Belgrano conscientiza torcedores sobre racismo em campanha antes de jogo contra brasileiro

02/abr 12:19
Por Estadão

O Belgrano, time argentino adversário do Internacional na estreia da Copa Sul-Americana, preparou uma campanha antirracista antes do começo da competição continental. Os últimos duelos entre clubes dos dois países foram marcados por flagrantes casos de racismo por parte dos argentinos contra os brasileiros.

Na campanha, o Belgrano utilizou um ator que interpreta Manuel Belgrano, político e militar que inspira o nome da equipe. Ele foi fundamental na independência da Argentina, além de ser o criador da bandeira do país, ainda no século 19. Segundo a Biblioteca Nacional de Maestros y Maestras, especializada em educação e pedagogia na Argentina, Belgrano foi um defensor da educação pública e inclusão de mulheres no sistema educacional.

“Não busco glória, mas a união dos povos americanos”, cita o post do Belgrano. O texto ainda fala que “na América do Sul, somos irmãos”, enfatizando um ideal do homenageado pelo clube para pedir que se “diga não ao racismo” antes da estreia diante dos brasileiros.

A iniciativa não é solitária. A “Los Piratas Celestes de Alberdi”, organizada do Belgrano, também fez manifestações antirracistas. O bairro de Alerdi não só é a sede do clube, como também é um dos lugares da cidade de Córdoba com grande herança de povos originários argentinos, reconhecido pelo Instituto Nacional de Assuntos Indígenas (semelhante a Funai, no país vizinho) e abriga imigrantes de Bolívia e Peru.

“Vamos receber e visitar equipes e torcedores de outros países e culturas. Nós, dos Piratas Celestes de Alberdi, queremos sensibilizar e unir todo o povo pirata contra o racismo, a xenofobia e todo tipo de discriminação. Porque o nosso clube é um sentimento popular. Porque Alberdi são os povos originários, imigrantes, estudantes e trabalhadores”, diz o texto da torcida, que conclui: “Por identidade e história, dizemos ‘não’ ao racismo, xenofobia e qualquer tipo de discriminação”.

A temática do racismo gerou tensões entre brasileiros e argentinos nos últimos confrontos pelas competições continentais. Em outubro, quando o Boca Juniors visitou o Palmeiras pela semifinal da Libertadores, o entorno do Allianz Parque amanheceu com uma série de mensagens em resposta ao racismo sofrido pelos torcedores brasileiros no confronto de ida, em Buenos Aires. A frase “fogo nos racistas” foi escrita no asfalto, na entrada do setor visitante do estádio, na Rua Padre Antonio Thomaz.

Dois meses antes, um torcedor e um dirigente do San Lorenzo chegaram a ser presos por atos racistas praticados no MorumBis durante a partida contra o São Paulo pela Sul-Americana. O dirigente foi filmado mostrando uma imagem de macaco no celular. O torcedor fez gestos do animal e jogou uma banana em direção a um são-paulino negro e menor de idade.

No mesmo mês, corintianos sofreram com racismo em Rosário, na Argentina, quando foram enfrentar o Newell’s Old Boys, também pela Sul-Americana. Gritos de “mono” (macaco, em espanhol) foram entoados na arquibancada da casa. Na fase de grupos, o clube argentino já havia sido punido pela Conmebol com multa de US$ 100 mil (aproximadamente R$ 490 mil) por insultos do mesmo teor contra santistas.

Quando o Fluminense foi a Buenos Aires para enfrentar o River Plate, na fase de grupos da Libertadores em que terminou com o título, novas imitações de macaco foram registradas. Na mesma rodada, um ônibus do Inter foi apedrejado em Montevidéu, onde o clube enfrentou o Nacional. A ação também teve insultos racistas.

Ainda em 2022, torcedores do Ceará sofreram com discriminação quando foram a Avellaneda, bairro de Buenos Aires, para enfrentar o Independiente pela Copa Sul-Americana. O caso foi um mês depois de um torcedor do Boca Juniors ser preso em flagrante na Neo Química Arena por racismo. Ele foi liberado sob fiança de R$ 3 mil.

O artigo 15 do Código Disciplinar da Conmebol aborda casos de discriminação praticados por jogadores e outros funcionários de clubes, prevendo a suspensão por dez partidas ou período mínimo de quatro meses. As penas são o dobro do que era previsto no antigo código, de 2022. No mesmo artigo, o texto trata dos atos discriminatórios praticados por torcedores. A multa mínima aos clubes é de US$ 100 mil (R$ 504,97 mil), três vezes o valor da antiga regra.

Belgrano e Inter jogam no Estádio Mario Alberto Kempes, nesta terça-feira, às 19h. As equipes estão no Grupo C da Sul-Americana, que também conta com Delfín-EQU e Real Tomayapo-BOL.

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