Barulho nos arredores do aeroporto de Congonhas diminuiu? Entenda mudanças nas rotas dos aviões

17/jul 12:12
Por José Maria Tomazela / Estadão

O barulho dos aviões que incomoda os moradores da vizinhança diminuiu no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Pequenas mudanças nas rotas de aproximação das aeronaves e técnicas de voo já resultaram em redução de 15,18% na área coberta pelas curvas de ruído, segundo avaliação da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeronáutica (Infraero). No caso da faixa de ruído de 65 a 70 decibéis – o ruído mais elevado -, a redução chegou a 20%, segundo a Força Aérea Brasileira (FAB).

Os dados são dos anos de 2022 e 2023 até outubro. As curvas representam geograficamente a área impactada pelo ruído emitido pelas aeronaves. Associações de moradores do entorno de Congonhas, no entanto, dizem que não foi sentida qualquer melhora no nível de ruído dos aviões.

Conforme a FAB, ao longo dos últimos anos, o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) vem adotando iniciativas que minimizam os impactos do ruído aeronáutico nos arredores de aeródromos, bem como a emissão de poluentes. Entre elas, está a nova reorganização da estrutura de rotas do espaço aéreo em São Paulo, incluindo os aeroportos de Congonhas, Guarulhos e Campinas.

Conhecida pela sigla TMA-SP -Neo (Nova Terminal de São Paulo), a medida melhorou a confluência das rotas nas imediações desses aeroportos. As aeronaves, agora, seguem rotas mais curtas e diretas para seus destinos, sobretudo em relação às aproximações, diminuindo o tempo de voo.

Segundo a FAB, os percursos menos longos implicam em redução no consumo de combustível e na emissão de gases poluentes. “A técnica de subida contínua, sem qualquer tipo de voo nivelado durante o percurso, possibilita menor uso da potência dos motores, o que se traduz em eficiência e redução de impacto ambiental”, disse a força.

O replanejamento das rotas de decolagem, especialmente da pista 17 do aeroporto de Congonhas, possibilitou a aplicação do conceito de subida contínua, com menor impacto sonoro. O terminal possui duas pistas paralelas, a 17 R, com 1.940 metros de extensão, e a 17 L, com 1.345, ambas com 45 metros de largura.

Desde o ano passado, a Infraero vem discutindo possíveis ações por meio de um grupo de trabalho, em conjunto com as empresas aéreas e órgãos do setor, para reduzir e mitigar o ruído das operações no aeroporto de Congonhas. Uma das ações foi a realização de testes com procedimento de navegação aérea do menos ruído em decolagens. Os testes consistiram na realização de decolagens com procedimento de baixo ruído e saídas padrão por instrumento, com as aeronaves partindo da cabeceira 35.

Foram instaladas estações de monitoramento de ruído em pontos estratégicos dos bairros Indianópolis, Itaim e Vila Nova Conceição para captar os níveis de barulho durante o sobrevoo de aeronaves.

Associações de moradores do entorno questionam

Em 2023, o Aeroporto de Congonhas recebeu 22 milhões de passageiros, tendo realizado 231,8 mil movimentos de aeronaves. Desde outubro do ano passado, o aeroporto é administrado pela concessionária Aena Brasil, do grupo espanhol Aena, que já anunciou investimento de R$ 2 bilhões para melhorar a infraestrutura. Entre as melhorias, está prevista a construção de um novo terminal de passageiros, mais pontes de embarque e ampliação dos espaços comerciais.

O possível aumento no número de operações preocupa as associações de moradores do entorno. Entidades como a Associação Viva Paraíso, Associação de Moradores da Vila Nova Conceição, Associação do Jardim Novo Mundo e Associação dos Moradores do Entorno do Aeroporto de Congonhas estão mobilizadas pela redução do barulho causado pelos aviões.

De acordo com o presidente da Viva Paraíso, Marcelo Torres, ainda não foi sentida qualquer melhora no nível de ruídos emitidos pelos aviões. “Falamos com outras associações e não houve melhora. São 12 associações de moradores no entorno de Congonhas impactadas”, disse.

Segundo ele, foram realizadas audiências públicas na Assembleia Legislativa e na Câmara de Vereadores, mas a situação se mantém. “Além do barulho, como os aviões passam em voo baixo, há também o impacto dos resíduos do querosene, o que afeta inclusive o Parque do Ibirapuera. Já pedimos que fosse feita uma medição, porque achamos que o ruído está acima do permitido. A principal reivindicação é de que os aviões voltem a fazer as rotas originais, em curva, evitando os bairros mais adensados”, disse.

Conforme a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o ruído aeronáutico é oriundo das operações de circulação, aproximação, pouso, decolagem, subida, taxiamento e teste de motores de aeronaves. É um ruído intermitente ou não estacionário, com elevados níveis sonoros em sua fonte, podendo causar efeitos adversos sobre a população exposta a níveis excessivos desse tipo de ruído.

Em nota à reportagem, a agência informou que o Aeroporto de Congonhas possui Plano Específico de Zoneamento de Ruído (PEZR) regularmente registrado junto à Anac. “Cabe destacar que o plano é um planejamento elaborado pelo operador do aeroporto em cumprimento às orientações do RBAC (Regulamento Brasileiro de Aviação Civil) nº 161, sendo posteriormente submetido a registro junto à Anac, sendo que o monitoramento contínuo do zoneamento de ruído em uma área urbana é uma atribuição dos órgãos competentes da administração municipal”, disse.

A Anac estabelece ainda que aeródromos com grande movimentação, como é o caso de Congonhas, devem instituir uma Comissão de Gerenciamento de Ruído Aeronáutico (CGRA) para discutir a elaboração, atualização e implementação do PZR, bem como ser um fórum colaborativo com vistas a estudar, propor e implementar, no seu âmbito de atuação, medidas para mitigar o impacto do ruído aeronáutico no entorno do seu aeródromo.

Ainda segundo a agência, a reorganização do espaço aéreo e outras medidas operacionais relacionadas à aproximação e decolagem são questões frequentemente debatidas e monitoradas pela CGRA do aeroporto de Congonhas. “Isso é resultado de um esforço conjunto de todos os representantes envolvidos”, afirmou.

A Aena Brasil informou que as informações sobre a redução nas curvas de ruído foram fornecidas pela FAB, responsável pela organização do tráfego aéreo em todo o País.

Últimas