‘Beau tem Medo’, uma reflexão sobre receios e perigos

03/05/2023 08:19
Por Matheus Mans / Estadão

Mesmo tendo apenas dois filmes no currículo, Midsommar e Hereditário, o cineasta Ari Aster já é daqueles nomes que contam com fãs fervorosos e detratores que não o deixam em paz. Na internet, reclamam que o americano é pretensioso demais, que não tem voz própria, que seu cinema é cansativo. É curioso imaginar tudo o que vão dizer sobre o cineasta com Beau tem Medo, seu filme mais desconfortável, em cartaz nos cinemas.

O longa-metragem é, sem dúvida, o projeto mais íntimo e pessoal de Aster, além de ser o mais arriscado. Afinal, é inspirado em um curta por ele lançado em 2011 e que conta com a semente dessa história. Aster já disse que era o projeto de que mais gostava, mas acabou fazendo outras coisas – lembrando até mesmo a história de Damien Chazelle, que fez Whiplash para provar que poderia comandar um filme do calibre de La La Land.

Além disso, Beau tem Medo não é apenas o filme mais caro da carreira do cineasta (US$ 48 milhões de orçamento), mas também o maior investimento da A24, produtora responsável por todos os seus títulos. Ele chega, assim, com a responsabilidade de se sair bem nos cinemas, bem melhor do que faturou em seus outros filmes (US$ 82 milhões com Hereditário e US$ 48 milhões com Midsommar, que custaram US$ 10 milhões).

Não é tarefa fácil, ainda mais sendo um filme completamente fora dos padrões: ele coloca o espectador em um pesadelo – o pesadelo do protagonista da história, Beau (Joaquin Phoenix, de Coringa). Ele é um homem que parece fracassado, vivendo já sua vida adulta em um quarto e sala, aparentemente na pior região da cidade, com pessoas violentas por perto e sem perspectivas.

Mas as coisas ficam ainda piores quando ele recebe uma notícia devastadora e, de uma hora para a outra, precisa deixar seus medos de lado para encontrar sua mãe, em uma região mais abastada e afastada. Nessa jornada, ele mergulha nesse mundo em que seus pesadelos tomam forma. É como se fosse a Jornada do Herói banalizada, enfraquecida.

Comédia

Em entrevistas, Ari Aster não tenta explicar o que deseja passar. Há momentos em que a história mais parece comédia do que terror. Mas ele expôs seus medos na tela. Por exemplo: Beau começa a tomar um novo medicamento, que o deixa paranoico. Será que há risco de morrer com a pílula que acabou de ingerir? Quais os efeitos colaterais? “Tenho medo de remédios. Provavelmente vem das vezes em que tomei antibióticos e vivi um ataque de pânico com os efeitos colaterais. As coisas podem dar errado”, explica o cineasta à IndieWire.

Com isso em mente, o filme fica absolutamente íntimo. Beau não é Ari, mas dá para captar seus medos e reflexões. Na tela, há medo do que há “lá fora”, medo de decepcionar, medo de dizer não. Há também uma boa dose de Complexo de Édipo, representado por um monstro que vai fazer as salas de cinema explodirem em gargalhadas e reclamações silenciosas (ou não) do que tem na tela. No final, resta a Aster saber a recepção do filme. “Não sei o que as pessoas vão pensar, mas é o filme que mais me orgulho de ter feito.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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