Atriz pornô Stormy Daniels depõe pela 1ª vez em julgamento de Donald Trump

07/maio 14:56
Por Redação / Estadão

A atriz pornô Stormy Daniels, cujo relato de um encontro sexual com Donald Trump levou ao primeiro julgamento criminal de um presidente americano, fala pela primeira vez durante um depoimento no tribunal de Manhattan nesta terça-feira, 7. Em um testemunho que já passa de duas horas, ela detalhou os encontros que teve com Trump em troca de aparecer em seu programa de televisão.

Daniels, que recebeu US$ 130 mil (R$ 454 mil) em 2016 do advogado pessoal de Trump em troca de seu silêncio, é a maior testemunha a depor até agora no caso. Seu depoimento traz à tona um escândalo que ameaçou descarrilar a candidatura de Trump e pairou sobre sua presidência, mudando o curso da política americana. Esta é a primeira vez que Daniels relata sua versão estando na mesma sala que Trump desde que sua história se tornou pública seis anos atrás.

No seu depoimento, Daniels descreveu como Trump a conquistou com uma possível ofertar de aparecer em seu programa televisivo, “O Aprendiz”. Ela o descreveu como “pomposo” e “arrogante” – e também perguntou se ele era casado. Trump, sentado a apenas alguns metros do banco das testemunhas, manteve uma expressão carrancuda durante todo o tempo, e em certo ponto pareceu murmurar um palavrão.

A atriz, que disse ter tido relações sexuais com Trump em 2006, estava vendendo essa história à imprensa uma década depois, nos últimos dias da campanha presidencial entre Trump e Hillary Clinton. Mas o advogado e conselheiro de longa data do ex-presidente, Michael Cohen, fez um acordo para enterrar a história antes do dia da eleição. O ex-presidente é acusado de falsificar registros comerciais para encobrir seus reembolsos ao advogado.

Daniels deu detalhes explícitos aos jurados sobre o encontro com Trump em um torneio de golfe em 2006 na área de Lake Tahoe, Nevada, o qual levou a um encontro sexual em sua suíte de hotel lá. Ela disse que viu Trump pela última vez durante vários encontros em 2007, quando ainda esperava aparecer em seu programa. Trump nega ter tido relações sexuais com a atriz.

Pouco antes da corte parar para um intervalo de almoço, ela falou sobre receber US$ 130 mil pouco antes das eleições de 2016 para permanecer em silêncio sobre o encontro. Daniels disse que não foi motivada pelo dinheiro.

Ela contou que tinha uma boa saúde financeira quando decidiu autorizar sua gerente Gina Rodriguez a comercializar sua história com Trump durante o ciclo eleitoral presidencial de 2016. Daniels disse que não tinha intenção de abordar Cohen ou Trump para que comprassem sua história. “Minha motivação não era dinheiro, era divulgar a história”, disse.

Inicialmente, ela não recebeu nenhum interesse de veículos de notícias. Mas isso mudou após o lançamento da fita “Access Hollywood” em outubro de 2016, um mês antes da eleição. Daniels testemunhou que soube por meio de Rodriguez que Cohen estava interessado em comprar seu silêncio. “Eles estavam interessados em pagar pela história, o que era a melhor coisa que poderia acontecer porque meu então marido não descobriria”, disse Daniels.

Esta manhã, Trump postou no Truth Social, sua rede social, uma mensagem irritada dizendo que havia acabado de saber quem seria a próxima testemunha e que seus advogados “não tinham tempo” para se preparar. Ele removeu a postagem 30 minutos depois, provavelmente porque corria o risco de ser acusado de violar, novamente, a ordem dos promotores que o impede de atacar testemunhas e outros conectados ao julgamento.

O caso

Daniels, de 45 anos, cujo nome é Stephanie Clifford e criada em Baton Rouge, na Lousiana, disse antes de seu depoimento que seu encontro com o Trump aconteceu em julho de 2006, depois de ele se tornar uma estrela de televisão com seu reality show, “O Aprendiz.”

Eles se encontraram no estande de uma produtora de pornografia, Wicked Pictures, em um torneio de golfe em Nevada, e há uma foto deles juntos. Depois, ela disse, ele a convidou para sua suíte de hotel, e eles fizeram sexo. Ele também a convidou para aparecer em “O Aprendiz,” disse ela, mas isso nunca aconteceu.

Eles se reuniram de uma maneira muito diferente em 2016. Daniels queria tornar público seu encontro com o Trump, uma revelação potencialmente devastadora para o principal candidato republicano na eleição de 2016.

Foi quando Cohen soube de sua reivindicação e correu para enterrá-la dias antes da eleição de 2016. Ele criou uma empresa de responsabilidade limitada, pegou uma linha de crédito de US$130 mil usando sua casa como garantia e enviou o dinheiro a Stormy Daniels.

Cohen ainda não depôs, mas várias testemunhas disseram que ele não é uma pessoa generosa e provavelmente não teria feito o pagamento à Daniels sem a direção e aprovação de Trump.

O pagamento em si não é ilegal, mas sim a maneira como ocorreu. Após Trump vencer a eleição e se mudar para a Casa Branca, Cohen se encontrou com o então presidente no Salão Oval no início de 2017 e pediu para ser reembolsado pelo acordo. Cheques começaram a fluir para o Cohen, que foram registrados como “despesas legais” nos livros contábeis da Organização Trump.

Os promotores dizem que o rótulo errado tinha por objetivo ocultar o acordo para manter silêncio, e eles fundamentam as 34 acusações de crime contra o Trump.

Daniels subiu ao banco das testemunhas nesta terça após Sally Franklin, uma funcionária da Penguin Random House, que leu livros escritos por Trump enquanto os promotores procuravam usar suas palavras contra ele. Ela discutiu passagens sobre como ele se concentra em detalhes minuciosos e vigia cada centavo que sai de suas contas. Na segunda-feira, duas testemunhas guiaram os jurados pelos registros financeiros que ligam o Trump ao reembolso, a maior parte do qual veio de sua conta pessoal.

O magnata republicano, que afirma ser vítima de uma “caça às bruxas”, frequenta desde 15 abril o tribunal de Manhattan, onde testemunhas esclarecem os bastidores de sua campanha eleitoral de 2016, diante do júri popular que vai decidir seu destino.

Se for considerado culpado, Trump poderá ser condenado à prisão, embora isso não o impeça de assumir a presidência do país, caso vença as eleições em novembro.

O magnata culpa seu atual rival, o presidente Joe Biden, por ter que comparecer às inúmeras audiências em vez de fazer campanha. (Com agências internacionais)

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