Árvores: patrimônio abandonado da cidade

05/11/2017 08:30

O Centro de Petrópolis possui um rico conjunto arbóreo que faz parte do patrimônio histórico da cidade. A maioria das árvores são muito antigas, e algumas espécies vieram na colonização. Beleza natural que conquista a admiração de moradores e visitantes. No entanto, este patrimônio parece que tem sido deixado de lado. Em uma breve caminhada pelas ruas do Centro Histórico, é possível ver árvores que há muito tempo não recebem cuidados, com excesso de bromélias, ervas-de-bicho e necessitando de podas.

Nas principais ruas do Centro é possível ver as árvores sofrendo com o desgaste causado pelo tempo e a falta de manutenção. A Avenida Barão do Rio Branco, Avenida Koeler, Rua do Imperador e Avenida Presidente Kennedy, também conhecida como Avenida Piabanha, que possuem árvores na beira dos rios, mostram bem o problema. Em alguns pontos da Av. Piabanha as árvores estão com galhos grandes já próximos aos fios, bromélias em excesso pesando nos galhos, e algumas com podas que em vez de ajudar, só prejudicaram o estado da árvore.

Quem mora na localidade, e acompanha mais de perto a situação, lamenta a falta de atenção com arboreto. Hélio Werneck, 67 anos, mora a vida toda no local, e conta que os galhos que tombam para a rua tem sido motivo de preocupação para moradores e passantes. “Algumas árvores estão com os galhos muito grandes, outras com pragas, sem contar algumas sapucaias da cidade que morreram. Não é feita a manutenção periódica, esperam a árvore cair para se mexer. Se não for feito logo alguma coisa, vamos perder árvores centenárias”, lamentou. 

A engenheira florestal Erika Melo, acompanhou nossa equipe durante uma caminhada pela Av. Piabanha, e destaca algumas medidas que podem ser tomadas para que estas árvores sejam preservadas. “É evidente a necessidade de fazer um levantamento das espécies, para que seja feito um acompanhamento destas árvores. Falta investimento em profissionais e talvez até em equipamentos. O conjunto arbóreo da cidade é muito extenso, é uma pena ter poucos profissionais para fazer este controle”, lamentou.

Atualmente a cidade não possui um inventário que mapeie as áreas do centro histórico, discriminando espécie, nome, estado de conservação, os dados necessários para o monitoramento do arboreto. “A partir do inventário é possível programar as podas, por exemplo. Quando tem uma chuva forte, a Secretaria de Meio Ambiente já saberia quais árvores correm o risco de tombar. Poderia ser um trabalho de prevenção dos acidentes”, alertou, a especialista. 

A ambientalista Myriam Born, também é moradora da Avenida Piabanha, e relata sua preocupação com a rua. “Esta é uma parcela imensa da cidade que está se perdendo. Já que vão fazer a iluminação de natal da cidade poderiam aproveitar a oportunidade para fazer a manutenção e limpeza destas árvores. Tem árvores que estão se transformando em um risco eminente. Deveriam fazer um plano que contemple a preservação e estas características da cidade”, disse. 



A demora na execução dos projetos tem agravado a situação

O processo burocrático tem sido o maior inimigo. A Tribuna vem denunciando já há alguns meses os problemas visíveis no arboreto do Centro Histórico. Há cerca de dois meses, após denúncias de moradores, a prefeitura informou que a Secretaria de Meio Ambiente fez uma vistoria na Avenida Piabanha, e que encaminharia um relatório ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão responsável pelo patrimônio histórico da cidade, solicitando autorização para a realização dos trabalhos de conservação destas árvores. 

Agora, novamente questionado, o Iphan informou que “solicitou que, para cada árvore que fosse retirada, a Secretaria de Meio Ambiente enviasse o relatório fotográfico referente ao plantio de nova muda para compensação, ou justificativa com previsão para o efetivo plantio, e que até o momento não receberam nenhum documento neste sentido, e que procederiam com uma nova solicitação destes relatórios”.

No entanto, em resposta contraria ao Iphan, a prefeitura informou que solicitou ao órgão a “remoção de três árvores e a poda de outras seis na Avenida Piabanha. Todos os laudos foram encaminhados em setembro para o Iphan, que ainda não emitiu parecer sobre as demandas. O serviço que é feito pela Companhia de Desenvolvimento de Petrópolis (Comdep), que aguarda autorização do Iphan para realizar o trabalho”. 

Ainda de acordo com a Secretaria de Meio Ambiente, a única solicitação por parte do órgão federal é referente ao plantio de nova muda de árvore no Palácio de Cristal. Serão plantadas três mudas em novembro, de acordo com o que foi indicado pelo corpo técnico da Secretaria e informado ao Iphan. 

A demora na autorização e execução dos projetos só fazem agravar o problema. “O ideal seria ter mais de um engenheiro florestal, para poder desburocratizar e viabilizar mais rapidamente os trabalhos de cuidado com as espécies. As árvores são seres vivos. São térmicas, protegem contra o vento. Para ter uma ideia, uma árvore é o equivalente a dez aparelhos de ar condicionado, é muito importante evidenciar a importância da sua preservação”, destacou, a engenheira. 


Inventário do Arboreto Público da cidade tem quase dois anos de atraso

A necessidade do levantamento de um Inventário arbóreo é um problema antigo no município. E chegou até a ser proposto, em 2015, pela Universidade Católica de Petrópolis – UCP, em conjunto com o – Iphan, mas até agora não foi sequer iniciado. 

Na época, a universidade passava por obras emergenciais, no campus que fica na Rua Barão do Amazonas, no Relógio das Flores. Na ocasião, o Iphan precisou intervir e notificou a instituição por haver irregularidades no projeto inicial de execução dos trabalhos. Foi aberto um processo administrativo, e a UCP propôs a título de compensação pelos danos causados, a realização de um Inventário do Arboreto Público do Centro Histórico, pelos seus alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo. 

De acordo com a UCP, somente em outubro de 2016 foi definido que a projeto seria assumido pela instituição, e desde então vem sendo realizadas reuniões com o Iphan, e a Secretaria de Meio Ambiente a fim de definir alguns aspectos do projeto, como metodologia e cronograma de realização. A demora na definição do projeto, segundo o Iphan é por causa da grande demanda de trabalhos que o órgãos tem sido submetido, e que a previsão é que até o final deste ano seja iniciado. 

A Universidade informou que apesar de, até o momento, nenhum Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) ter sido assinado, a instituição já iniciou o levantamento de algumas áreas do projeto. 








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