Aumentar ou reduzir a meta de inflação não gera ganho de liberdade, diz Campos Neto

18/nov 13:25
Por Daniel Tozzi Mendes e Francisco Carlos de Assis / Estadão

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta segunda-feira, 18, que fazer alterações na meta de inflação não gera, necessariamente, ganho de liberdade para os países. “Na verdade, retira grau de liberdade, porque você só vai atuar na função expectativa para frente sem gerar nenhum ganho”, afirmou o banqueiro central durante evento da Consulting House, realizado no Insper, em São Paulo.

Na apresentação, Campos Neto pontuou que hoje cerca de 60% dos países estão com núcleos de inflação rodando acima da meta, cenário que acontece também no Brasil.

EUA

O presidente do Banco Central ainda reforçou que houve uma mudança generalizada na percepção do mundo a respeito de como será o “pouso” da economia dos Estados Unidos. “A gente tem tido uma precificação relativamente volátil nos Estados Unidos”, frisou Campos Neto.

Em relação ao cenário atual nos EUA, o banqueiro central voltou a afirmar que os debates no contexto da disputa eleitoral do país apontavam para uma pressão inflacionária à frente.

Entre os focos dessa pressão, Campos Neto citou a questão de eventuais políticas de deportação por parte dos EUA, que podem gerar pressões nos preços em todo o mundo, se de fato forem concretizadas.

“Lembrando que a imigração foi o que conseguiu fazer com que a gente tivesse essa desinflação com pleno emprego nos Estados Unidos, que é uma coisa rara de se observar, então eu acho que é importante tentar situar isso daqui pra frente”, detalhou Campos Neto.

China

Em relação à China, Campos Neto também lembrou, mais uma vez, que há muita dúvida acerca de como será o modelo de crescimento do país asiático daqui para a frente. “O consumo na China vem caindo ao longo do tempo”, frisou o banqueiro central, dizendo que esse modelo de consumo estava muito ligado ao setor imobiliário e de infraestrutura.

Para Campos Neto, o contexto demográfico na China pode ter sido um dos responsáveis pela perda de dinamismo chinês. “A China hoje tem a menor taxa de fertilidade dos grandes países. Mesmo com alguns programas que eles têm tido de incentivo, não tem tido muito efeito, o que mostra uma mudança comportamental que é mais difícil de gerir no futuro”, disse ele, acrescentando que isso também tende a ter efeitos sobre a produtividade chinesa daqui para a frente.

Transição energética

Ainda em relação aos desafios globais, Campos Neto citou novamente os custos que os países terão com a necessidade de transição energética, que serão muito mais altos do que o inicialmente imaginado.

Ele reforçou que a necessidade de transição vai gerar, obrigatoriamente, custos para empresas e governos.

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