Biólogo alerta para cuidados com a fauna na hora de podar árvores, especialmente na Primavera

15/09/2019 14:21

Neste ano, mais de 270 árvores passaram pela vistoria técnica da Secretaria de Meio Ambiente em áreas particulares e públicas na cidade. Nos primeiros sete meses deste ano, 152 receberam poda e outras 51 precisaram serem removidas. O trabalho é necessário para manutenção do arboreto, mas, por outro lado, coloca em evidência a necessidade de cuidado com a fauna que utiliza esses espaços para reprodução. Próximo à primavera, período em que há maior sazonalidade para algumas espécies de aves se reproduzirem, a atenção para execução do trabalho deve ser redobrada, segundo especialistas. 

Em Petrópolis, são contabilizadas 422 espécies de aves no levantamento do Wikiaves. Os dados que são registrados pela sociedade civil em geral, pode ser ainda maior, se forem acrescidas algumas espécies que não são vistas em áreas urbanas e que não foram consideradas por meio de um levantamento científico. No ambiente urbano, são vistos hoje, principalmente pardais, rolinhas, bem-te-vis, siriris, corujinhas-do-mato, sanhaços, saí-andorinhas, beija-flores e saíras. Muitas colocam seus ninhos em árvores e todas são nidícolas, ou seja, permanecem no ninho após a eclosão, como explica o biólogo Vitor Ferreira, representante do Instituto Pé de Planta.

Incontáveis vezes, somente durante a poda é que é notada a presença de pássaros nos ninhos. “Ao podar uma árvore, o profissional está naquele momento preocupado com a própria segurança, com a segurança dos transeuntes e com a dinâmica do serviço para que tudo corra bem. Porém, existe mais um item que passa despercebido: a fauna”. O biólogo frisa que a preocupação com as espécies que vivem no local deve ser anterior à poda, na avaliação para o trabalho de manutenção do arboreto. 

E por ironia, o que falta é exatamente observação, mas por parte dos órgãos públicos ou de serviços. Ao se deparar com uma ave caída, a pessoa que a encontra deve avaliar os riscos: se não há carros passando por perto, predadores (gatos e cães), se está ou não machucada e, principalmente, se os pais estão por perto, frequentemente estão”. O animal deve ser colocado em um local seguro e deve ser alimentado pelos pais, porque possivelmente está aprendendo a voar e teve as aulas interrompidas, como explica o biólogo. 

“Em caso de aves machucadas ou em risco iminente, deve-se encaminhar ao CETAS, sendo obrigação da Secretaria de Meio Ambiente fazê-lo, lembrando que pela Lei n.º 5.197/67 a fauna silvestre é tutelada pelo Estado e o município é o representante do Estado no território”, frisa. A vistoria no arboreto da cidade é feito por biólogos e engenheiros florestais do quadro técnico da Secretaria de Meio Ambiente, segundo a Prefeitura, com o objetivo de verificar o estado fitossanitário das mesmas. Mas a poda e o corte é feito pela Companhia Municipal de Desenvolvimento de Petrópolis (Comdep). 

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Segundo a Prefeitura, no laudo elaborado pelos técnicos existe a recomendação para que o corte ou a poda não sejam realizados caso seja identificado abrigo ou ninho, em período reprodutivo, até que aconteça a debandada dos animais. A ideia é preservar os ovos até que os animais possam se desenvolver para abandonar o ninho.

Em julho deste ano, foi concluído o Inventário do Arboreto Público do Centro Histórico de Petrópolis. O estudo foi feito pela Universidade Católica de Petrópolis, em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Secretaria de Meio Ambiente. Foram catalogadas 2.395 árvores de 16 ruas do Centro. O levantamento além de contribuir para a preservação do patrimônio arbóreo da cidade, tinha o objetivo de contribuir para o trabalho de manutenção do arbóreo de uma região importante da cidade. No entanto, segundo a Prefeitura, a Secretaria de Meio Ambiente ainda não recebeu o estudo. 

Para evitar os prejuízos à fauna que depende desses locais para reprodução, o biólogo frisa que é importante que seja feita a vistoria e o acompanhamento desse arboreto. “Na vistoria o profissional vai verificar quais apresentam ninhos e quais não apresentam, e fazer um cronograma de ação otimizando a rota do carro e equipe destinados para esse fim. O mesmo pode ser aplicado para a empresa responsável pela rede de energia elétrica e transformadores. Esses últimos locais são excelentes para a nidificação de bem-te-vi. É importante lembrar que a checagem pode ser feita com uma semana de antecedência, para verificar os ninhos que estão no início e os já formados, programando a poda das árvores ou manutenção da rede fora do período reprodutivo da espécie”, completa Vitor.

 

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