Auditor da Fazenda de SP combinava entrega de ‘mensalinho’ em churrascaria

07/ago 16:54
Por Pepita Ortega e Fausto Macedo / Estadão

A Polícia Federal encontrou mensagens no celular de um integrante de uma quadrilha de combustíveis adulterados que reforçam suspeitas de corrupção do auditor fiscal da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo Ricardo Catunda do Nascimento Guedes – principal alvo da Operação Barão de Itararé. Os investigadores identificaram diálogos via WhatsApp em que Ricardo Catunda combinava a entrega de propina de R$ 5 mil todo mês.

A reportagem do Estadão busca contato com a defesa de Catunda. O espaço está aberto.

A PF estima que o fiscal tenha recebido, desde fevereiro de 2023 até abril de 2024, R$ 75 mil a título de propina para facilitar o andamento de processos administrativos relacionados a postos de gasolina da quadrilha que adulterava combustíveis.

De acordo com os investigadores, a entrega de dinheiro vivo era feita pessoalmente. A PF recuperou diálogos com detalhes de encontro marcado para repasse em uma churrascaria no Jardim Anália Franco, bairro nobre da zona leste de São Paulo. Inicialmente, a entrega ocorreria em um shopping próximo à avenida Faria Lima, na capital paulista.

A medida foi autorizada no bojo da Operação Barão de Itararé que, no último dia 23, fez buscas nos endereços de Ricardo Catunda.

O auditor foi afastado do cargo por ordem judicial e entrou na mira da Corregedoria da Fiscalização Tributária, braço da Fazenda que coíbe irregularidades envolvendo fiscais.

Segundo a Polícia Federal, os diálogos entre o auditor e a quadrilha seguiam um “certo padrão”: no início de mês, Catunda entrava em contato com um integrante do grupo, propondo um ‘café’ ou um ‘almoço’.

Os investigadores apontam que a “conversa mensal” foi a forma que o fiscal e seus corruptores encontraram para a entrega da propina.

A rotina de pagamentos em dinheiro vivo para Catunda teve início, segundo o inquérito da PF, em fevereiro de 2023. Na ocasião, um contador sob suspeita de fazer parte da organização que adulterava combustíveis, Gilberto Laureano Júnior, encaminhou os dados pessoais do auditor para o empresário Bruno D’Amico, apontado como chefe do grupo.

No diálogo, o contador diz que vai se encontrar com o fiscal para acertar a autorização da abertura de um posto de gasolina.

No entanto, ainda de acordo com os investigadores, os repasses teriam começado antes, em agosto de 2022, supostamente por intermédio de Gilberto.

A PF encontrou uma conversa em que o contador diz ter entrado em contato com Catunda, que ficaria responsável pelo processo de um outro posto de combustível.

Nas mensagens trocadas entre Gilberto e Catunda, o contador informa que vai ingressar na Secretaria da Fazenda com um processo de transferência de propriedade de um posto de combustível. Ele questiona “para onde vai o processo”. O auditor responde que ficaria com a equipe dele. “Quando entrar podemos tentar pilotar”, sugere Catunda.

Segundo a PF, o auditor e seus corruptores usam o termo ‘pilotando’ para indicar que ele assumiu o processo e que “irá agir contra suas funções, para facilitar a emissão de autorização” da Secretaria da Fazenda.

O mesmo termo foi usado quando a quadrilha tratava de um segundo processo, referente a um outro posto de combustível. “Catunda pilotando. Já em andamento”, registra mensagem de um suspeito.

COM A PALAVRA, A DEFESA

Até a publicação desta reportagem, o Estadão buscou manifestação do auditor fiscal Ricardo Catunda do Nascimento Guedes e dos outros citados pela Polícia Federal, mas sem sucesso. O espaço está aberto (pepita.ortega@estadao.com; fausto.macedo@estadao.com)

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