Áreas suscetíveis à inundação ficam fora das ações de prevenção de desastres

15/03/2022 05:00
Por Luana Motta

Vinte minutos. Esse é o tempo necessário para que o Rio Quitandinha transborde em um dia de chuva forte. Não precisa ser uma chuva duradoura, uma pancada intensa é suficiente para inundar e bloquear dois trechos críticos da Rua Coronel Veiga, na altura do Instituto Teológico Franciscano e na altura da concessionária Eurokraft – Volkswagen. Somente neste ano, até o dia 08 de fevereiro, a via foi fechada oito vezes pela Defesa Civil, devido ao risco de inundação. Sem intervenções definitivas e, ainda, sem investimento em um sistema de Alerta e Alarme, prejuízos em decorrência de inundações como a que aconteceu no dia 15 de fevereiro, vão se repetir. 

Das 233 vítimas da tragédia, ainda não se sabe quantas foram vítimas de afogamento no trecho das ruas Coronel Veiga, Washington Luiz e Imperador. Nas primeiras horas, na madrugada do dia 16, bombeiros, policiais militares e socorristas retiraram pelo menos seis corpos da Rua do Imperador. Essas foram as vítimas contabilizadas por populares, já que nenhum órgão oficial respondeu até agora onde cada uma das 233 pessoas foram retiradas. 

Ainda que a chuva, segundo a Defesa Civil do município, era prevista, e ocorreu em um volume muito acima do esperado pelos órgãos de monitoramento, as inundações na Rua Coronel Veiga não são pontuais. Diferente do que acontece nas localidades onde há risco de deslizamento, onde as sirenes do Sistema de Alerta e Alarme são acionadas com aviso de chuva forte, em relação aos rios o bloqueio das vias próximas, só acontece quando a ameaça é iminente, e isso aconteceu no dia da tragédia em 15 de fevereiro. 

Primeiro aviso para chuva forte foi emitido durante a tempestade

A chuva começou bem perto das 16h; às 16h03 a Rio Quitandinha já transbordava na altura do número 1.276; às 16h17, a Defesa Civil divulgou o primeiro boletim alertando que a Rua Coronel Veiga estava fechada entre as Duas Pontes e a Ponte Fones, assim como a Rua Olavo Bilac, por conta do alagamento. E somente depois de uma hora de tempestade, às 17h, a Defesa Civil divulgou um novo boletim informando o estágio de alerta e o acionamento do primeiro toque das sirenes para o primeiro distrito.  

Na terça-feira, o sistema de alerta via SMS foi disparado às 15h23 com previsão de pancadas de chuva moderada/forte, quase simultâneo ao início da chuva no primeiro distrito; e um segundo aviso às 17h06 com alerta de inundações para diversos pontos da cidade, com atenção para os 1º e 2º distritos, uma hora após o início do transbordamento dos rios. 

O protocolo de acionamento das sirenes do Sistema de Alerta e Alarme é acionado em dois diferentes momentos: o de possibilidade de chuvas fortes e o de risco de deslizamentos generalizados nas comunidades, para as pessoas que moram em áreas de risco saiam de suas casas e busquem um abrigo seguro. Mas em locais de risco de alagamento e inundação, não há sistema de alerta preventivo e nem mesmo o de risco iminente. O único protocolo adotado é o fechamento da rua.  

Defesa Civil diz que utiliza dados do INEA como base para fechamento da via

Em resposta à reportagem, a Secretaria de Defesa Civil disse que o Centro Integrado de Monitoramento e Operações de Petrópolis (CIMOP) possui duas câmeras ao longo da Rua Coronel Veiga. E que em dias de chuva forte, as câmeras auxiliam o acompanhamento de inundações pela região. 

A Defesa Civil disse que toma como base a cota de transbordamento considerada pelo Instituto Estadual do Ambiente (INEA), que é quando atinge o nível de 2,3 metros de volume de água no Rio. As equipes da Defesa Civil são designadas para o fechamento da via a partir do alcance de 70% dessa cota. 

No dia 15 de fevereiro, ainda pela manhã, às 9h09, o Alerta de Cheias do Inea deu o primeiro aviso sobre a possibilidade de chuva forte para as regiões do Piabanha, Rio Dois Rios e Baixo Paraíba do Sul e Itabapoana, devido à frente fria.  E às 16h09, emitiu o segundo alerta de possível elevação dos rios em função da chuva, especificamente para Petrópolis – neste horário, o Rio Quitandinha já começava a transbordar. E os alertas seguiram: das 16h20 – transbordamento do rio na altura da Rua Coronel Veiga até às 23h26, alertando sobre a subida do nível do Rio Palatinato na altura do Alto da Serra. 

De acordo com a Defesa Civil, a partir do registro elevado de chuva, as equipes redobram o monitoramento pelas câmeras e havendo indicativo de inundação, as equipes – com o apoio da Guarda Municipal e da Companhia Petropolitana de Trânsito e Transportes (CPTrans) – são deslocadas para a localidade para proceder com o fechamento da via. No dia 15 de fevereiro, a Rua Coronel Veiga e outras principais ruas da cidade foram inundadas em um intervalo de 1 hora. 

Falta de investimento no Sistema de Alerta e Alarme

Trechos críticos e suscetíveis a inundações não receberam atenção dos governos nos últimos 10 anos. Com exceção da região do Vale do Cuiabá, que possui sistema de sirenes para o risco de inundações, nenhum outro ponto da cidade possui o sistema. Além da Coronel Veiga, Bingen, Centro e Corrêas frequentemente entram no noticiário devido aos alagamentos ou inundações durante as chuvas de verão. A Rua Coronel Veiga, até mesmo em chuvas fortes ocasionais em outras estações do ano, geram transtorno.  

Após o desastre de 2011, a Secretaria de Estado de Defesa Civil (Sedec-RJ) implantou o Sistema de Alerta e Alarme por sirenes em pelo menos 20 municípios, entre eles, Petrópolis. Na ocasião, a medida foi adotada em apoio às prefeituras, por prazo definido até que os municípios pudessem assumir a gestão e custeio do sistema. O que não aconteceu em Petrópolis. 

De acordo com o Governo do Estado, embora tenha assumido a gestão do sistema de prevenção, a responsabilidade pela manutenção e ampliação do equipamento é do município. Há quase 11 anos com o sistema em funcionamento, Petrópolis não fez nenhum esforço para a ampliação e melhoramento do sistema. 

Questionada pela reportagem, a Defesa Civil do município informou que após as ocorrências em função das últimas chuvas de fevereiro, a Defesa Civil trabalha na reavaliação das áreas de risco, que receberão indicação para a instalação do Sistema de Alerta e Alarme. E que somente após essa análise será possível um planejamento para a instalação do sistema em novas áreas.

Últimas