, a criança já experimentou o primeiro cigarro de maconha. Temos atualmente um fácil acesso às drogas, como a cocaína e as sintéticas, por exemplo”, disse o psicólogo.
Rui ressalta que a sociedade vive a cultura da fuga da frustração, principalmente entre os jovens, o que leva a procura pela droga. “O jovem não quer lidar com as frustrações e com as decepções. Como não consegue enfrentar as situações desagradáveis, a droga tanto ilícita quanto lícita, nesse caso estamos falando do álcool, ocupa esse espaço”, comentou. “Temos uma sociedade extremamente compulsiva e vivendo a cultura dos excessos. Excesso pela comida, pelas atividades físicas, pela internet. Tem uma busca pelo prazer imediato e as drogas acabam inseridas nesses excessos. Ocupam um espaço prazeroso e como é momentâneo, a busca também neste caso é excessiva”, acrescentou o psicólogo.
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Além da quantidade de apreensões feitas pela Polícia Militar, os dados do Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas (CAPs III AD) comprovam o aumento do consumo de drogas na cidade. A unidade, que é administrada pelo município, realiza 1.400 atendimentos por mês. São oferecidas consultas médicas, terapias em grupos e individuais, oficinas e serviço de farmácia.
A cidade também conta com unidades particulares que atendem dependentes químicos, além de comunidades terapêuticas que realizam o atendimento a esses pacientes. Entre eles, está o Oficina de Jesus (Padre Quinha), que tem um serviço também voltado para a população de rua. A Tribuna questionou a Prefeitura sobre a quantidade de clínicas e comunidades terapêuticas que existem na cidade, mas até o fechamento desta edição não obteve resposta.
O psicólogo Rui Carlos Stockinger orienta que o tratamento da dependência química deve ser feito com uma equipe especializada. “Em primeiro lugar, esse paciente não deve ser julgado. Ele precisa de ajuda e isso leva tempo. A família também pode e deve procurar ajuda porque é um processo que envolve todo o núcleo familiar”, pontou. Atendimento deve ser com psicólogos e psiquiatras. Na rede pública, as consultas são feitas pelo CAPs, mas os pacientes também podem buscar orientações no Ambulatório de Saúde Mental e nos postos de saúde.
SUGESTÃO DE OLHO
“Em Petrópolis, já conseguimos perceber esse cenário. A cocaína, assim como as drogas sintéticas, são bem procuradas e o uso entre os jovens vem aumentando. As drogas sintéticas, por exemplo, são comuns em festas e não temos registros de grandes apreensões na cidade. É possível encontrar esse tipo de droga sendo vendida na 16 de Março, em plena luz do dia. Boa parte das apreensões acontecem nas comunidades, nas áreas mais carentes onde a cocaína e a maconha são mais encontradas”, psicólogo Rui Carlos Stockinger.