As festas juninas

16/06/2016 12:00

Determinadas datas, ou acontecimentos nos levam diretamente à infância. Recordo que, no meu tempo de criança, as datas que eu mais aguardava eram pela ordem de importância para mim: o dia do meu aniversário, o natal, principalmente enquanto eu acreditava na existência de Papai Noel, o reveillon, o carnaval, já que fui folião de me fantasiar, curtir os blocos de sujo durante o dia nos bondes e os bailes no clube do bairro à noite, e o dia de São João. Na minha infância a maior parte das crianças morava em casas com quintal. Minha casa tinha um quintal que eu não podia aproveitar para brincar, já que meu tio, irmão do meio de meu pai, usava-o todo como galinheiro. Porém, a casa de meu vizinho da esquerda, tinha um quintal que era quase um pequeno sítio, com diversas árvores frutíferas: sapoti, jamelão, carambola, manga e abacate. Poucas crianças, hoje, conhecem as primeiras frutas que citei.

Tenho a impressão de que passei mais tempo de minha infância na casa do vizinho, do que mesmo na minha própria casa. E, por me fartar das frutas que, como um macaco, colhia passando de galho em galho, levei algumas palmadas de mamãe por alegar não sentir fome para almoçar. E não podia negar que havia comido muitas frutas, já que o jamelão me deixava com a boca roxa. Nessa altura de minha dissertação, o leitor mais jovem que eu, e que foi criança de apartamento, há de dizer, possivelmente com uma pontinha de inveja: que infância feliz! Sim, fui muito feliz. Mas, essa onda nostálgica que me tomou de assalto de repente, é porque estamos em junho. Seu Diamantino e Dona Maria Rosa, meus vizinhos portugueses, juntamente com os filhos, Joaquim, Bernadete, (minha primeira namorada) Lúcia e Orlanda, costumavam festejar muito a noite de São João. Armavam uma imensa fogueira, na qual eu não saía de perto, já que o inverno no Rio, naquela época, era rigoroso, soltavam balões feitos por Joaquim, que era muito habilidoso e assavam batata doce ao pé da fogueira. Porém, de tudo o que eu mais gostava era a tradicional sopa de “cavalo” servida pelo casal e que consistia de rodelas de pão fresco, embebidos em vinho tinto português, quente e açucarado. E eu chegava à minha casa trocando as pernas.

O céu límpido, sem a poluição de hoje, ficava coalhado de balões com diversos feitios e tamanhos e que ainda carregavam lanterninhas. Podia-se dizer que meu Rio de Janeiro, naquela época, não era uma cidade industrializada. Os balões enfeitavam o céu e raramente causavam prejuízo. Afinal, tinha eu, ou não tinha razões de sobra para ansiar pelos festejos juninos? Mas, ao se industrializar, o Rio passou a proibir os balões. Nem sempre modernismo e romantismo podem caminhar lado a lado.

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