Bancada do Podemos cobra Moro e quer prioridade na repartição do fundo eleitoral
A candidatura do ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, à Presidência enfrenta resistências nas fileiras do Podemos, e a briga, agora, é pela distribuição do fundo eleitoral. Na Câmara, a bancada do Podemos – partido ao qual Moro se filiou em novembro – reivindica prioridade sobre os R$ 228,9 milhões do fundo para as disputas deste ano, sob o argumento de que, sem recursos, os deputados correm risco de derrota nas urnas e a sigla pode até mesmo não sobreviver.
O Podemos tem apenas 11 deputados federais e conta com um fundo eleitoral menor do que o dos concorrentes, como PL, PT, PSDB, MDB e PDT.
O tamanho da bancada também tem impacto no tempo de propaganda de rádio e TV. Enquanto a maior parte dos principais candidatos terá direito a 20 minutos semestrais de propaganda partidária, o ex-ministro da Justiça ficará com apenas 10 minutos em razão do tamanho do Podemos.
Líder do Podemos na Câmara, o deputado Igor Timo (MG) disse que não faz sentido focar os repasses do partido para a campanha presidencial em detrimento da eleição no Congresso. “A gente sabe que é um cobertor curto, não tem como fazer mágica. Mas não adianta também custear integralmente uma campanha presidencial e o partido deixar de existir. Se não tiver deputado, como vai se manter?”, questionou Timo.
Apesar de destacar o apoio a Moro, o líder do Podemos lembrou que o valor do fundo para as campanhas é calculado com base no número de deputados federais eleitos. “É natural que quem precise do fundo possa, de fato, reivindicar algum montante referente ao que ele mesmo gerou para o partido”, disse o deputado, ao argumentar que o ex-juiz pode compensar a barreira financeira atraindo doações de pessoas físicas. Na prática, quem define como será distribuído o recurso do fundo eleitoral é a cúpula da sigla.
Desde 2015, as doações de empresas são proibidas, mas as transferências de pessoas físicas estão liberadas. “A campanha do Moro tem condição natural de arrecadar recursos. Tem muita gente que enxerga no Moro uma possibilidade real, inclusive nós, de uma mudança para o cenário nacional, para o País mais equilibrado. Muitas pessoas contribuem nesse sentido”, afirmou Timo.
A possibilidade de Moro deixar o Podemos e migrar para o União Brasil – partido que será resultado da fusão entre o DEM e o PSL – vem sendo discutida, mas também enfrenta dificuldades. “Tem muita coisa ainda para se discutir. A gente está vendo esse ‘approach’ que tem sido feito pelo União Brasil na busca do Moro, oferecendo condições que talvez o Podemos não tenha”, observou o líder do Podemos na Câmara.
O PSDB do governador de São Paulo, João Doria, e o MDB da senadora Simone Tebet (MS), ambos candidatos à Presidência, fizeram uma ofensiva sobre o União Brasil e começaram a discutir a possibilidade de montar uma federação entre as três legendas, mas a hipótese é vista como improvável. O modelo de federação obriga os partidos a ficarem juntos e se manter aliados em eleições durante quatro anos.
Pacote
O presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), disse ao Estadão que “há tempos” tem conversado sobre o assunto com o PSDB e o MDB. Escolhido para comandar o União Brasil, Bivar afirmou que Moro poderá fazer parte desse grupo. Não indicou, porém, que ele terá prioridade sobre os demais concorrentes.
“A gente (União Brasil e MDB) já vem conversando há algum tempo. Não temos um candidato no momento; a gente vai discutir os nomes. Tem o PSDB também. O Moro, se quiser, pode entrar nesse pacote”, comentou Bivar.
Na prática, a federação vai muito além de uma aliança presidencial e precisa ser reproduzida em eleições para governadores e prefeitos, sempre por no mínimo quatro anos. Alas do MDB apoiam a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nesta lista estão o senador Renan Calheiros (AL), o ex-senador Eunício Oliveira (CE), o ex-presidente José Sarney e muitos diretórios do partido no Nordeste.
Além disso, no Distrito Federal, o governador Ibaneis Rocha (MDB) é adversário do PSDB e deve enfrentar nas urnas o senador tucano Izalci Lucas. Outro complicador é que o próprio Ibaneis planeja abrir o palanque para o presidente Jair Bolsonaro (PL). “Não acredito que aconteça (a federação). São muitas divergências nos Estados”, disse Ibaneis ao Estadão.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve confirmar a existência do União Brasil nesta terça-feira, dia 8. “Entrando nesse processo, a gente zera tudo”, disse Bivar, para quem as discussões sobre candidatura presidencial começarão a tomar forma no novo partido a partir de março.
De qualquer forma, a candidatura de Moro também não é unanimidade no Podemos, tanto que uma parte dos deputados do partido não esconde a simpatia por outros presidenciáveis. É o caso de Bacelar Batista (BA), que apoia Lula; e de José Medeiros (MT) e Diego Garcia (PR), que defendem a reeleição de Bolsonaro.
Garcia já anunciou até mesmo que vai sair do Podemos. Medeiros, por sua vez, postou uma mensagem no Twitter, no dia 24 de janeiro, dizendo que “com a possível ida do ex-ministro Sérgio Moro para o UB (União Brasil), a presidente Renata se credencia como uma importante candidata a vice do presidente@jairbolsonaro”.
Moro não é o único que sofre oposição dentro do próprio partido. Doria também tem adversários no PSDB. O caso mais recente foi protagonizado pelo senador Tasso Jereissati (CE), que tem reiterado apoio a Tebet. Na quinta-feira (3), o senador esteve com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e disse a ele que a senadora não tem rejeição e é capaz de unir forças.
O problema é que o nome de Tebet também não tem consenso no MDB, tanto que setores do partido querem apoiar Lula logo no primeiro turno. O pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, é outro que vê crescer no partido dissidências pró-Lula. Mesmo após o lançamento da candidatura de Ciro, no último dia 21, parte dos deputados e senadores do PDT ainda manifesta incômodo com a estagnação do ex-ministro nas pesquisas de intenção de voto.
Procurada, a assessoria de Sergio Moro respondeu que não ia comentar e que o assunto diz respeito ao partido. A presidente do Podemos, Renata Abreu, não retornou os contatos da reportagem.