Bilhete premiado

08/03/2018 12:50

“Se a pessoa não tiver sorte, poderá morrer engasgada com o palito do picolé”- (Nelson Rodrigues). Se talento é importante, sorte é fundamental. Conheço uma infinidade de pessoas talentosas na área da literatura e das artes, em geral, que não conseguiram atingir o estrelato. Não conseguiram escrever seus nomes nos luminosos das marquises. Porém, em caso inverso, determinado anônimo e sem padrinho, consegue fazer sucesso em sua primeira tentativa. Este foi o caso de Geovani Martins, um favelado, morador da Rocinha. Conseguir escrever um livro, foi o primeiro passo. Conseguir publicá-lo, foi o segundo. Conseguir ser lido por alguém com capacidade de ajudá-lo, foi fundamental. 

Ou seja, comprou um bilhete premiado. Em minhas andanças pelo meu Rio (ruas becos, esquinas) conheci muita gente de valor. Para exemplificar, cito Joel França, um cantor. Voz portentosa, dicção, interpretação e ritmo perfeitos e, para completar, grande empatia com o público. Até hoje, não conseguiu gravar um disco sequer. Assim, como Joel, na música, existem milhares de pessoas em outras áreas que não conseguiram o sucesso. Nem por isso, entendo que devam desistir de tentar. A esperança, como dizem, é a última que morre. Entretanto, Geovani Martins, como citei, não é uma exceção. Existem muitos casos de estouro na primeira tentativa e o que decide é o fator sorte. “O favelado cria e consome como qualquer outra pessoa do planeta.

 E quando digo consome, não me refiro apenas a marcas internacionais, do tipo Nike, Adidas, Black Label, Sony e Microsoft, não. Falo também da cultura pop que faz a cabeça dos jovens do mundo todo, os filmes e as séries de sucesso mundial que bombam nas telas das smart TVs de meus amigos. Shakespeare, Frida, Kahlo e Machado de Assis também encontram seus públicos por becos e vielas”. “Geovani diz que o desespero o motivou a escrever. 

Estava desempregado, sem profissão e sendo obrigado a mudar-se de casa. Optou pelo certo, enquanto outros caem em depressão e escolhem caminhos tortuosos e degradantes. “O sol na cabeça”, título de seu livro de estreia, conseguiu ter leitores iniciais famosos do tipo Chico Buarque, João Moreira Salles e Fernando Meirelles, entre outros. Já foi vendido, até o momento para nove países e seus direitos foram vendidos para o cinema. E como foi que eu cheguei, a saber, de tudo isso? Através de uma extensa e completa matéria, publicada e ilustrada numa revista de expressão e grande tiragem. Portanto, amigos, vamos expor nosso corpo e descobrir a cabeça. Afinal, o sol nasce para todos.

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