Auxílio-doença por depressão aumenta 44,6% em Petrópolis

31/05/2019 18:25

"Quem me vê sorrindo, brincando, sempre de bem com a vida, não tem ideia da luta interior que preciso enfrentar todos os dias". O relato de um homem, com vida financeira e familiar estruturada, se mistura ao de milhões de pessoas que sofrem com a depressão. Em Petrópolis, o número de pessoas diagnosticadas com a doença não para de crescer. Segundo o INSS, os pedidos concedidos de auxílio-doença por depressão aumentaram 44,6% este ano.

Os transtornos depressivos, comumente chamados de depressão, podem provocar diversas reações. De acordo com a psicóloga Stella Kappler, a falta de concentração, fadiga, perda do desejo sexual, perda de interesse por atividades que anteriormente a pessoa fazia, desânimo, humor deprimido e insônia, são fatores que devem ser avaliados.
"Para o diagnóstico da doença, é preciso que esses sintomas estejam presentes por, pelo menos, duas semanas, e interfiram diretamente no bem-estar e nos relacionamentos interpessoais do indivíduo", explicou. 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 10% da população mundial sofre com algum transtorno depressivo. Para a especialista, o grande diagnóstico de depressão se dá pelo avanço nas pesquisas sobre a doença. "Muito do que sabemos atualmente não era ainda conhecido há algumas décadas. Hoje temos elementos conhecidos que caracterizam o que é a depressão. Para muitos, o problema parece estar relacionado apenas às demandas contemporâneas como individualismo, estresse exacerbado, cobrança por produtividade, entre outros. Entretanto, os inúmeros valores vão muito além", disse.
Stella explica que fatores genéticos e hereditários contribuem para o aparecimento da depressão e podem ser considerados predisposições. "Pessoas que têm parentes próximos com o diagnóstico da doença são mais vulneráveis a desenvolvê-la. Contudo, há também uma forte influência de fatores ambientais e sociais. Uma perda importante, como de alguma pessoa ou emprego, uma separação, se não elaboradas pelo indivíduo, podem desencadear um transtorno depressivo".

O transtorno disruptivo da desregulação do humor, transtorno depressivo maior, distimia e transtorno depressivo induzido por substância (medicamento) são alguns dos transtornos chamados depressivos. Eles se diferenciam por apresentar duração ou sintomas específicos. Além disso, quando descobertos na fase inicial, tem menos chances de evoluir para algo mais grave. O indivíduo sem tratamento pode passar de pensamentos negativos a ideações suicidas se não for tratado.

"É importante ressaltar que, quando se percebe os primeiros sintomas da doença, deve-se procurar um psiquiatra ou psicólogo. Tanto a terapia com medicamentos quanto a terapia com um psicólogo será fundamental para o enfrentamento da depressão. Essa é uma questão séria e, se não tratada, pode prejudicar a vida de uma pessoa em várias áreas, como na vida pessoal e de trabalho", concluiu a psicóloga.

Sentindo na pele

O preconceito sobre a doença impede que muitas pessoas realizem o tratamento necessário. Entretanto, para Maximiliano de Mattos, de 42 anos, essa foi uma das saídas encontradas para a constante recuperação. Casado e pai de dois filhos, o porteiro conta com todo o suporte familiar para enfrentar a depressão, que se originou após uma perda.

"Nunca esperamos que aconteça com a gente. Sempre fui brincalhão, gosto de alegrar todos os que estão em minha volta, porém, após a morte do meu pai, comecei a sentir que algo estava estranho comigo mesmo. Em alguns dias, acordava disposto. Em outros, não queria nem sair de casa. Aos poucos, outros sintomas como falta de ar e dores no corpo se tornavam frequentes. Após exames, nenhuma doença era diagnosticada. A partir desse momento, tomei a atitude de procurar um psiquiatra", contou.

No início do tratamento, o paciente logo recebeu um diagnóstico. "Eu já tinha perdido o meu pai há dois anos, entretanto, a "bomba estourou" para mim somente depois de todo esse tempo. Nesse mesmo período, perdi uma cadelinha que amava como se fosse uma filha. Foi mais um episódio terrível pra mim. Diante dessas situações, foi desenvolvido um quadro depressivo, que, aos poucos, está desaparecendo".

Mesmo diante de algumas críticas, Maximiliano permaneceu firme no tratamento com remédios, e hoje já se considera 70% recuperado. "No início escutei muitas besteiras, principalmente por ter uma fé. Na ocasião, conversei com o meu pastor, que me deu todo o suporte necessário, mas aconselhou que continuasse o acompanhamento médico. No dia, ele me disse que, seu eu tinha sido diagnosticado com uma doença, que, assim como qualquer outra, eu deveria contar com o tratamento médico também. Esse foi um dos momentos que mais me fortaleci", sorriu.

Com o apoio de amigos e parentes, o porteiro classifica "cada dia" como um novo recomeço. "Só Deus sabia a tristeza que sentia. Tinha dias que não dava vontade de rir, de brincar com ninguém. Eu queria apenas ficar isolado no meu canto. Agora, posso dizer que a cada momento é um novo desafio, que estou vendo com outros olhares, e cumprindo com excelência!", disse Maximiliano.

Auxílio-doença concedido dispara no município

Seguindo uma crescente, os pedidos de auxílio-doença por depressão concedidos em Petrópolis é 44,6% maior este ano, se comparado ao mesmo período em 2018. De janeiro a abril, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) autorizou o auxílio para 94 pessoas com a doença. No ano anterior, o número de benefícios era apenas 65. Em 2017, a quantidade de auxílios era menor ainda, sendo 62 pedidos.
Se comparado a todos as demais doenças, que totalizam 1.907 auxílios autorizados, os pedidos concedidos por depressão são equivalente a 4,9% desse total, nos primeiros quatro meses do ano.
Ainda segundo o INSS, em 2017 o número de auxílios por depressão foi de 187. Já em 2018, saltou para 230 – aumento de 23%.

"É um problema que se agrava em suas variadas esferas. O modo de vida atual contribui demais com o aumento dos casos. Entretanto, para ter acesso ao benefício, um médico especialista faz uma análise do problema, fornecendo um laudo. Não é autorizado o auxílio para a pessoa que está doente, mas para quem está incapaz de exercer o trabalho naquele momento", disse Fernando Mascarenhas, gerente executivo do INSS na Região Serrana.

Casos de suicídio

Segundo a prefeitura, no ano passado foram avaliados na Rede de Atenção Básica do Município, cerca de 231 casos codificados pelo CID- Código Internacional de Doenças (CID 10), como transtornos mentais depressivos ou que podem levar a um quadro de depressão.  Neste ano, o número chega a xxxxxx (Aguardando resposta da Vivian da Ascom).
Já o registro de casos de suicídio, nos quatro primeiros meses de 2019, foi menor do que o registrado nos últimos três anos. De acordo com a Coordenadoria de Vigilância Epidemiológica, foi registrada uma ocorrência.

Em 2016 foram registrados seis casos de suicídio; em 2017, houve três. Nos dois anos, as ocorrências foram apenas com homens. Em 2018, foram seis casos no período, sendo quatro com homens e dois com mulheres.

Ainda de acordo com o município, em todo o ano de 2016 houve 16 casos de suicídios, sendo dois com mulheres e 14 em homens; em 2017 foram 11 casos, dos quais, um com mulher e 10 homens; no ano passado foram notificados 19 casos, sendo quatro com mulheres e 15 com homens.

Nesse período, o maior registro de casos de suicídio foi entre os homens, com ocorrências em adultos, na faixa etária entre 30 e 80 anos de idade.

Assistência médica

Para cobrir o atendimento a pacientes com distúrbios psicológicos, o município conta com a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), com o serviço de urgência/emergência psiquiátrica durante 24 horas em regime de plantão no Hospital Municipal Nelson de Sá Earp (HMNSE), que dispõe ainda de 10 leitos para internação (leitos 72 horas), para casos em que é necessário um maior tempo de estabilização em pacientes que apresentem quadros psiquiátricos, inclusive depressivos graves com intenção suicida.

O município também possui outras unidades de atendimento psicossocial, sendo: Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS AD III), um CAPSi Infanto-juvenil e outros dois CAPS, um no Centro e outro em Itaipava. A rede possui ainda dois ambulatórios de Especialidades em Saúde Mental, um no Centro e outro em Itaipava.

As Unidades Assistenciais que compõem a Rede de Atenção Psicossocial contam com médicos, psicólogos, assistentes sociais e equipe de enfermagem, capacitados para atender pacientes com transtorno depressivo nos graus leve, moderado e grave, com e sem sintomas psicóticos, quadros de ansiedade, dentre outros transtornos mentais.

Já os Postos de Saúde da Família e demais unidades de saúde, realizam atendimentos para a população em geral e no caso de identificação de quadros psiquiátricos com sintomas de depressão e intenção suicida, estes são direcionados para os atendimentos especializados.

A Casa de Saúde Santa Mônica, unidade hospitalar especializada e credenciada junto ao Ministério da Saúde, presta serviços para o município, na especialidade de saúde mental. A unidade dispõe de 160 leitos para internações psiquiátricas que são controladas pelo Sistema de Regulação da Secretaria Estadual de Saúde/RJ.

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