Besteirol da humanidade

06/12/2017 12:00

É o humor que tudo diz. Sem ele, a vida seria muito chata. Através do humor as paixões sobem à tona, são atingidas em cheio; curtas frases, magníficas e talentosas charges, divertem ou irritam os atingidos, porém desarmam os espíritos diante da forma (ou da fôrma?) e da abordagem simples e objetiva. Humoristas de todo o mundo rabiscam e escrevem sobre tudo e quando existe democracia plena, nada há por reclamar mas em regimes de exceção e radicalismos extremos, o humor é perseguido, empastelado, agredidos os autores, encarcerado o espírito crítico e lúcido.

A lucidez do humor vergasta e fere contundentemente as ações humanas desassociadas da melhor lógica ou dos mais rígidos preceitos reguladores da vida social, alguns deles partidos de mentes obtusas no pleno exercício paridor de leis.

O humor é tão forte, como crítica à sociedade, que muitos atingidos, sem capacidade de assimilar e aproveitar o ensinamento, recorrem à força bruta, ao terror, ao crime nefando contra a vida, violentam os humoristas, almas puras e justas, que sobem montanhas com sapatilhas de balé, rindo do frio que abre sulcos nas solas ressequidas de seus pés.

Resolvi, pelo humor, tratar de um tema recorrente em nossa política e que subiu a patamares nacionais, tal o ridículo do feito.

Pois foi assim que jamais aconteceu: em uma cidade interiorana de um país de tamanho continental, fundada por um rei João II e batisada Joãolópolis, uma esclarecida reunião de edis resolveu ajudar os pobres e necessitados. O mote foi o comportamento estratégico das mulheres que estavam perdendo uma de suas principais armas de atração, a beleza física, antes sugerida por mil e uma artimanhas da moda no vestir, ao banalizarem o nudismo e andarem por ai como Deus as criou. Na tentativa de recuperarem o tesão antigo dos machos, inventaram a exibição de uma das alças do sutiã, para antevisão de esquecidos paraísos pelos caras metades. Virou moda e ninguém mais esconde a alça e todo homem olha. Se olha.

Pois, então, um edil propôs a criação de um concurso para eleger a alça de sutiã mais atraente, destinado às mulheres funcionárias públicas, com periodicidade anual, desfiles e tudo o mais de um concurso de beleza.

Um engraçadinho batizou a vencedora de “Miss Alça” e o edil autor do projeto de “mala sem alça”!

O projeto passou pelas comissões, pelos pareceres, pela discussão em plenário, acorde do presidente do legislativo, criação de lei pelo prefeito municipal, publicação no diário oficial e noticiário remetido para a imprensa, no papel e virtual.

Foi aí que a coisa pegou. A imprensa é esperta e logo alguém proferiu sobre o feito o termo adequado: ridículo!

Caiu no samba vertiginoso da comunicação como uma bomba.

Vieram as explicações e, como principal, a santa intenção de criar uma nova forma de ajudar os necessitados. E, até, interessar os grandes promotores de concursos de beleza na adoção de um “Miss Sutiã Universal”.

Mas o imbroglio não terminou por aqui.

O planalto central estuda a possibilidade de criar o mesmo concurso para as ministras, senadoras e deputadas, desfilando em todo o país com polpudas verbas para as campanhas eleitorais de 2018, desde que elas votem na reforma da previdência.

Entusiasmada com o concurso certamente estará a temerosa linda ministra, que hoje recebe salário de mais de trinta mil, e quer mais de sessenta mil, aflita com a perspectiva de estar recebendo ganhos da escravidão. E não precisa exibir as alças de seu sutiã porque, naqueles idos das fazendas, o tipo usual de sutiã era privilégio das senhoras de engenho.

A cidade de veraneio Joãolópolis honra o país e o mundo com sua sapiência política e prepara reivindicação ao título de Patrimônio Besteirol da Humanidade.

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