Arcangélicas preguiças

04/06/2018 12:50

Um país sobre rodas. A paralisação dos caminhoneiros nessa semana que passou expôs a dependência da produção agrícola e pecuária das vias de transporte rodoviário. As ferrovias, as vias marítimas e fluviais poderiam ser mais utilizadas. 

Diante de situações tão caóticas, percebe-se que o berço no qual o país vive deitado está perdendo o esplendor. Por isso o povo começa a despertar. Abusaram da “arcangélica preguiça”; os “jeitinhos” estão diminuindo, as notícias manipuladas já não têm os mesmos êxitos. 

Esse movimento merece uma análise mais profunda. Não dar para tecer comentários pautados só nas informações da mídia. 

Antes de tudo, é preciso dizer que ele é diferente de outros liderados por um sindicato específico, com um presidente capaz de conduzir as decisões por meio de assembleia. Neste, há representantes que não lideram, como há líderes que não são representantes. Por isso que o governo encontrou dificuldade para negociar. 

É válido destacar também que 54% da frota de caminhões no Brasil pertencem às transportadoras; os autônomos possuem 46%. Esses dados foram apresentados pela Confederação Nacional de Transporte (CNT). Com base também nesses números, surgiu a hipótese do locaute, uma vez que não foram levantadas as questões trabalhistas comuns nas negociações entre patrão e empregado. As reivindicações estão mais voltadas para o preço do diesel, dos pedágios e o valor dos impostos. Tais reivindicações beneficiam mais as transportadoras e os caminhoneiros autônomos. As condições de trabalho dos que são empregados com carteira assinada estão “estacionadas” no acostamento. E as condições das estradas também não entraram nas exigências.

O artigo 17 da lei 7.783/89 é que impede a prática do locaute: "Fica vedada a paralisação das atividades, por iniciativa do empregador, com o objetivo de frustrar negociação ou dificultar o atendimento de reivindicações dos respectivos empregados (lockout)".

Mas, ao trabalhador, é assegurado o direito de greve pelo Artigo nº 9 da Constituição Federal de 1988: “É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.”

Outro ponto que merece destaque está na forma de condução desse movimento: a comunicação pelas redes sociais tirou da mídia global o domínio sobre a informação. “As antenas de tv” já não são tão usadas. E por esse caminho, o povo está se organizando, apesar das falsas notícias usadas para confundi-lo. Estamos em uma nova era da comunicação e isso permitiu uma nova forma de organização social. Em cada celular, uma câmera, um gravador. Tais ferramentas precisam ser usadas para ampliar o senso crítico, para não perdermos as “fecundas e arcangélicas preguiças”, que o poeta Cruz e Sousa cita no soneto “Livre”, ou seja, a nossa tranquilidade. 

“Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!” Por esse verso do soneto “A Pátria” do poeta Olavo Bilac, que tanto recitei na adolescência, quero expor a minha opinião: sou contra a privatização da Petrobras. São visíveis as tentativas de desvalorização para privatizá-la. A Petrobras é um patrimônio nacional. Mantê-la é defender a nossa soberania. Temos condições de produzir o petróleo para atender ao mercado interno. E com isso, oferecer um combustível mais barato.

É preciso dizer também que a população apoia a luta dos caminhoneiros, não os oportunistas que querem pegar carona nesse movimento: – para que intervenção se temos o voto para expurgar a demagogia?


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